20 de set. de 2016

Descubra a Proprioceção: Um Sentido "Escondido”©

A maioria das crianças aprende que temos cinco sentidos: visão, tato, paladar, olfato e audição. Contudo há outros sentidos muito importantes que não estão presentes nesta lista. A consciência da posição do nosso corpo ou “proprioceção” é um deles. Não é comum ensinarmos às crianças a existência e a utilidade deste sentido e portanto a maioria das pessoas não sabe da sua existência. Este desconhecimento cria um desafio adicional sempre que este sentido não funciona de forma correcta pois, se não estamos conscientes do mesmo, será difícil compreender problemas relacionados a ele. 

Assim como os nossos olhos e ouvidos enviam informações sobre o que vemos e ouvimos para o cérebro, partes dos nossos músculos e articulações detectam a posição do nosso corpo e enviam, também elas, essas mensagens para o cérebro. Dependemos desta informação para saber exatamente onde estão as diferentes partes do nosso corpo e para planejarmos os nossos movimentos. 

Quando o nosso sentido da proprioceção funciona bem realizamos diversos ajustes, contínuos e automáticos, nas nossas posições. Este sentido permite-nos manter e movimentar em diversas posições funcionais para que possamos realizar as nossas actividades do dia a dia, como sentar numa cadeira para trabalhar, segurar objetos de forma correta, tais como uma caneta ou um garfo, manobrar o corpo através de uma passagem estreita para não ir contra os objetos ou derrubá-los, saber a distância que devemos manter quando conversamos com uma pessoa para não ficarmos perto ou longe demais, planejar a pressão necessária a ser exercida para não quebrar a ponta do lápis ou um brinquedo e saber alterar as nossas ações quando estas não foram bem sucedidas, por exemplo, quando lançamos uma bola e esta não acertou no alvo ou fazemos um mergulho que resultou numa “barrigada”.

Uma vez que a proprioceção nos ajuda em todas estas funções básicas, um problema neste sentido pode causar grandes dificuldades. Muitas vezes um indivíduo tem de prestar atenção a certas coisas que deveriam acontecer automaticamente. Pode também ter de utilizar a visão para compensar e perceber que ajustes podem ser feitos. Isto pode exigir muita energia. Uma criança com estas dificuldades pode sentir-se desajeitada, frustrada e mesmo com medo de algumas situações. Por exemplo, pode ser muito assustador descer as escadas quando não sabemos onde estão os nossos pés. O sistema proprioceptivo é ativado através de atividades do tipo puxa/empurra, atividades como saltar e atividades que envolvem peso e pressão profunda. Esse tipo de sensação geralmente é calmante e pode ser útil para uma criança que se desorganiza facilmente.

Ajude a criança a ser mais consciente da posição do seu corpo

Seguem-se alguns exemplos de atividades propriocetivas. Estas atividades podem ser úteis para ajudar a criança a ter mais consciência da posição do seu corpo e a ficar mais calma e organizada

1. Peça ajuda para os “trabalhos pesados”, por exemplo, carregar os sacos das compras, transportar o cesto da lavanderia, puxar sacos das folhas, levar o lixo e arrancar ervas daninhas, ou arrastar os sofás enquanto aspira.
2. Brinque de “faz de conta”, simulando uma viagem e peça à sua criança que faça a própria mala, colocando sacos de arroz e de feijão na mochila. Realizem brincadeiras onde fingem escalar montanhas e saltar pedras no parque ou no jardim.
3. Faça um sanduíche com a criança, colocando-a entre as almofadas do sofá. Simule que adiciona "pickles", "queijo", "alface", etc., enquanto exerce alguma pressão sobre a criança.
4. Peça à criança que feche os olhos e “sinta” onde estão os seus pés, mãos, braços, etc. Pergunte-lhe em que posição estes se encontram, se estão para cima ou para baixo. Veja se ela se consegue se posicionar em diversas posições sem olhar, como rolar, tocar no nariz, fazer um círculo com os braços, fazer um X com os braços e as pernas, etc.
5. Algumas crianças vão adorar pendurar-se pelos braços e sentir o seu corpo alongar enquanto se balançam. Uma barra numa porta pode ser uma maneira simples de permitir esta atividade em casa.
6. Dê à criança um estímulo propriocetivo extra quando ela está aprendendo algo novo. Por exemplo, colocar um peso leve no punho quando a criança tenta atirar uma bola, pode dar” feedback” sobre a posição do seu braço. Outros exemplos incluem praticar letras, formas ou números em argila ou outra mistura firme; colocar as mãos nos quadris ou ombros da criança e exercer uma pressão suave, quando a criança está aprendendo uma nova habilidade motora, como subir escadas ou patinar; e na realização de uma atividade motora crie, de forma suave, alguma resistência aos movimentos, para que a criança possa “senti-los” mais facilmente.
7. Se a criança gostar, realize uma massagem suave, mas firme. Experimente, esfregar-lhe os braços e as pernas para acordá-la. Uma ligeira pressão nos ombros e cabeça ajuda a acalmá-la e as massagens nas mãos ajudam-na antes da realização de uma atividade de motricidade fina.
Estas são apenas algumas ideias. Use o bom senso, não exerça demasiada pressão e não peça à criança para empurrar, carregar ou puxar algo demasiadamente pesado. Explore, experimente e descubra o que parece ajudar mais o seu filho.

Descubra a proprioceção: Um sentido “escondido” © faz parte de uma série de "Páginas para Pais" sob o tema da integração sensorial, escrito por Zoe Mailloux, OTD, OTR/L, FAOTA. Pode ser reproduzido para fins educacionais, com o título completo e informações de copyright incluídas. Traduzido para português de Portugal por Marco Leão e Raquel Cerqueira, www.7senses.pt ; e português do Brasil por Heloisa Zanella Goodrich, Terapeuta Ocupacional

MEDIDA DE FIDELIDADE PARA PESQUISAS DE INTERVENÇÃO EM INTEGRAÇÃO SENSORIAL DE AYRES (ASI®)

Com o aumento da investigação científica dentro e fora do campo da Terapia Ocupacional, houve um aumento significativo na quantidade de informações conflitantes e confusas. Estas confusões relacionam-se principalmente com a classificação diagnóstica e com a definição da abordagem de intervenção de ASI®, fazendo com que o profissional capacitado para utilizar essa abordagem e os resultados esperados também fossem amplamente discutidos (SCHAFF; DAVIES, 2010).
Após várias décadas de investigações científicas e uso da intervenção de integração Sensorial (IS), há um aumento na variabilidade das formas de implementação da terapia, fazendo com que sejam utilizados princípios diferentes dos propostos originalmente por Ayres. Dessa forma, as investigações científicas relacionadas à eficácia da intervenção utilizando o quadro de referência (QR) de IS apresentam controvérsias, devido a problemas de fidelidade que reduzem a qualidade da assistência e dos estudos (PARHAM et al, 2007). Diante disso, um grupo de pesquisadores percebeu a necessidade de desenvolver uma medida de fidelidade validada e confiável para pesquisas sobre a intervenção em ASI®, a fim de proporcionar que as intervenções e investigações sejam pautadas nos princípios da teoria clássica de Ayres, melhorando a qualidade e o valor das futuras investigações sobre a eficácia da intervenção de ASI® (PARHAM et al,. 2011).
De acordo com Parham et al. (2011), a medida de fidelidade desenvolvida, tem como objetivo identificar se a intervenção utilizada é efetuada em conformidade com os princípios processuais e estruturais da abordagem clássica; acompanhar a prestação de serviços replicáveis da intervenção da ASI® na pesquisa; e diferenciar a intervenção de ASI® de outros tipos de intervenção (estimulação sensorial, por exemplo).
Para tanto, a intervenção clássica de ASI® compreende processos estruturais e processos terapêuticos, sendo estes presentes na medida de fidelidade (ROLEY; JACOBS, 2010). Fidelidade é um aspecto crítico para a eficácia da pesquisa, pois assegura que a intervenção do estudo possa ser replicada por outros pesquisadores, assim como permite diferenciar a intervenção de ASI® de outros tipos de intervenção (PARHAM et al, 2007). Além disso, DePoy e Gitlin (2005 citados por Parham et al., 2011, p.133, tradução nossa) relatam que o “instrumento de fidelidade não apenas permite que o pesquisador verifique se as estratégias terapêuticas utilizadas no estudo representam definitivamente a intervenção, mas também torna o estudo replicável”.
Partindo desse princípio, percebe-se a necessidade do seguimento correto dos processos estruturais e terapêuticos da ASI®, de modo que outros profissionais e pesquisadores possam ser treinados de maneira consistente e reprodutível para pesquisa e prática em IS (LUBORSKY; DURUBEIS, 1984; citados por PARHAM et al.,2007).
A utilização da Medida de Fidelidade para pesquisas de intervenção em ASI® permite uma melhor compreensão de quais são os aspectos fundamentais para uma intervenção se caracterizar como intervenção de ASI® (PARHAM; MAILLOUX, 2010). Além disso, essa medida proporcionará investigações científicas pautadas nos princípios de ASI®, fazendo com que as evidências tornem-se mais claras e difundidas, bem como contribuirá para melhoria da intervenção e comunicação sobre a intervenção de ASI®. Espera-se que a utilização dessa medida de fidelidade possibilite aumento da eficácia das pesquisas de intervenção de ASI®, pois assim, os pesquisadores e profissionais poderão realizar as intervenções baseadas em evidências claras, confiáveis, fiéis e válidas.
O Workshop proporcionará benefícios para as pessoas interessadas na pesquisa e na prática da IS, pois se todos os profissionais se baseassem na Medida de Fidelidade, teríamos menos problemas metodológicos nas pesquisas, menor disparidades em relação à utilização das intervenções e teríamos maior monitoramento, o que garantiria fidelidade e confiabilidade.

REFERENCIAS:
PARHAM, L. D.; COHN, E. S.; SPITZER, S.; KOOMAR, J.; MILLER, L. J.; BURKE, J. P. Fidelity in sensory integration intervention research. American Journal of Occupational Therapy, v.61, p.216-227, 2007.
PARHAM, L. D.; MAILLOUX, Z. Sensory Integration. In: CASE-SMITH, J.; O’BRIEN, J. C. Occupational Therapy for Children. Missouri: Mosby Elsevier, p. 325-372, 2010
PARHAM, L. D.; ROLEY, S. S.; MAY-BENSON, T. A.; KOOMAR, J.; BRETT-GREEN, B.; BURKE, J. P.; COHN, E. S.; MAILLOUX, Z.; MILLER, L. J.; SCHAFF, R. C. Development of a Fidelity Measure for Research on the Effectiveness of the Ayres Sensory Integration ® Intervention. American Journal of Occupational Therapy, v. 65, p.133-142, 2011.
ROLEY, S. S.; JACOBS, S. E. Integração Sensorial. In: CREPEAU, E. B.; COHN, E. S.; SCHEEL, B. A. B. Willard & Spackam Terapia Ocupacional. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2011.  p. 805-829.
SCHAAF, R. C.; DAVIES, P. L. Evolution of the sensory integration frame of reference. American Journal of Occupational Therapy, v.64, n.3, p.363 – 367, 2010.


MATERIAL ELABORADO PELA TERAPEUTA OCUPACIONAL DANIELLI REGINA BERNERT

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...