6 de out. de 2009

Defesa Sensorial

O termo “defesa sensorial” foi descrito pela primeira vez por Knickerbocker (1980) e usado recentemente por Wilbarger & Wilbarger (1991) para descrever uma disfunção caracterizada pelo excesso de reatividade às experiências sensoriais que não são tipicamente percebidas como irritantes ou desconfortáveis. A defesa sensorial pode ocorrer em relação a um tipo de experiência sensorial ou a sensações múltiplas. Ademais, a reação de um indivíduo à sensação pode variar, dependendo da hora do dia, época do ano, tipo de sensação específica e estado individual (por exemplo, fadiga, doença, fome). A defesa tátil e auditiva, e a insegurança gravitacional são tipos de defesas sensoriais que podem limitar severamente o comportamento lúdico de uma criança.

Defesa Tátil

“Defesa tátil” é o termo que Ayres (1979) usou para referir-se a uma sensibilidade incomum ao toque. A defesa tátil é geralmente caracterizada por hipersensibilidade em áreas do corpo em que haja uma alta concentração de receptores táteis, em especial nas mãos, pés e rosto.
A defesa tátil é uma disfunção de integração sensorial que afeta o comportamento lúdico das crianças em uma idade bem precoce, e de maneira penetrante. Devido ao fato dos estágios iniciais do brincar serem caracterizados pela exploração tátil, particularmente por manipulação de objetos com as mãos e a boca, uma tendência em evitar certas texturas limita o espectro de experiências que a criança tem e o grau de capacidades que ela desenvolve. As crianças portadoras de defesa tátil raramente colocam objetos na boca durante a primeira infância; todavia, isto em geral não é fonte de preocupações para os pais destes lactentes. Essas crianças frequentemente apresentam falhas em capacidades que são pré-requisitos para a alimentação sólida, a formação de palavras e o manuseio e manipulação de brinquedos e materiais lúdicos. Essas experiências sensoriais iniciais e limitadas na infância contribuem com as deficiências das capacidades visuais e de manipulação, que surgem diretamente a partir das experiências táteis iniciais.
À medida que a criança cresce, há um continuum de experiências lúdicas na recreação tátil. As atividades recreativas com areia, grama, argila, água, pinturas com dedo e massinha são algumas das tarefas que apresentam a maior possibilidade de serem consideradas repulsivas por crianças portadoras de defesa tátil. O envolvimento em atividades recreativas imaginárias, como fantasiar-se, pode ser desconcertante, assim como a participação em atividades de eventos especiais como vestir fantasias de Halloween em uma festa de escola, pintar o rosto no carnaval ou visitar um zoológico de animais de estimação. Em uma idade posterior, os esportes de contato como o futebol podem criar desconforto e limitar a participação nessas atividades recreativas, assim como a necessidade de usar uniformes e capacetes.

Defesa Auditiva

A “defesa auditiva” refere-se à hipersensibilidade aos sons que são normalmente perturbadores ou desconfortáveis. As implicações das dificuldades no brincar são bastante significativas, pois muitos brinquedos, atividades recreativas e interações lúdicas envolvem algum tipo de barulho previsível e/ou espontâneo.
Muitos brinquedos que possuem características sonoras (cornetas, sinos e outros instrumentos musicais), são projetados para usar o som como incentivo para a atividade recreativa (brinquedos de causa e efeito), ou para ensinar capacidades (jogos eletrônicos). Quando um sinal sonoro que tem como finalidade confortar, encorajar ou recompensar é percebido como irritante, perturbador ou amedrontador, a criança pode se retrair e recusar-se a participar. Igualmente significativo é o barulho incidental que surge de interações lúdicas. As crianças que estão se divertindo quase sempre são barulhentas e apresentam explosões intensas de som que combinam com a ação lúdica. As crianças portadoras de defesa auditiva frequentemente evitam atividades informais como brincar em grupo, e também os eventos sociais formais, como festas de aniversário.
A defesa auditiva é um problema de processamento que limita as experiências lúdicas da criança no local e tempo presentes. A preocupação por tal atividade restringida é que, a longo prazo, pode deixar seqüelas nas capacidades sociais, físicas e cognitivas mais complexas.

Insegurança Gravitacional

“Insegurança gravitacional” é o termo usado para descrever uma condição em que um indivíduo sente medo, ansiedade ou aflição irracionais em relação ao movimento ou à mudança de posição (Ayres, 1979). Tipicamente, as crianças novas derivam prazer de suas experiências com os movimentos. Já que o movimento e o uso do corpo para a exploração é uma parte tão importante de experiência lúdica nos primeiros anos de vida, é fácil imaginar como uma disfunção como a insegurança gravitacional pode interromper vários tipos de experiências lúdicas. Os pais das crianças que demonstram sinais de insegurança gravitacional frequentemente lembram-se dos primeiros sinais de aflição em relação ao movimento, quando seus filhos ainda eram lactentes. Por causa de suas reações, é pouco provável que estas crianças tenham sido embaladas, balançadas ou movimentadas pelo espaço, o que, em troca, reduziu a quantidade de sensações vestibulares que receberam. Desde que a estimulação do sistema vestibular normalmente contribui com as funções de base neurológica, como o desenvolvimento de tônus muscular (em especial dos músculos extensores), coordenação dos movimentos da cabeça e do olho, reações de estabilidade e equilíbrio, e coordenação bilateral. (Montgomery, 1985), as crianças que não se envolvem em atividades com movimentos correm o risco de não desenvolverem estas funções de maneira correta. Este é outro exemplo do ciclo recorrente que ocorre quando um problema de processamento sensorial interfere no comportamento lúdico, que em troca afeta o processamento sensorial. Ao achar o movimento desagradável, a criança envolve-se com menos freqüência nos tipos de atividades que geram muitas sensações de movimento. Sem essas sensações, o sistema nervoso não recebe a estimulação necessária para desenvolver capacidades de movimentos mais complexas usada na recreação, bem como em outros aspectos da vida da criança.

Em um grau mais generalizado, ficar durante muito tempo em um estado de medo ou ansiedade limita o desejo da participar de interações sociais e de explorar situações novas. De acordo com Ayres (1979), “se a relação entre criança e a terra não é segura, então todas as outras associações têm possibilidade de serem menos otimizadas.”


Fonte: A recreação na terapia ocupacional pediátrica, Parham & Fazio

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...