10 de jan. de 2013

MODELO DE CARTA/MANUAL AOS PROFESSORES

MANUAL CONFECCIONADO POR FAUSTA CRISTINA REIS, MÃE DE MILENA, PARA A PROFESSORA QUE RECEBERÁ SUA FILHA NA ESCOLA:
 
Olá Professora
Você está recebendo este ano em sua turma uma aluna muito especial (embora todos sejam) que é a Milena. Pretendo te apresentar algumas informações a respeito dela para que você a conheça melhor.
Um breve resumo de nossa história: Milena tem um casal de irmãos, Tatá tem 19 (a irmã querida) e Paulo Victor 23 anos são meus filhos de outro casamento, sendo ela a única filha natural do papai Gilberto. Queríamos muito um filho e após seis anos de casados achamos que já poderíamos realizar nosso sonho com a mamãe podendo parar de trabalhar e ficar em casa por dois anos aproximadamente em dedicação exclusiva ao bebê. Quando nasceu, após uma gravidez deliciosa e um parto muito tranquilo, Milena se mostrou quietinha demais e com um olhar muito diferente, sendo que já aos três meses de idade despertou a minha atenção de mãe experiente, pedagoga e irmã mais velha, acostumada em ver bebês se desenvolvendo bem. Após insistentes conversas com os médicos tivemos a confirmação de que havia um atraso no seu desenvolvimento o que mais tarde se definiu como sendo um Transtorno Invasivo do Desenvolvimento (TID).
Os Transtornos Invasivos do Desenvolvimento são um conjunto de desordens que atualmente agrupam outras síndromes como a Síndrome de Rett e o Transtorno Desintegrativo da Infância, mas engloba também um outro sub grupo de desordens chamado Transtornos do Espectro do Autismo, que agrupa o Autismo Clássico, a Síndrome de Asperger, o Autismo Atípico que pode ser chamado também de Transtorno Invasivo do Desenvolvimento Sem Outra Especificação (TID-SOE). Os graus mais leves de comprometimento são os mais comuns.
Esquematizando esses conceitos, ficaria assim:
Apesar de ser um grupo com características em comum, cada pessoa com autismo é única, pois cada um manifesta os sintomas de forma diferente. O mais importante é saber que antes de enxergarmos o autismo temos que ver a pessoa na sua individualidade. Temos então, crianças tímidas e com autismo, teimosas e com autismo, calmas ou agitadas apesar do autismo. Definir o que é autismo e o que é da própria pessoa é difícil, mas não é necessário, se tratarmos a criança como tratamos as outras, principalmente se as tratamos com carinho. Qualquer preconceito, medo, insegurança são percebidos por eles, não tenha dúvida. Por isso, não hesite em nos procurar, estamos à sua total disposição.
A pessoa com autismo tem muita dificuldade em aceitar limites, pois eles não entendem bem a lógica do outro e se tem vontade de fazer algo, não entende porque precisa abrir mão disso, isso não significa que a gente não deva impor limites, mas a maneira de fazermos isso muda um pouco. Podemos direcionar para o certo e não dizer de forma impositiva: não. Por exemplo, ao invés de dizer: "não suba na mesa" podemos dizer: "a mesa é para estudar", ao invés de "assim não pode", é possível sinalizar: "é assim que se faz" e os exemplos se multiplicam:
L : "Não pode pegar o estojo da colega" – J : "O seu estojo é este, cada um fica com o seu".
L : "Não pode levantar agora" – J : "Daqui a pouco quando você terminar este desenho você vai poder levantar".
L : "Não pode gritar" –J : "O que você quer? Vamos conversar, falar é melhor que gritar".
L : Ao invés de dizer "não te empresto", pode dizer J :"agora estou usando", "preciso usar mais tarde", "quando puder te empresto um pouquinho".
A respeito desta nova forma de estabelecer limites, devo dizer que não é muito fácil, pois nossa cultura e educação são baseadas no não pode, não faça e será preciso perseverança pois não se muda da noite para o dia. Mas é muito bom quando mudamos este jeito de lidar com as crianças, pois elas ficam muito mais tranqüilas com esta abordagem. Com o tempo nós vamos percebendo o quanto é melhor agir assim.
Quando estivermos diante de uma conduta inadequada precisamos então dizer com firmeza: é assim que fazemos e imediatamente redirecionar a atenção. Quando uma atitude inadequada acontece, como gritar ou se bater, como jogar objetos ou subir na mesa é porque esta criança quer muito chamar a atenção, comunicar que está frustrada, cansada ou irritada com algo e se ela conseguir reforço para sua intenção: chamar a atenção – ela vai repetir este comportamento outras vezes.
É assim que conseguimos manejar muitas condutas inadequadas de nossa Milena, se em casa ela grita, nós nunca dizemos não grite, passo a dar atenção a ela e convido para brincar ou cantar e só quando estamos nos divertindo, falo que o grito faz doer o ouvido da mamãe e que toda menina que é bonita não grita, conversa. É claro que em alguns momentos o não é inevitável, então falamos o não e já direcionamos a atenção para outra coisa. Se ela quer, por exemplo, brincar com a tesoura de ponta, eu pego a tesoura calmamente, falo que a tesoura dela é outra que não machuca e que vou pegar depois e na mesma hora chamo para ir a outro lugar e fazer outra coisa.
Na escola os comportamentos inadequados mais comuns são os gestos repentinos de agressividade como puxar o cabelo ou dar uma palmada no colega. Apesar de raros, são comportamentos que expressam uma irritação com algo que aconteceu e ela fica muito arrependida, pede desculpas, mas ao perceber que errou ela fica ainda mais irritada, pois não consegue lidar com a sensação de não poder voltar atrás. É melhor neste momento não a obrigar a pedir desculpas ou chamar a atenção pelo erro. Deixar o pedido de desculpas para depois e chamá-la para conversar, sair da sala, se distanciar do colega e depois que a irritação tiver passado, aí sim, cobrar o pedido de desculpas, explicar que não se bate nas pessoas, etc. Qualquer ocasião em que eles erram, é melhor apenas dizer rapidamente que está errado e deixar para chamar a atenção depois, uma vez que ela tem exata noção de que cometeu um erro e este é um dos piores momentos para tentar ensinar algo a ela.
Milena adora perguntar, são suas intermináveis perguntas que podem atrapalhar o andamento da aula, nesta hora seria bom que ela tivesse orientações claras como: eu já te respondi isto, agora eu quero que você se sente em sua carteira, primeiro faça esta atividade, depois vamos fazer tal coisa, depois vamos sair para o lanche, etc. Quando possível, devemos dar a ela uma sequência das atividades e acontecimentos pois isso diminui a ansiedade. Sempre que houver um acontecimento extra na escola, como um teatro, uma visita ou algo que irá alterar a rotina, ou mesmo uma decoração de algum dos ambientes para eventos, seria bom antecipar para Milena, as surpresas fazem que ela fique agitada sem entender o que está acontecendo e por que. Ela reage diferentemente às mudanças, mas sempre fica muito estressada, embora possa manifestar sua estranheza apenas algumas horas depois.
A sensibilidade sensorial das pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo pode variar de hiper para a hipo, ou seja, ela pode ser hipersensível a toques ou barulhos e pode ser hipo sensível à dor como é o caso da Milena. Ela não gosta muito de abraços a não ser quando a iniciativa é dela e isso acontece quando menos esperamos. Ela ouve barulhos que não ouvimos (uma moto acelerando na rua ou um bebê chorando ao longe) e se assusta com barulhos repentinos (fogos, objetos caindo) e se irrita com barulhos de motores (furadeiras, etc). Nestes momentos explicar o que é o barulho e dizer que vai passar ajuda muito e quanto aos abraços, ela está acostumada a recebê-los e o único senão é que ela vai ficar meio encolhida e pode ficar irritada com abraços insistentes e apertados que às vezes as outras crianças insistem em dar.

A pessoa com autismo reage negativamente frente às frustrações. Embora já consiga administrar melhor suas reações, Milena ainda sente muito quando não consegue o que quer. Se ela cisma com um objeto por exemplo, esta cisma pode virar uma verdadeira obsessão e neste momento receber um não seria o gatilho para detonar uma crise. O melhor, como já foi dito seria contornar para algo como: pode sim, mas em outro momento. Como nem sempre é possível em um momento de crise Milena pode tentar jogar algo no chão, fritar ou até mesmo bater em alguém para expressar sua raiva. O melhor é desviar sua atenção neste momento, se possível tirando-a do ambiente por alguns minutos.
Ao longo do ano vamos conversando sempre que for necessário, eu sou totalmente aberta para conversar sobre o autismo, sobre minha filha, situações e posturas. Pode estar certa que irei compreender quando você não souber como agir e jamais irei julgá-la por sua forma de preceder em sala.
Pode parecer muita coisa, mas até hoje todas as professoras de Milena se apaixonaram por ela.
Um ótimo trabalho para você e que tenhamos um ano produtivo e prazeroso! Com carinho,
Fausta Cristina de Pádua Reis
Pedagoga, Psicopedagoga, mãe de Milena, Thamires e Paulo Victor

9 de jan. de 2013

Quem Precisa Mudar?




Quando vemos uma criança  com algum tipo de dificuldade que persiste em um comportamento indesejável muitas vezes comentamos: não adianta, ele não deixa de fazer isso. Seria interessante pensar que todo comportamento tem um antecedente e um consequente. 

Se analisarmos o que desperta esse comportamento e nossa reação a ele às vezes é mais fácil mudá-lo. Por exemplo, se cada vez que a criança grita a mãe pede que fique quieta, ela está tendo uma resposta a um comportamento indesejável, que fará com que ele persista. Se ignoramos a criança quando está gritando ( e sei que é difícil fazê-lo), o comportamento tende a desaparecer. Podemos então dar atenção a um comportamento mais positivo e reforçá-lo.

Estou emprestando uma citação da Ellen Nothbom, que é uma mãe muito sábia:

” Se, apesar de seus repetidos esforços, seu filho ou seu aluno não está mudando o comportamento, talvez o comportamento que precisa mudar é o seu. Se o comportamento não está mudando, você ainda não achou a necessidade não atendida , que é a causa real.”

É importante pensar que nosso tom de voz afeta a criança, que ela às vezes não consegue entender o que dizemos por causa do conteúdo emocional carregado em nossa voz. Cada vez que precisamos mudar alguma coisa, devemos analisar detidamente a situação e tentar entender o por que do comportamento ou ação da criança e como nossa resposta reforça ou não o que ela está fazendo. Às vezes, filmar a situação em que o comportamento acontece ajuda muito na análise da situação. Vamos lembrar que comportamento também é uma forma de comunicação.

Por Heloisa Goodrich www.toi.med.br 

O brincar como primeiro experimento do mundo e como linguagem da criança



Em tempos passados, brincar era algo natural para a criança. Brincavam e ninguém se preocupava com isso.  
Não se falava ou escrevia de suas atividades. Em nossa civilização, predominantemente técnica, a criança está perdendo cada vez mais a sua capacidade original de brincar.  
Certamente as crianças desejam brincar, como o fazem em todos os lugares do mundo e como fizeram sempre, pois brincar é algo inerente ao “ser” da criança.  
O Brincar da criança é a manifestação mais
 profunda do impulso que conduz ao fazer,
 sendo que neste fazer, o homem tem a
 sua verdadeira essência humana.
 Não seria possível imaginar uma criança
 que não desejasse ser ativa, como o é
 quando brinca, pois o brincar representa a
 liberação de uma atividade que deseja
 se
libertar do cerne do ser humano”
Rudolf Steiner
Existem muitos adultos que, saudosos, se lembram dos tempos felizes de suas brincadeiras de infância. Certamente, um ou outro, por muito tempo, guardou na gaveta da escrivaninha ou do armário, alguma lembrança desta época.  
Inconscientemente, a criança inicia a conquista das noções de Espaço-Tempo-Mundo, por meio de brincar de pegar um objeto, deixar cair, jogar, ouvir o som dos objetos rebatendo no chão. Para muitos adultos, esta forma de brincar representa um forma de malcriação por parte da criança, que insiste em repetir incansavelmente esta brincadeira.  
Faz parte deste brincar, a participação ativa do adulto, abaixando-se, devolvendo o objeto.
A criança recebe este gesto com alegria imensa e a brincadeira continua para o desgosto de todos aqueles que não tem noção da grande vivência pela qual passa a criança.
Mais tarde, vem o brincar com os grandes ritmos e formas cósmicas: bolas, os balões, as bolhas de sabão, piões, cordas, balanço, etc.
Aprende também os quatro elementos: Terra-Água-Ar-Fogo.
As vivências com o elemento TERRA a criança tem com: areia, cinza, pedregulho, barro, argila, pedras de todas as formas e tamanhos. A criança brinca com prazer neste elemento, não se esquecendo de colocar bastante riqueza em seus bolsos.
Como são maravilhosas as vivências que a criança tem com o elemento ÄGUA, ao fazer flutuarem pequenos objetos, ao chapinhar e pular em poças d’água, barro, brejo, etc. E tudo isso sem a menor noção de que está se sujando. Está inteiramente entregue à sua exploração do mundo!
Quanto ao elemento AR, seu encantamento faz com que interiormente, acompanhe o flutuar, oscilar, pairar, voar dos fios de lã, bandeirinhas, móbiles, aviõezinhos e balões de papel de seda, etc. É quase impossível descrever o que uma criança sente quando faz subir uma pipa (quadrado).
Assim poderíamos ainda continuar descrevendo as vivências com o elemento FOGO.
A força inerente a este brincar singelo, aparentemente simplório, é de tal forma marcante, a este que a mera lembrança destas vivências pode ser tal qual uma ilha de calmaria e conforto no mar revolto de nossa vida como adulto.
O brincar infantil não é apenas uma “brincadeira superficial desprezível” pois no verdadeiro e profundo brincar, acordam e avivam forças da fantasia, que, por sua vez, chegam a ter uma ação plasmadora sobre o cérebro.
Este processo natural e sadio de "criar inteligência" não é possível quando as crianças não conseguem o brincar verdadeiro.
Inúmeras crianças vivem esta situação que podemos chamar de perigosa, em um mundo adulto cada vez mais hostil a elas.
De grande importância são as múltiplas vivências com plantas e animais, que também deveriam ser possíveis em moradias de uma criança grande. Estas vivências ajudam as crianças no seu entrosamento no nosso ambiente terreno.
Os pais que não tiverem outra possibilidade, deveriam pelo menos possuir alguns vasos com plantas, para que as crianças vivenciem o “crescer das plantas”.
É de importância fundamental colocar uma semente na terra e cheio de admiração e veneração observar as primeiras manifestações de vida da planta!
É ótimo Ter um animal, talvez gato ou cão, em casa. Mas, por outro, lado, pode-se  fazer muitas observações sobre animais em passeio, onde podem ser vistos pássaros, besouros, borboletas, etc.
Para que esses momentos surtam o efeito desejado é de suma importância que o adulto esteja voltado com todo o seu interesse, amor e calma interior para a criança e o que está sendo observado.
Evidentemente, “o mundo humano” tem o maior peso no brincar da criança. Este mundo é aprendido pela imitação e fixado na criança pelo brincar de casinha, respeitando os fatos corriqueiros da vida diária, tendo o seu ápice na primeira vivência que a criança tem de si mesma como um EU, vivência que muitas vezes encontra a sua expressão mais profunda no brincar com uma boneca, com a qual se identifica. Tudo isto devemos levar em nossa consciência em uma época da vida em que a procura do sucesso está pondo em perigo, a perder de vista, o HOMEM, a noção do seu verdadeiro “ser” e com isto cada vez menos tem a capacidade de Ter uma compreensão dos processos que transcorrem no interior de uma criança.
É por esta falta de compreensão que se conduz precocemente a criança para o âmbito do adulto, obrigando-a a se adaptar com todo o seu SER à vida dos adultos.
A criança não é um adulto em miniatura, cuja “usabilidade” para a indústria e o comércio precisa ser intensificada.
Quando a educação da criança se baseia no princípio da integração precoce ao mundo do adulto, então já não existe mais sensibilidade para uma legítima formação do ser humano, principalmente ao que se refere aos primeiros anos de vida, que são de importância fundamental para o seu desenvolvimento futuro.
Caiu no esquecimento que o brincar infantil é uma das formas básicas mais importantes e decisivas de formação do ser humano, ao abordar e ativar as forças criativas da criança. Poucos sabem dos malefícios dos brinquedos industriais produzidos em série, de gosto estético duvidoso. Geralmente se apresentam de tal forma, que as forças da fantasia da criança não encontram alimento, pois não há nada a completar, a imaginar e a proteger sobre este brinquedo.
As FORÇAS DA FANTASIA necessitam de LIBERDADE e de MORALIDADE para poderem se desenvolver.
Por esta razão, a criança pequena não deseja encontrar brinquedos prontos para que lhe reduzam as possibilidades por meio de uma pré-determinação de seu uso. Ela quer substâncias elementares da natureza, como já mencionado: Água, areia, pedras, conchas, folhas, cascas de árvore, grama, sementes, pinhas, penas, etc.; com as quais podem dar vazão a seu mundo de fantasia, plasmando e construindo a partir daquilo que se encontra em seu interior.
Quem já observou uma criança profundamente envolvida em seus afazeres no jardim, com uma poça d’água, com areia e pedra, dançando por entre árvore, trepando em restos de um muro caído, amassado e rasgando papel num canto da sala, amontoando caixas vazias, vivenciando as formas cilíndricas de um rolo de papel higiênico, certamente reconhecerá  o que significa para ela brincar cheio de vida. São mundos que a criança descobre, observações que a marcam de forma significativa para toda a sua vida. Pelo manuseio destes diversos materiais, aprende por si só sem nosso ensinamento, importantes leis fundamentais da vida e do mundo. Aprende, por exemplo, o que significa: duro-mole, áspero-liso, maleável-elástico-móvel, em cima-embaixo, atrás-na frente, direita-esquerda, perpendicular-horizontal, equilíbrio-desequilíbrio, quente-frio, leve-pesado. 
Faz vivências com todo o seu ser, sem ter noção de conceitos abstratos ou denominações, que para nós, adultos, são corriqueiros, mas que por outro lado nos dificultam a experiência pura e objetiva dos fatos.
Pelo manuseio ativo dos materiais, a criança vivencia de forma elementar o mundo, as formas e qualidades de tudo o que existe.
A criança ainda está ligada intimamente a tudo, vive totalmente o que a rodeia, não se distanciando dos objetos ou seres, como faz o adulto, que sempre se sente confrontando com o mundo que o rodeia.
Esta individualização é um passo que a criança dará lentamente e que deverá dar sozinha, necessitando de tempo para isso!!!
Devemos aprender a Ter paciência, OUVIR e VER o que se expressa no brincar da criança pequena, sem interferir, pelo julgamento do nosso intelecto, que não tem acesso a esse mundo, dirigindo e desencadeando estes momentos.
Nós nos tornamos servos, secos e frios em relação a esse mundo criativo, original e cheio de forças plasmadoras, que são tão importantes para a verdadeira vida.
Sempre estamos exigindo ordem e limpeza, qualidades muito valorizadas numa sociedade progressista, mas que no brincar das crianças deveriam, conscientemente, encontrar seus devidos limites. (“É tão cômodo deixar as crianças em frente à TV!”)
Ordem e limpeza são conceitos secos do mundo adulto e na realidade são os maiores inimigos da fantasia infantil!
Não tenhamos uma "vertigem" ou um acesso de desespero ao vermos nossos "queridos" chegarem em casa com respingos de tinta, barro pelo corpo todo, as mãos sujas, os cabelos em desalinho ou até mesmos com furos na calça. Pelo contrário, sintamos seu coração palpitando de alegria, seus olhos brilhando, as faces coradas que nos contam: "Veja, estive em outro mundo, um mundo do qual há bem pouco tempo atrás ainda fazia parte".
Poucas pessoas conseguem participar deste paraíso infantil, participar desta felicidade da criança e penetrar neste reino.
Que choque para o "ser" infantil, quando, por meio de um comportamento severo do adulto, é arrancado do rico mundo da fantasia e sonho e é bruscamente empurrado para a realidade do mundo adulto.
Com isso, o prazer original do brincar vai se transformando em timidez e medo, implantando-se o germe de doenças futuras, deformações anímicas e criando-se, finalmente, as raízes do mal na criança.
A atualidade nos fornece provas suficientes para esse desenvolvimento. Criminalidade, uso de drogas, álcool, terrorismo são a conseqüência, entre outras coisas, de um não brincar adequado na infância.
Deveríamos tentar não destruir o brincar da criança nos primeiros sete anos de sua vida, antes que comece a seriedade da vida escolar.
Devemos procurar manter um espaço dentro do tempo e do espaço físico para que ela possa, pelo brincar imitativo, encontrar o seu caminho dentro do mundo e, também, encontrar-se a si mesma.
Quando, por exemplo, com uma colher de pau, alguns trapos coloridos, papel, pincel e cores, rolhas, lã, bolinha de algodão, etc.; a criança consegue construir o seu mundo, que representa uma síntese das vivências que imita do ambiente exterior, com as representações de sua fantasia, então, realmente, estará brincando!!!
Quando a criança molda figuras na areia molhada ou em cera de abelha, de acordo com sua capacidade, ou com o lápis ou pincel, cria as suas obras, que ainda não tem sentido nem finalidades, apenas as cria pela alegria do FAZER. Então, deveríamos deixá-la fazer sem interferir.
A criança deseja experimentar e vivenciar este mundo novo para ela.
O autodesenvolvimento natural da criança será pelo brincar livre.
Baseado no brincar livre é que a criança vai estruturar futuramente sua capacidade de julgamento, capacidade de fundamental importância nos dias atuais.
Quando transpomos o nosso pensar intelectual utilitarista para o mundo infantil, provocamos na criança um comportamento adulto precoce.
É necessário apenas um pequeno passo para que este comportamento da criança precocemente adulto se transforme em um comportamento desumano.
O brincar feliz da infância, num lar harmonioso, certamente será o que de melhor, e mais precioso uma criança poderá levar consigo para a sua vida futura. Com isso conseguirá forças valiosas que levará para um mundo no qual, dia a dia, torna mais difícil a sobrevivência da alma íntegra, da livre iniciativa e da auto-afirmação do EU.
 Maria Bárbara Trommer Texto baseado em: DAS SPIEL ERSTE
 WELTERFAHRUNG UND SPRACHE DES KINDES
Ursula Anders, Elternbrief, Abril, 1982

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...