4 de dez. de 2009

Integração Sensorial e Comunicação


Fala e linguagem, como outros processos de integração sensorial, são respostas adaptativas para as quais temos uma capacidade genética. Elas se desenvolvem como resultado de entrada sensorial do ambiente. A interação entre o desenvolvimento da habilidade de se comunicar através da linguagem e a habilidade geral de organizar e integrar entrada sensorial para o uso são circulares. (Windek $ Laurel).
A experiência clínica tem demonstrado que, a melhoria da integração sensorial implica não só em uma melhoria da aquisição da fala/linguagem mas também na habilidade da criança de responder adaptativamente nos processos de integração sensorial. São progressos que se alimentam reciprocamente.
O bebê necessita da habilidade de processar a entrada sensorial para que adquira o sentimento de segurança emocional necessário para se comunicar com o ambiente e as pessoas. Muitas crianças com disfunção de integração sensorial têm dificuldade em manter o nível da alerta necessário para essa comunicação (verbal ou não verbal). Outras, por dificuldades no processamento sensorial, tem dificuldade no processamento visual, tátil, etc. O processamento do sistema tátil é neurologicamente ligado a outras modalidades sensoriais e tem um efeito significativo nos acontecimentos emocionais e sociais da vida da criança (Short-DeGraff). A exploração do mundo pelo bebê é centrada na boca. O feedback das primeiras experiências sensoriais é essencial para a habilidade de planejamento motor oral e para a coordenação de padrões refinados de movimento para criar as mudanças sutis que a fala exige. Short-DeGraff acredita que a aquisição de linguagem pode realmente dirigir a discriminação tátil conforme a criança começa a parear sensações específicas com o significado das palavras.
Existe uma hierarquia de pré-requisitos para o desenvolvimento da comunicação (Oetter e Laurel). Qualquer intervenção tem de ser feita a um nível abaixo daquele que se encontra prejudicado; não é possível iniciar uma terapia focalizando comunicação e cognição quando o problema se encontra em um nível inferior.
O mecanismo de alerta em termos de relação entre comportamento de sobrevivência e discriminativos precisa ser equilibrado para que a criança possa avançar dentro da hierarquia até chegar ao nível de comunicação e cognição. Obviamente, o nível de alerta depende da maturação do sistema nervoso e é puramente uma questão de integração sensorial. Para que uma sessão de terapia, seja ocupacional ou fonoaudiológica, é fundamental o conhecimento dos padrões de alerta da criança, para que possa ser modulado através de entrada sensorial dirigida e respostas adaptativas monitoradas de muito perto.





Quando as necessidades da alerta da criança são atingidas, ela é capaz de se engajar em comunicação tanto com as pessoas quanto com o ambiente. A interação da criança com os pais é fundamental para seu desenvolvimento. Essa comunicação é recíproca e a resposta dos pais afeta profundamente a capacidade da criança de responder. Alguns atributos individuais que afetam a comunicação são habilidades de responder, acalmar, curiosidade, intensidade de sinal e habilidade de organização. Esses atributos estão claramente ligados à habilidade da criança de organizar entrada sensorial durante os primeiros estágios de desenvolvimento. É dentro deste relacionamento que os pais se tornam competentes para dar a estimulação apropriada e para organizar e conferir sentido aos primeiros gestos e vocalização. Se entretanto a criança não for capaz de participar muito ativamente dessa comunicação, os atrasos começam a acontecer e existem falhas na comunicação, as quais frustram tanto os pais quanto a criança. O atraso começa a acontecer nos primeiros estágios do desenvolvimento mas, só vai ser claramente observável pelo observador leigo quando a criança atinge a fase de comunicação verbal. Antes disso é possível observar alguns sinais que levam ao reconhecimento de dificuldade de comunicação tais como, problemas respiratórios freqüentes, excesso ou falta de exploração oral, falta de expressão facial ou falta de disponibilidade para a comunicação por excesso de atividade motora.

Raramente uma criança é encaminhada para terapia ocupacional por problemas de fala. Evidentemente, a existência de um atraso na comunicação justifica um encaminhamento para a fonoaudióloga. Entretanto, há alguns problemas de fala que levam à suspeita de que a dificuldade em integração sensorial (DIS) seja a raiz do problema.

● O caso que mais chama a atenção é da criança que tem um problema de articulação. Se esse fato ocorre isoladamente, deve-se observar a criança cuidadosamente. Será que a criança tem algum indicador de mau processamento sensorial ? Muitas vezes, a criança tem um problema de planejamento motor. Da mesma forma que essa criança vai ser desajeitada para tarefas motoras, será desajeitada para a parte motora da fala – a articulação. São geralmente crianças bastante inteligentes mas que têm uma incapacidade de produzir alguns sons. A criança com DIS, provavelmente não terá desenvolvido um esquema corporal bom o suficiente para saber instintivamente como posicionar os lábios e a língua para produzir os sons. Provavelmente também terá dificuldade no controle respiratório para emissão de sons.

● Outro problema de linguagem que é comum entre as crianças com DIS é a dificuldade no seqüenciamento. Será difícil para essa criança organizar os pensamentos para seqüenciar as palavras em uma sentença, a sentença para organizar uma estória e assim por diante. Muitas vezes essa criança também tem dificuldade em perceber onde é a sílaba tônica da palavra tendendo a pronunciá-la com o acento no lugar errado. A dificuldade em seqüenciamento também afeta a capacidade de imprimir um bom ritmo à fala. Esta pode ser demasiadamente lenta ou rápida, levando às vezes a problemas de disfluência.

● O tônus muscular baixo, presente em muitas crianças com DIS, frequentemente causa problemas com controle de saliva, manutenção de postura bucal e controle respiratório.

● A dificuldade com propriocepção pode fazer com que a criança tenha problemas com modulação de voz. Pode falar com voz sempre alta ou baixa demais. Pode também ter o timbre de voz inadequado, com voz muito fina ou muito grossa.

Vários estudos têm demonstrado que a terapia feita em conjunto por profissionais das duas áreas concomitantemente é o mais indicado e que oferece resultados melhores. Entretanto, isso nem sempre é possível. Deve-se ter em mente entretanto que os resultados serão mais positivos se ambas as terapias ocorrerem ao mesmo tempo e ambos os profissionais tiverem um bom entendimento da raiz do problema e onde ele ocorre dentro de uma hierarquia.

Fonte: Oetter & Laurel / Short-DeGraff – Human Development for Occupational and Physical Therapists /Baltimore – Willians and Williams / Greenspan – Fisrt Feelings New York ( Preparado por Heloiza Goodrich)

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Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...