O ponto essencial da
intervenção nos primeiros meses de vida é a satisfação das necessidades
básicas. Umas destas necessidades é a alimentação. Precisamos tentar tornar o
momento da alimentação prazeroso por meio de um contato corporal agradável e do
olhar de um para o outro. A posição em que a criança vai ser alimentada deve
ser adequada e confortável para ela e para a mãe. Uma postura inadequada, como,
por exemplo, quando a criança está com retração de cabeça (cabeça para trás),
pode ser a causa de muitas dificuldades para engolir ou para conseguir ter o
contato visual com a mãe ou com a comida. Devemos sempre ter em mente posições
que ajudem a criança a se organizar para frente (enrolamento para frente), seja
no colo, na “calça da vovó” (calça de brim de adulto recheada com pedaços de
espuma) ou numa cadeira de bebê, se possível.
Se as dificuldades na
alimentação foram grandes, precisaremos da ajuda ou orientação de um
fonoaudiólogo como também de um médico para que as necessidades da criança
sejam supridas.
É importante observarmos e
respeitarmos o paladar da criança, a textura adequada da comida e o tempo de
que ela precisa para se alimentar. Nesta fase, a hora de comer deve ser usada
como ponto de ligação da criança com a mãe, e não se transformar em um momento
de “brigas” com a criança. Se estas dificuldades interferem na formação do laço
afetivo da criança com a mãe, uma outra pessoa poderá se encarregar de
alimentá-la.
Outra necessidade básica da
criança é o movimento. Se uma criança ainda não faz trocas posturais sozinha, é
importante planejar variações posturais durante o seu dia, de maneira que, de
tempos em tempo (por exemplo, a cada meia hora), bruços, sentada ou em pé no
colo do adulto. Estas mudanças proporcionam à criança novos estímulos táteis,
proprioceptivos, vestibulares e visuais.
Algumas vezes precisaremos
de mobília adaptada para proporcionar uma boa postura e prevenir deformidades
futuras. É importante cuidar para que braços e mãos não fiquem “largados” e
estejam sempre apoiados sobre uma almofada, mesinha ou o próprio corpo. Isto
lhe trará maiores chances de realizar movimentos com os braços e as mãos.
A criança precisa sentir-se
bem e segura na posição em que for colocada, especialmente se não formos ficar
juntos com ela naquele momento.
É importante que a criança,
aos poucos, aprenda a aceitar novas posturas e novas formas de ser manipulada
para progredir no seu desenvolvimento. Ficando por muito tempo em posições
inadequadas, a criança não poderá progredir nem interagir com o seu ambiente.
Por meio dos manuseios nos
cuidados diários, a criança vai ganhar os estímulos proprioceptivos necessários
para o seu desenvolvimento psicomotor.
Os momentos de higiene e
troca são muito ricos em interação. São a possibilidade de fazer novas
aprendizagens sensoriais, motoras, sociais e intelectuais. Por isso, é
importante que a criança seja manuseada de forma adequada, e que tenhamos tempo
disponível, pois o bebê vai precisar de tempo para se adaptar às situações.
A repetição destes momentos
de higiene e troca durante o dia vai ajudar a criança a reconhecer estas
situações, aceitá-las, e, muitas vezes, nestas circunstâncias é que aparecerá o
primeiro sorriso. Para tanto, é preciso que não haja mudanças nos lugares onde
o banho e as trocas acontecem. Alguns objetos como caixinha de música, luz ou
bonequinhos podem tornar estes lugares muito queridos. E é especialmente
importante que haja rotina. Observamos sempre suas expressões corporais, suas
mímicas e seu choro, pois é deste modo que a comunicação vai acontecendo.
As trocas posturais e as
manipulações nas horas do banho, do vestir, do carregar, e mesmo nos exercícios
durante as terapias que a criança freqüenta podem muitas vezes provocar choro.
Este choro geralmente acontece pelas dificuldades que a criança pode apresentar
em integrar as informações proprioceptivas, táteis e vestibulares que está
recebendo, e isto gera desconforto, susto e mesmo dor, que podem levar ao medo
do movimento. Choro é comunicação. Devemos atendê-lo prontamente, e, assim, a
criança vai percebendo que pode agir sobre o ambiente – comunicar-se. Com o
tempo vamos conhecendo melhor a criança e podemos saber se o choro é de
“reclamação”, dor ou mesmo de pavor. Saberemos, então, respeitá-la e até onde
poderemos ir naquele momento.
Para ajudar a criança a
integrar estas informações vestibulares, táteis e proprioceptivas, estes
manuseios precisam acontecer muitas vezes por dia dentro de uma rotina
conhecida pela criança e durante o tempo que for suportável para ela.
Poderemos utilizar algumas técnicas
que facilitam este processo de integração dos estímulos, como, por exemplo,
enrolar a criança numa pequena manta ou fralda e carregá-la desta maneira. Poderemos
oferecer um tipo de estímulo de cada vez (por exemplo, só estímulos táteis sem
muitos sons; observar se não estamos falando demais; observar se a luz do
ambiente não é muito forte) o que pode ajudá-la a se organizar.
O balanço proporciona um
estímulo vestibular que auxilia na integração das informações sensoriais pelo
cérebro. Podemos, assim, fazer do balanço um hábito antes de manipular a
criança, preparando-a para as manipulações. O balanço pode acontecer no próprio
colo do adulto ou colocando a criança num cobertor.
Muitas crianças gostam e
organizam-se melhor depois de uma tapotagem ou vibração óssea. Temos tido
também boas esperiências com a massagem Xantala (massagem indiana para
crianças). O importante é observar a criança e fazermos aquilo que ela gosta,
pois assim poderá integrar os estímulos que está recebendo. Jane Ayres diz que “gostar
significa integrar os estímulos”.
Todo o manuseio do bebê se
torna mais rico e agradável quando os pais conversam com ele, cantam para ele
suas canções preferidas, e fazem brincadeira. Logo o bebê será capaz de
reconhecer com quem está e de adaptar-se a esta pessoa.
Um momento agradável de
interação entre pais e a criança é o brincar juntos. São brincadeiras corporais
como balançar, brincar com as mãos, pés e barriga que proporcionam grande
satisfação nesta fase.
Podemos introduzir alguns
objetos como um bichinho de borracha ou boneca de pano, um chocalho, uma boa
macia, um móbile ou um brinquedo musical, que podem ficar pendurados como
móbiles próximos da criança e que, por isso, já chamam a sua atenção. Devemos
ter cuidado em escolher objetos que não machuquem quando a criança bater neles
acidentalmente.
Uma fralda, um
travesseirinho ou uma chupeta podem acompanhar a criança quando for levada a
lugares diferentes.
Precisamos encorajar e dar
oportunidades ao bebê (deitando-o de lado, por exemplo) para olhar para o rosto
das pessoas e para os objetos, assim como para começar a acompanhar visualmente
os deslocamentos dos objetos. Deste modo, terá chances de, antes mesmo de pegar
os objetos com as mãos, “pegá-los com os olhos”.
Este é o começo da interação
!
Atividades
e Brincadeiras para o Bebê
1. Carregá-lo
no colo.
2. Balançá-lo
no colo levemente.
3. Tocar
no seu corpo, suas mãos e seus pés.
4. Chamar
sua atenção falando com ele e aproximando nosso rosto do dele de forma que ele
possa observar o movimento dos nossos lábios e tentar imitá-lo.
5. Cantar
para ele as canções que já tenha ouvido durante a gravidez ou outras e ir
observando suas preferências.
6. Usar
uma caixinha de música no trocador da criança, estabelecendo um ritual nos
momentos de troca.
7. Fazer
do banho um momento de grande prazer, mas se a criança chora no banho, tentar
iniciar o banho com a criança posicionada de barriga para baixo, apoiada sobre
nossa mão e antebraço, e imersa na água para não sentir frio.
Fonte:
O bebê, o pequerrucho e a criança maior (Ursula Heymeyer e Loraine Ganen)