14 de abr. de 2011

Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC)

Algumas crianças parecem ser mais desajeitadas ou estabanadas que as outras. Elas ficam tristes por não conseguir acompanhar os colegas nas brincadeiras motoras e, muitas vezes, são alvo de comentários de professores e colegas, devido à letra feia, cadernos bagunçados, o cabelo mal penteado e as roupas em desalinho. Essas crianças, às vezes, se envolvem em situações embaraçosas, como tropeçar e cair no meio da apresentação de teatro da turma, não conseguir agarrar uma bola chutada pelos colegas, escorregar na carteira e cair no chão e acabam ganhando nomes ou apelidos, que sinalizam sua condição e as excluem de certas atividades ou grupos sociais. Um exemplo é aquela criança mais quieta, que nunca é chamada para brincar com os colegas no recreio ou, ainda, ela é a última a ser convidada para entrar no jogo de bola. Muitas pessoas, inclusive pais e professores, acham que a criança é apenas preguiçosa, insegura ou desinteressada, mas deve-se observar com mais cautela, pois muitas dessas crianças apresentam o que é chamado de Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação ou TDC.



O diagnóstico de TDC é dado pelo médico quando observa atraso no desenvolvimento das habilidades motoras, grossas e finas, que resultam em dificuldades no desempenho das atividades escolares e de vida diária. Geralmente são crianças inteligentes, mas que não conseguem desempenhar tarefas motoras com a mesma rapidez e eficiência que os colegas de mesma idade. Como indicado nos exemplos acima, o TDC não á apenas um problema motor, pois a criança que é desajeitada tem dificuldade em socializar com os colegas e, devido às situações freqüentes de frustração, acaba por ter baixa auto-estima e outros questões comportamentais.


Não se sabe ao certo as causas do TDC, mas dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) indicam que este transtorno afeta 5% a 6% das crianças em idade escolar, tendendo a ocorrer com maior freqüência em meninos – proporção de 4 ou 5 meninos para cada menina. A literatura sobre o TDC é vasta, sendo evidente que essa é uma condição que persiste até a idade adulta, tendo impacto tanto na vida da criança, como nos outros membros da família.


Os primeiros sinais do transtorno surgem cedo na infância. Alguns pais mais experientes, logo começam a notar que alguma coisa é diferente, pois o bebê é mais lento e demora mais a sentar, andar e manusear objetos com destreza. Com o aumento na mobilidade, algumas crianças tendem a ser mais passivas, evitando desafios e atividades motoras novas, outras são mais impulsivas, destruindo brinquedos na tentativa de descobrir como funcionam. A medida que a criança cresce, começam a aparecer dificuldades ou lentidão para desempenhar atividades de auto-cuidado como usar fechos, botões e amarrar sapatos, e para usar utensílios, como talheres e tesoura. Não é que a criança não consiga fazer as tarefas, mas se observa esforço aumentado, frustração e cansaço, sendo que, com o tempo, a criança acaba evitando as atividades mais desafiantes. Atividades que requerem boa coordenação olho-mão, equilíbrio e planejamento motor, como arremessar, agarrar e chutar bolas, também se constituem em desafio para crianças com TDC. Embora muitas dessas dificuldades possam passar despercebidas, ou serem interpretadas como variações do normal (ex.: eu também era desajeitado quando criança; o fulano também era assim e hoje é um grande atleta), com a entrada na escola e aumento de demanda por escrita rápida e legível, o problema é detectado pela professora, o que acaba levando ao diagnóstico.


É importante observar que a criança pode apresentar apenas TDC ou o TDC associado ao distúrbio de aprendizagem, problemas de linguagem ou ao transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). A fim de minimizar os problemas no dia-a-dia das crianças, pais e professores podem auxiliá-las, modificando o ambiente e adaptando as tarefas, para permitir o sucesso e aumentar o senso de competência. A melhor forma de ajudar a criança é entender o que é o TDC. Só compreendendo a situação individual da criança podemos pensar em estratégias para ajudá-la a dominar os problemas que enfrenta no dia-a-dia.


Algumas das características da criança com TDC:





  • desajeitada ou incoordenada em seus movimentos. Tromba em obstáculos, derrama ou derruba coisas com mais freqüência que crianças de mesma idade;



  • apresenta atraso no desenvolvimento de habilidades motoras grossas e finas; demora mais para aprender novas habilidades motoras;



  • tem dificuldade para fazer atividades que requerem o uso coordenado dos dois lados do corpo (ex.: recortar com tesoura, escrever, cortar alimento usando garfo e faca, agarrar bola e andar de bicicleta);



  • pode apresentar problemas emocionais secundários, como baixa tolerância à frustração, auto-estima diminuída e pouca motivação para fazer atividades esportivas; tem dificuldades para organizar sua carteira/mesa, armário, mochila, cadernos, ou mesmo os brinquedos;



  • mais lenta nas atividades escolares que exigem desempenho motor, como copiar do quadro, usar régua, fazer o dever de casa;



  • estão mais propensas a apresentar problemas acadêmicos, pouca competência social tendem a não participar voluntariamente de atividades motoras e têm menos oportunidades para fazer exercícios e manter boa forma física.

Dentre os profissionais envolvidos na atenção à criança que apresenta atraso motor, destaca-se o Terapeuta Ocupacional. Partindo da análise minuciosa das tarefas exigidas no contexto escolar e familiar, o terapeuta ocupacional pode sugerir estratégias para adaptar o ambiente e as tarefas, reduzindo, assim, a demanda motora o que vai melhorar o desempenho da criança. O terapeuta pode também recomendar atividades e brincadeiras, com desafio na medida certa, para estimular o desenvolvimento das habilidades motoras finas e grossas. O trabalho do terapeuta inclui a educação de pais, professores e demais profissionais da saúde sobre o que é o TDC e quais as melhores estratégias para facilitar o dia-a-dia da criança. Modificação do ambiente, adaptação de tarefas e o uso de estratégias cognitivas, são apenas alguns exemplos do que pode ser feito para melhorar o desempenho, a auto-estima e a qualidade de vida de crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação.



Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...