5 de dez. de 2013

Atividade extraescolar, seu filho precisa?



As atividades extraescolares têm aproveitado, cada vez mais, a brecha deixada pela sobrecarga de tarefa dos pais, escassez de ajuda doméstica e falta de espaço público e segurança (só para citar alguns exemplos) e se transformado num grande negócio. Um negócio que vende a ideia de que a criança precisa descobrir potencialidades, aprimorar habilidades e adquirir conhecimentos para estar mais preparada para enfrentar o mundo competitivo. De fato, a criança precisa de todos estes recursos, e é por isto que estas atividades são tão atraentes. Elas vão de encontro com a demanda de muitos pais que buscam freneticamente suprir as necessidades do filho para que ele seja completo e não fique em desvantagem. Um modelo perfeito nos mundo dos negócios, mas delicado sob o ponto de vista emocional, especialmente no que tange às crianças pequenas, que ainda estão no ensino infantil.
Para não cair nas armadilhas do consumismo, precisamos, em primeiro lugar, lembrar que uma atividade extraescolar não pode, em hipótese alguma, ocupar o lugar da brincadeira e do descanso da criança. Através do brincar a criança expressa sua criatividade, elabora conflitos e aprende a lidar com a realidade (interna e externa). Através do brincar a criança descobre potencialidades, aprimora habilidades e adquire conhecimentos, o que nem sempre é conseguido através das atividades extraescolares, mesmo que elas tenham caráter lúdico ou recreativo. Isto porque nem sempre a atividade consegue ir de encontro com a necessidade que a criança tem naquele momento.
Quando o tempo para brincar e descansar estão garantidos, pode-se pensar em uma (ou mais) atividade extraescolar. Contudo, antes de agendá-la, é fundamental avaliar de quem é a necessidade daquela atividade, dos pais ou da criança? Não é incomum os pais quererem propiciar ao filho a oportunidade de fazer uma atividade que não puderam fazer na infância, ou uma que gostavam tanto (e às vezes ainda gostam), que imaginam que seu filho irá gostar também. Há situações em que um determinado hobby é “tradição de família” e os pais sentem-se na obrigação ou têm o desejo de perpetuá-lo (como a prática de algum esporte ou instrumento musical). Também, é frequente ver pais que preferem que seus filhos se ocupem com atividades dirigidas e/ou com pessoas que julgam ser mais capacitadas para estar com a criança do que cuidadores domésticos. Muitas vezes, atividades regradas demais, especialmente para crianças menores de seis anos, são difíceis de serem seguidas e professores podem ser menos habilidosos e carinhosos com a criança do que uma pessoa sem formação, mas que cuida e brinca bem. Cuidado: o interesse dos filhos nem sempre é o mesmo interesse dos pais e a necessidade de uma pessoa pode não ser a necessidade de outra. Por isto, para que a atividade escolhida seja uma rica experiência para a criança, é importante:
1)  Questionar quais os benefícios que a atividade poderá trazer à criança, levando em conta sua idade e personalidade. Algumas atividades não são indicadas para crianças muito pequenas (mesmo estando à venda no mercado infantil) porque exigem mais do seu desenvolvimento físico e/ou emocional é capaz de responder. Por esta razão, é interessante avaliar alternativas que tragam benefícios idênticos ou similares para a criança (se o objetivo é uma atividade física para gastar energia, talvez uma quadra com outras crianças supra a necessidade de uma aula formal de esporte; se o objetivo é estar com outras crianças, uma opção é brincar com colegas da escola fora do período escolar).
2)  Averiguar o interesse da criança pela atividade. Ela viu/experimentou a atividade em algum lugar e que conhecer melhor? Ela tem demonstrado interesse por algum assunto em especial, como pintura, que poderia justificar sua inscrição em aula de arte?
3)  Não fazer comparações – as crianças são diferentes umas das outras, têm ritmos, necessidades e interesses distintos. Não é porque os amigos da escola fazem determinada atividade que seu filho também tem que fazer. Uma criança que brinca em seu tempo livre e que não faz nenhuma atividade fora da escola não é uma criança pouco investida, desinteressada ou atrasada; ao contrário, é uma criança que consegue, através da brincadeira, suprir suas necessidades físicas e afetivas (em alguns casos até mais do que uma criança que tem a agenda lotada sem tempo para brincar e descansar, o que não é incomum entre as crianças cujas famílias têm maior poder aquisitivo e menos tempo disponível para estar com os filhos).
4)  Avaliar a disponibilidade financeira e logística da família para a viabilização da atividade.
5)  Pesquisar pelo menos duas opções de atividade com o mesmo propósito e pelo menos dois locais que oferecem tais atividades. É interessante que os pais façam uma pré-avaliação (buscando indicações, conversando com os profissionais, visitando o local) antes de apresentar as possibilidades ao filho. Feita a pré-seleção, a criança deve poder experimentar algumas aulas antes de sua matrícula ser efetivada. Nos momentos de experimentação é interessante a presença do pai ou mãe (a escolha de atividades, com raríssimas exceções, é tarefa dos pais) para que eles possam avaliar o ambiente, a habilidade do professor com seu filho e as outras crianças, o grau de interesse e envolvimento do filho (muitas vezes a criança não quer participar da aula, mas quer assistir e voltar a assistir – esta avaliação deve ser feita com o professor e também com a criança sobre o quanto participar, num primeiro momento, pode ser apenas olhar).
As atividades extraescolares podem trazer muitos benefícios para a criança e a família, mas pode ser um perigo quando ela acontece num momento e de uma maneira que não são os melhores para a criança. Por isto, não basta escolher uma atividade extraescolar para o filho; é necessário acompanhar seu interesse e desempenho, sempre. Fazer por fazer não melhora competência. O ganho só é obtido quando a experiência propiciada pela atividade vai de encontro com as demandas da própria criança, quando o olho dela brilha antes, durante e depois da aula, de satisfação. Fique atento.

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Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...