23 de jul. de 2009

A sessão de integração sensorial

A sessão terapêutica em si oferece uma ampla variedade de oportunidades para o surgimento de brincadeiras com objetivos voltados à integração. De acordo com a descrição de Bundy (1991), há um efeito interativo no qual a incorporação do brincar pode enfatizar o processo da integração sensorial, e o aperfeiçoamento desta permite o desempenho de capacidades lúdicas mais elaboradas.



No nível básico, a incorporação de temas pode tornar as atividades desafiadoras mais interessantes e pode encorajar um envolvimento de duração mais longa, em atividades para as crianças portadoras de uma disfunção de integração sensorial. Por exemplo, a criança que tem medo dos movimentos pode tolerar uma plataforma balançando, se for apresentado um tema de seu interesse, como uma nave espacial a caminho da lua. Ela consegue ficar no balanço mais tempo, se o envolvimento no tema lúdico instigar a motivação para, por exemplo, chegar até um planeta ou pegar uma estrela cadente. Em um nível mais complexo, a relação dinâmica entre a função da integração sensorial e o brincar pode servir para o desenvolvimento de capacidades na ideação, imaginação e socialização dentro do contexto da sessão terapêutica. Ayres (1985) descreve a ideação como um processo cognitivo que envolve o entendimento das possibilidades de ações do indivíduo em relação aos objetos ou outras pessoas. Ela afirma que a ideação é “básica na maioria das atividades infantis (o brincar) e em muitas ocupações dos adultos”. Como uma chave que pode destravar um mundo de possibilidades, a ideação permite que a criança comece a planejar o que quer fazer. Ela é quase palpável quando uma criança normal de cinco anos é observada em uma sala típica de terapia, na qual a abrangência da integração sensorial é praticada. Um novo equipamento suspenso é trazido para a sala e pode elucidar uma série completa de experimentos que testam as possibilidades da interação entre a criança e o brinquedo. Uma criança portadora de uma disfunção de integração sensorial, no entanto, pode apresentar falhas na percepção básica do corpo e na consciência das propriedades do objeto que são vitais para iniciar o processo de ideação.



A experiência da terapia é projetada para ajudar a criança a ser capaz de iniciar idéias e planos. Apesar do princípio da integração sensorial ser que a atividade é mais significativa se for “direcionada pela criança” (Clark et. al, 1989), uma criança que apresenta comprometimentos na ideação pode ser incapaz de direcionar suas ações. Ayres postulou que “se a ideação é limitada, o terapeuta deve ajudar a criança a selecionar uma tarefa simples e ajudar em seu planejamento e execução” (1985). Na maioria dos casos, a escolha de atividades simples o suficiente para a obtenção do sucesso requer mais capacidade e atenção da parte do terapeuta do que pensar em atividades complexas.



É provável que ajudar uma criança a iniciar-se na atividade “correta” promova o início de uma organização, garantindo dessa forma que uma experiência lúdica ocorra. Para que a brincadeira continue se desenvolvendo, a criança precisa passar por essas experiências, reconhecendo novas possibilidades e gerando novas idéias; do contrário, as ações permanecem limitadas e são prováveis de se tornarem fracas e rotineiras.



Apesar da imaginação ser um elemento básico da brincadeira típica, ela desenvolve-se apenas depois da criança dominar um entendimento complexo das propriedades do seu corpo, dos objetos e das pessoas. Grande parte da imaginação provavelmente é relacionada à ideação, ou conceitualização de possibilidades para ação. Algumas crianças têm funções deficientes na integração sensorial, que parecem ameaçadas por temas imaginários. Isso frequentemente ocorre em crianças autistas que parecem, por exemplo, incapazes de lidar com a consideração de, digamos, um escorregador como qualquer outra coisa que não seja um escorregador e certamente nunca irão imaginá-lo como uma ponte levadiça para um castelo. Esta tendência também é vista em algumas crianças com dispraxia severa, que parecem ter a necessidade de lidar com os objetos em termos concretos, com pouco espaço para experimentação ou a ambigüidade. Talvez a terapia para estas crianças precise ser iniciada ajudando-as a sentir-se suficientemente seguras com seu corpo, a fim de experimentarem com o fingimento que ela ou um objeto assume uma função que na realidade não existe. Para as outras crianças, o uso da brincadeira imaginária na terapia pode ser um motivador importante para experimentar movimentos incomuns ou difíceis, para interpretar uma história. Parham (1992) nota que as figuras super-humanas são sempre apelativas para as crianças pequenas “O tema super-humano pode ser especialmente saliente para as crianças com problemas na integração sensorial e que experimentam sentimentos de impotência diariamente”. A brincadeira imaginária sempre ajuda uma criança a dar continuidade a uma atividade difícil e tentar ações cada vez mais desafiadoras. Uma menina pequena com extrema insegurança gravitacional foi uma vez observada utilizando um cenário com pisca-pisca de natal durante toda a sessão de tratamento. Ela estava tão motivada com a idéia de decorar sua casa imaginária, que quase não percebeu a altura que havia escalado ou a superfície precária na qual estava apoiada aos segurar seus acessórios de decoração. Portanto, ajudar uma criança a ser capaz de sentir conforto usando a imaginação e saber como usar o brincar imaginário no tratamento são partes essenciais da abrangência da integração sensorial.



Mesmo os aspectos mais elementares da brincadeira social podem ser difíceis para uma criança portadora de uma disfunção de integração sensorial. Tolerar outra criança pelas redondezas é difícil para uma criança com defesa sensorial, assim como atravessar uma sala sem destruir a construção de blocos de uma outra criança pode ser arriscado para os portadores de dispraxia.
O ambiente da terapia oferece um porto seguro para experimentar novas capacidades sociais sob a supervisão de um terapeuta que pode ajudar a criança a entrar, negociar e afastar-se das interações com parceiros.



Além de promover o brincar por meio da preparação e desempenho nas sessões do tratamento, um terapeuta ocupacional pode facilitar a brincadeira no componente acompanhamento. A inclusão da família no processo terapêutico é uma forma muito importante de atingir este objetivo. Quanto mais os membros da família entendem as dificuldades que a criança está tendo e os tipos de atividades que lhe são proveitosos, tornam-se mais equipados para ajudar a criança em outros ambientes.

Fonte: Parhan & Fazio; A Recreação na Terapia Ocupacional Pediátrica.

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