1 de jul. de 2009

As Histórias Infantis e o Faz-de-Conta no Mundo das Crianças


HISTÓRIAS INFANTIS E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

O contar uma história depende de vários fatores. É necessário, que se faça uma seleção de histórias de acordo com as etapas de desenvolvimento infantil, as condições sócio-econômicas e culturais, o graus de interesse e ambiente onde será realizada. É importante também considerar, o estilo e o gosto do narrador; entender e compreender a história para poder transmiti-la.
O interesse predominante em cada tipo de história, muda conforme a etapa do desenvolvimento da criança. Até três anos, a criança através dos contatos afetivos e pelo tato, passa a reconhecer a realidade que a rodeia. Destaca-se a conquista da própria linguagem, nomeando o que está a sua volta. Utiliza-se então, histórias de bichinhos, brinquedos, objetos, seres da natureza. É nessa fase que a criança começa a se relacionar com o espaço onde vive.
A partir dos dois/três anos, à descoberta do mundo concreto e da linguagem, se dá através de brincadeiras. As histórias são “carregadas” de imagem (desenho, gravuras, etc), e estas sugerem uma situação, significativa para a criança. As gravuras de traços simples, de fácil visualização tornam-se muito atraentes e interessantes à criança, assim como as histórias de repetição, com graça e humor também são atraentes para a criança dessa faixa etária.
Com seis/sete anos, a criança dá início a um processo de socialização e de racionalização da realidade. A imagem ainda predomina o texto, sendo a narrativa simples onde se desenvolve a situação. Os personagens são reais ou simbólicos, porém com caráter ou comportamento bem nítido (bom/mal, forte/fraco), destacando-se histórias de crianças, animais, encantamento (de fadas) e do cotidiano (família, comunidade).
Com oito/nove anos, a criança apresenta-se com um pensamento lógico organizado. As histórias giram em torno de uma situação central. O real e o imaginário despertam interesse, sendo mais comum as histórias de fadas mais elaboradas, histórias humorísticas e vinculadas à realidade.
Com dez/onze anos, a criança passa a compreender o mundo expresso nos livros, as histórias apóiam-se em reflexões. Os personagens que se destacam, são heróis. Encontramos histórias de aventuras, explorações, invenções, lendas, mitos e fábulas.
A história, além de proporcionar as crianças um momento de brincadeira, segundo Abramovich:

“É também suscitar o imaginário, é ter a curiosidade respondida em relação a tantas perguntas, é encontrar idéias para solucionar questões (como as personagens fizeram...). É uma possibilidade de descobrir o mundo imenso de conflitos, dos impasses, das soluções que todos vivemos e atravessamos – dum jeito ou de outro – através dos problemas que vão sendo defrontados, enfrentados (ou não), resolvidos (ou não) pelas personagens da cada história (cada um a seu modo) ... É a cada vez ir se identificando com outra personagem (cada qual no momento que corresponde àquele que está sendo vivido pela criança) ... e, assim, esclarecer melhor as próprias dificuldades ou encontrar um caminho para a resolução delas ...”

A história tem esse papel fundamental, na vida da criança; é um meio, um momento para a criança SENTIR e DESCOBRIR.

Quem não se lembra de uma história, que ouviu na infância, e que não encontrou em nenhum livro ?
As crianças encontram hoje, um mundo de imagens (desenhos, filmes, internet, etc), que proporcionam um outro tipo de linguagem e significado, diferente do encontrado nos livros. Estas imagens, que são muito distintas do livro (literatura infantil), também proporcionam à criança um meio para a brincadeira do faz de conta. Encontramos também, histórias infantis, que são criadas (por um adulto ou criança), a partir do momento em que conta a história; estas guardam em si, um momento único, onde a criança desfruta e se percebe.
O fato da história der inventada a partir do momento em que se conta, proporciona a criança, uma viagem sem limites, pois a criança não ficará restrita ao mundo da gravura/figuras. Estas histórias fazem com que a criança, crie e descubra um lugar, um personagem seu, que o mundo das imagens (incluindo os livros com gravuras) não saberia reproduzir.
É importante salientar, que as histórias infantis, seja ela contada por um adulto, uma criança, com o uso de imagens ou não, proporcionam a criança, o despertar de um sentimento mágico e o descobrir um mundo de conflitos e prazer.

O FAZ-DE-CONTA

Até pouco tempo atrás, acreditava-se que a criança quando brincava no seu mundo de faz-de-conta, estaria fora da realidade, fantasiando simplesmente.
Hoje, sabemos que isso não ocorre. A criança ao brincar de faz-de-conta, aprende a lidar com situações que o mundo lhe apresenta, formando sua personalidade. Esta fase no desenvolvimento da criança é de fundamental importância.

“... por meio das brincadeiras, as crianças se constituem como indivíduos, commum tipo de organização e funcionamento psicológicos próprios, utilizando certos meios comportamentais extraídos de seu registro de competências, em cada período da vida, e das aquisições e modificações que sua microcultura impõe.”

A criança, através da fantasia, do faz-de-conta, compartilha e constrói significado a partir do mundo que a rodeia, do seu cotidiano.
A brincadeira de faz-de-conta manifesta-se quando a criança transforma um objeto qualquer em sua brincadeira, dando-lhe uma função que não corresponde com a função real do objeto. Por exemplo, uma peça de encaixe em um telefone. Ou quando a criança transforma, pequenos espaços físicos, caracterizados por um objeto principal, de acordo com a atividade que está desenvolvendo. Por exemplo, um colchão, delimita o espaço de uma casa. A criança representa (geralmente do seu cotidiano) e recria um pequeno “texto”, com regras para as demais crianças.
Durante a brincadeira, a criança vai contando e interpretando o que vai acontecer na história, no faz-de-conta, quando a criança representa animais, com o uso do próprio corpo ou anima, objetos inanimados como por exemplo, conversas com as bonecas ou bichinhos de pelúcia, onde a criança recria situações.
Para estas transformações, a criança utiliza-se principalmente dos sentidos. O gesto (ao manusear objetos), a postura (ao imitar um bicho), o som (o barulho de um carro), palavras (que direciona a ação da criança) e frases (que dão significados ao ambiente e ao objeto).
Através destes recursos, a criança transforma o espaço real em brincadeira, de acordo com a experiência vivida ou observada, construindo um significado para aquele momento.

“As crianças usam os recursos do próprio corpo (gestos, posturas, vocalizações), associados aos recursos do ambiente (sucata, brinquedos, recantos) e trazem para o contexto da brincadeira: personagens e animais não presentes no ambiente; situações/atividades já experenciadas e por elas ou por outras pessoas do seu meio. Elas criam elos entre objetos e situações, entre expressões do próprio corpo (mímicas, vocalizações) e personagens e/ou situações já vividas ou apenas observadas por elas”.

Os recursos que a criança utiliza podem se apoiar em objetos similares ao real ou não. Observamos a partir daí, que o significado atribuído ao objeto ou a situação, são compartilhados e construídos entre as crianças, para que a brincadeira aconteça.
Diante disso, observamos que o faz-de-conta, encontra-se presente no dia-a-dia da criança, fazendo parte do seu desenvolvimento.
Segundo Michelman, o brincar é essencial na infância, capacitando-a para adquirir uma identidade própria, se descobrir e conhecer o meio que ao rodeia. Utiliza-se do termo “brinquedo criativo”. Esta abordagem, “é a expressão artística criativa que é uma forma universal de simbolização. A arte é também um campo seguro para o desabilitado (sic) praticar resolução de problema, ensaio e erro, e decisões. O comportamento criativo pode ser considerado como uma expressão saudável do eu e uma força que gera flexibilidade, improvisação e coragem para arriscar. Fortifica a capacidade da criança de competir mais apropriadamente e viver de modo mais confortável com a mudança e com o eu”.
Mas o que é brinquedo criativo ? O brinquedo criativo permite a reflexão e exploração através de materiais, objetos, idéias e sentimento. Assim, a criança lida com o significado e objetivo, procurando representar ou satisfazer seus desejos, engajando-se no processo criativo. Vemos então, que o brinquedo criativo explora, experimenta e transforma; a criança então, se descobre.
No faz-de-conta, a criança aprende a manipular símbolos, que estão presentes na sua realidade. O brinquedo do faz-de-conta é precursor da criatividade. Assim, a criança percebe o mundo em que vive, reagindo ao que vê e sente, através da expressão criativa.

AS HISTÓRIAS INFANTIS E O FAZ-DE-CONTA

Convém lembrar, que as histórias infantis tem um papel importante na vida de uma criança, assim como o faz-de-conta. Diante disso, vemos que ambos favorecem para que a criança lide com situações que lhe são apresentadas.
A criança assim que começa a ouvir uma história, acaba se identificando com um lugar, um personagem e passa a criar um mundo de faz-de-conta. Diante disso, a criança passa a estar com o brinquedo criativo, se transportando para este novo mundo, do faz-de-conta, que na verdade, tem muito em comum com o seu mundo de experiências e observações.
Porém, não é somente através de histórias que a criança brinca do faz-de-conta. A brincadeira do faz-de-conta, geralmente cria uma história que é contada pela criança através do brincar, e esta apresenta a mesma característica do brinquedo criativo.
A história e o faz-de-conta possibilitarão à criança representar através do pensamento simbólico, a desenvolver a habilidade de lidar com o mundo, auxiliando-a em seus conflitos, sentimento e idéias.

Fonte: Goldstein, Ariela. “Uma caixa de histórias”. PUC-Campinas, 2001

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