26 de mai. de 2014

O que é brincar para uma criança pequena?


            O que significa brincar, quando uma criança tem menos de 18 meses de vida? Que objetos lhe servem de brinquedo? Em que os adultos podem colaborar para ela brinque? É curioso constatar o quanto é comum se pensar que uma criança pequena brinca de forma parecida ao que fazem as mais velhas, quando brincam de casinha, de jogar bola, de inventar e ouvir estórias, de fazer de conta e imaginar coisas. Ocorre que, quando tem menos de 18 meses, a criança não tem recursos cognitivos e sociais para este tipo de brincadeiras. Ao que recorrem, então, para se distrair e encontrar sentido na vida? Segundo Piaget, as brincadeiras desta criança são estruturadas pelo que ele designa jogo de exercício. Neste tipo de jogo, duas condições mobilizam a atividade lúdica: a repetição e o prazer funcional. Repetição do quê? Daquilo que a criança pode fazer ou sentir em relação às coisas e pessoas de seu cotidiano. E por que prazer funcional? Porque se trata de uma repetição que não decorre de uma necessidade interna ou exigência externa, mas do interesse provindo do próprio fazer ou sentir. Para explicar o que é isto sugiro que observemos alguns vídeos no You Tube encontráveis pelo nome “cesto (ou cesta) de tesouros”, em português, ou, então, “treasure basket”, em inglês. Esta situação se refere ao dispor para uma criança de seis aos 18 meses uma cesta contendo objetos (usualmente em torno de 15 ou 20) do seu cotidiano de casa. Colheres, tampas, panelas, chocalhos, escovas, panos, papéis, mangueiras, chaves, copos são alguns dos mais de 100 itens sugeridos para comporem a cesta. E o que observamos a criança fazer com eles? Ela balança, bate, olha, morde, emite sons com a boca, mostra, produz ruídos com o objeto, balança, coloca na boca, pega, puxa, coloca e tira, esconde, reencontra. É de admirar o tempo que consomem, interessada e seriamente, realizando estas atividades. E o que aprendem? Aprendem, por exploração lúdica, pela repetição mobilizada pelo prazer funcional, muitas coisas ou propriedades dos objetos com os quais interagem. Forma, cor, textura, gosto, dureza, sonoridade, plasticidade, características das diferentes partes que compõem são um pouco do que podem experimentar sobre estes objetos. Mas, aprendem também ou aperfeiçoam os comportamentos que utilizam para interagir com eles. Aprendem a coordenar suas ações e, mais que isto, a descobrir a dupla função de um mesmo objeto ou ação. Uma coisa é olhar, pegar, por na boca e sugar quando se está com fome, outra coisa é fazer tudo isto como atividade lúdica, presidida pelo prazer funcional de sua repetição e pelo gosto de, através disto, passar um tempo, distrair. Um coisa é manejar um objeto, por exemplo, a mamadeira porque se está com fome e ela é fonte de alimento, outra coisa é brincar com ela, saborear, pelo exercício dos órgãos do sentido, as propriedades que a caracterizam como um objeto. Uma coisa é agir como meio para um outro fim, outra coisa é agir e interagir com objetos como um fim em si mesmo. A criança pequena precisa de estímulos e oportunidades de brincar para aumentar e melhorar seu repertório de ações em relação às coisas e a si mesma. E as pessoas, em especial seus cuidadores, onde estão e o que fazem nesta hora? Elas proporcionam tais oportunidades para a criança, lhes oferecem o cesto e as coisas que estão dentro dele, vigiam para que nada possa lhes ocorrer em termos de perigo, estão por perto protegendo, aprendendo e observando. Fazendo isto, eles lhes transmitem confiança, carinho e as mobilizam para o ótimo de seu processo de desenvolvimento.
Para saber mais acesse e pesquise:   http://www.youtube.com/watch?v=a0QpDgUdP_Q
Prof. Dr. Lino de Macedo
Instituto de Psicologia da USP

Crianças com disfunção em integração sensorial – sinais de alerta



Todos nós, desde que nascemos, temos um impulso inato para agir sobre o meio. É através desta interação com o meio ambiente que nos vamos tornando competentes para responder aos desafios do dia a dia. A Terapia Ocupacional centra precisamente a sua abordagem nesta dimensão ocupacional do ser humano.



É através da Integração Sensorial que o mundo ganha sentido, quando recebemos, registamos, organizamos e interpretamos toda a informação que chega ao nosso cérebro através dos nossos sentidos.

A incapacidade de dar respostas de forma adaptada tem, por isso, muitas vezes, origem em disfunções de integração sensorial, ou seja, na agilidade para processar estas sensações e os seus significados.

Os pais, em particular, devem atender a alguns sinais de alerta desta disfunção no desenvolvimento da criança, para que uma intervenção seja o tão precoce quanto possível.

É o caso, por exemplo, da necessidade excessiva de estímulos sensoriais, o que leva a criança a estar constantemente a tocar, saltar, esbarrar, fazer barulhos ou a levar tudo à boca.

Os pais devem estar atentos igualmente a uma sensibilidade exagerada a determinadas sensações, levando a criança a reagir mal ou a evitar as sensações a que é hipersensível: a criança pode, por exemplo, reagir mal ao toque ou a texturas (como tintas, areia, abraços, beijinhos, textura dos alimentos, etc.); pode ter medo do movimento (como andar de baloiço ou trepar); pode reagir mal ao som mais intenso (colocando as mãos nos ouvidos ou com choro); pode manifestar desconforto excessivo com as luzes, etc.

Por outro lado, há também que estar vigilante em relação a uma sensibilidade diminuída aos estímulos, o que leva a criança a parecer desligada, com dificuldade em se envolver e/ou virada para si mesma: pode também ser sedentária, lenta e desorganizada a realizar as suas tarefas; pode ter dificuldade em estabilizar o corpo durante o movimento, fraqueza muscular e pobre resistência; ou em manter a postura sentada ou em pé (ex. durante as tarefas escolares deita-se em cima da mesa, apoia a cabeça nas mãos; quando está numa fila encosta-se aos outros); ser descoordenada e/ou desajeitada.

São também sinais, no quotidiano, a dificuldade em planear uma sequência de ações ou em realizar novas atividades motoras, em organizar as tarefas ou brincar, e aprender a vestir-se, despir-se e a comer (pode ser trapalhona, sujar-se, não usar adequadamente os talheres), a irritabilidade ou a dificuldade em se acalmar, a tendência para fazer birras, e problemas de atenção e concentração.

Identificado algum tipo de disfunção através do diagnóstico adequado, o terapeuta ocupacional recorre a técnicas de avaliação e de intervenção dirigidas à criança ou à modificação/ alteração do ambiente, tendo em vista facilitar o desempenho e envolvimento da criança no seu dia a dia, promovendo uma maior adaptação e satisfação. Uma tarefa em que o acompanhamento e envolvimento do contexto familiar se torna fundamental.

Paula Serrano, com a colaboração do Departamento de Terapia Ocupacional, da Escola Superior de Saúde de Alcoitão, Santa Casa da Misericórdia de Lisboa

A importância da integração sensorial no desenvolvimento infantil

Inicialmente é relevante considerar que o bebê não nasce com estratégias e conhecimento prontos para perceber as complexidades dos estímulos ambientais. Essa habilidade se desenvolve com a idade e com a experiência, principalmente a social na interação com o outro (Stern, 1992; Hobson, 2004). A interação do bebê com seu ambiente imediato logo se torna uma fonte de conhecimento, no qual a percepção é o processo pelo qual segundo Gibson (1969), obtém informação sobre o mundo, ou seja, é a habilidade de se extrair informação da estimulação.
A percepção depende do aprendizado e da maturação da pessoa e por isso possui a visão e audição, por exemplo, que significa simplesmente apresentar a habilidade de receber sons e imagens, o que não significa compreender esses estímulos. Somente com o tempo e através da interação com o mundo o ser humano aprende a ver e a escutar com sentido, ou seja, prende a usar seus órgãos sensoriais e a atribuir significado às sensações.
Segundo Ayres (2005), o cérebro organiza as sensações assim como um guarda de trânsito coordenada os carros para que o trânsito possa fluir. A autora também faz uma analogia com o processo de digestão do corpo. Sendo assim, vale compreender que o corpo precisa de comida para se alimentar, e mais ainda, precisa que o alimento seja digerido, assim são as sensações, elas são como alimentos para o cérebro, porém sem um processamento sensorial adequado não podem ser digeridas e alimentá-lo.
Segundo AYRES (2005), a Integração Sensorial é o processo pela qual o cérebro organiza as informações, de modo a dar uma resposta adaptativa adequada, organizando assim, as sensações do próprio corpo e do ambiente de forma a ser possível o uso eficiente do mesmo no ambiente. O método visa a quantidade e a qualidade de estímulos proporcionados ao sujeito, para que busque um equilíbrio modulado, dando assim, uma resposta que esteja de acordo com suas capacidades e com o meio, melhorando o desempenho de uma criança, em seu processo de aprendizagem.
A partir disso, Ayres (1995), define a integração sensorial como a habilidade inata em organizar, interpretar sensações e responder apropriadamente ao ambiente, de modo a auxiliar o ser humano no uso funcional, nas atividades e ocupações desempenhadas no dia-a-dia. (Ayres apud OLIVEIRA, 2009).
Dessa forma, a integração sensorial se inicia na vida intra-uterina e se desenvolve devido à interação com o ambiente, por meio de respostas adaptativas. O sistema nervoso (SN) é o órgão responsável pela integração das diversas sensações recebidas. O processo pelo qual o sistema nervoso central (SNC) localiza, classifica e organiza os impulsos sensoriais e transforma as sensações em percepção para que o homem possa interagir com o meio é denominada integração sensorial. (AYRES apud LORENZINI, 2002, p.6).
O sistema nervoso organiza as informações visuais, auditivas, táteis, olfativas e gustativas bem como informações sobre gravidade e movimento, e consequentemente as organiza em um plano de ação. Quando é feita de maneira harmoniosa, a aprendizagem se dá naturalmente.
Nesse sentido, o desenvolvimento infantil e a integração sensorial agem de modo  integrados, que segundoAyres (2005), explica que a criança desenvolve a capacidade de organizar inputs sensoriais inicialmente experimentando sensações, porém sendo incapaz de dar significado a elas. Inputs sensoriais referem-se às funções receptivas: à capacidade para selecionar, adquirir, classificar e integrar as informações, isto é: a sensação, percepção, atenção e concentração (EDMANS, 2004).
Dessa forma, a integração sensorial oferece oportunidades para a criança organizar a sua conduta, fornece condições para explorar suas necessidades e fazendo com que o sistema nervoso organize os estímulos, produzindo com isso respostas adaptativas adequadas exigidas pelo ambiente, uma vez que as sensações devem ser proporcionadas de forma agradável gerando prazer. Quando isso acontece de forma adequada, ocorre o processo chamado de Integração ou Processamento Sensorial com o objetivo de promover o desenvolvimento do ser humano.
Após a abordagem citada anteriormente referente que a integração sensorial se baseia nos estímulos proprioceptivos adquiridos e a atuação da Terapia Ocupacional, que de acordo com Takatori (2001), a Terapia Ocupacional tem como instrumento de suas ações as atividades, na qual estas estão presentes no cotidiano das pessoas e acredita-se que através do fazer, com intermédio das experiências, é que se pode trilhar um caminho com o paciente em direção à construção de um cotidiano.
E segundo Sabari (2005) os terapeutas ocupacionais são especialistas em atividade. Independentemente do diagnóstico ou do ambiente terapêutico, a melhora no desempenho de atividades é uma meta final na intervenção da terapia ocupacional. Para Pierce (2003) a atividade não é vivenciada por uma pessoa específica, é compartilhada culturalmente como o brincar, que por sua vez pode acomodar todos os tipos de pessoas e contextos, logo brincar é uma atividade. Pode-se dizer que a Terapia Ocupacional poderá intervir de forma a favorecer a recepção, o processamento e a resposta adaptativa ao meio, através da integração de informações sensoriais que serão proporcionadas diante dos estímulos ofertados em um parque infantil.
Sendo assim, é evidente a intervenção através da integração sensorial no avanço do processo de reabilitação e na prática da Terapia Ocupacional no desenvolvimento infantil em prol da autonomia da criança.

Graziele Aparecida Durão - Terapeuta Ocupacionl (SÃO MIGUEL DO OESTE-SC), Aluna do Curso de Pós-graduação em Neurologia com ênfase em Neuropediatria do Instituto Brasileiro de Therapias e Ensino - IBRATE.

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...