24 de abr. de 2012

O que é Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação ?

Transtorno do Desenvolvimento da Coordenação (TDC) (APA, 2000) ocorre quando há atraso no desenvolvimento de habilidades motoras ou dificuldades para coordenar os movimentos, que resultam em incapacidade da criança para desempenhar as atividades diárias. O diagnóstico pode ser feito pelo médico, que vai se certificar de que:

1) os problemas de movimento não são devidos a qualquer transtorno físico,
neurológico ou comportamental conhecidos;

2) se mais de um transtorno está presente. As características das crianças com
TDC geralmente são notadas primeiro por aqueles mais chegados a elas, pois as dificuldades motoras interferem no desempenho acadêmico ou nas atividades de vida diária (ex.: vestir, habilidade para brincar no parquinho, escrita, atividades de educação física).

Acredita-se que o TDC afete 5% a 6% das crianças em idade escolar e tende a ocorrer mais freqüentemente em meninos. O TDC pode ocorrer sozinho ou pode estar presente na criança que também tem distúrbio de aprendizagem, dificuldade de fala/linguagem e/ou transtorno do déficit de atenção. Neste livreto, as dificuldades motoras discutidas são aquelas mais freqüentemente observadas em crianças com transtorno do desenvolvimento da coordenação.

Como Ocorrem as Dificuldades de Coordenação?

Não há uma resposta simples para esta pergunta, pois as dificuldades de coordenação
motora podem surgir por várias razões. Problemas podem ocorrer nas diferentes fases, a medida que as informações são processadas e usadas para desempenhar movimentos com habilidade. Nós estamos constantemente recebendo informações do ambiente que nos rodeia por meio dos vários sentidos.
 
Processo 1: A primeira possibilidade é que a criança pode ter dificuldade em interpretar e integrar a informação que está sendo recebida através da visão, tato, equilíbrio, posição das articulações ou pelo movimento dos músculos.

Processo 2: A segunda possibilidade é que a criança tem dificuldade para escolher o tipo de ação motora apropriada para a situação. Para selecionar uma ação, a criança tem que considerar o contexto no qual a ação acontece (ex.: A criança que está se aproximando para subir na calçada deve compreender que dar um passo para cima é mais ou menos como subir escada).

Processo 3: A terceira possibilidade é de que a criança pode ter dificuldade para formular o plano de ação na seqüência correta. A criança tem que organizar os requerimentos motores da tarefa numa seqüência de comandos, que comunicam aos músculos como desempenhar a ação requerida (ex.: Quando a criança se aproxima de degraus, ela tem que transferir o peso para uma perna antes de levantar a outra).

Processo 4: Finalmente, a mensagem que está sendo enviada aos músculos tem que
especificar a velocidade, força, direção e a distância a que tais músculos vão ser
movimentados. Quando a criança tem que se movimentar ou responder a alguma
bola em movimento), essas mensagens também têm que mudar. A criança pode ter
dificuldade para monitorar essa informação ou modificar as mensagens, para guiar e
controlar os movimentos, enquanto eles ainda estão ocorrendo.

Em resumo, a criança pode ter dificuldade para analisar as informações sensoriais do
ambiente; usar essas informações para selecionar o plano de ação desejado; dar seqüência aos movimentos motores individuais da tarefa; enviar a mensagem correta para produzir uma ação coordenada; ou integrar todas essas ações de modo a controlar o movimento enquanto ele está ocorrendo. O resultado de qualquer um desses problemas é o mesmo. A criança vai parecer incoordenada, desajeitada, e vai ter dificuldade para aprender e desempenhar tarefas motoras novas.

Aspectos Característicos de Crianças com TDC

Quando descrevemos crianças com TDC, é importante reconhecer que elas formam um grupo muito variado. Algumas têm dificuldade em várias áreas, enquanto outras
podem ter problemas apenas com certas atividades.

Listamos abaixo algumas das características mais comunsque podem ser observadas na criança com TDC.

Características Físicas

1. A criança pode parecer desajeitada ou incoordenada em seus movimentos. Ela pode trombar, derramar ou derrubar coisas.

2. A criança pode ter dificuldade com habilidades motoras grossas (corpo inteiro), habilidades motoras finas (usando as mãos) ou ambas.

3. A criança pode ter atraso no desenvolvimento de certas habilidades motoras, tais como: andar de velocípede ou bicicleta, agarrar bola, manejar faca e garfo, abotoar a roupa e escrever.

4. A criança pode apresentar discrepância entre suas habilidades motoras e habilidades em outras áreas. Por nexemplo, as habilidades intelectuais e de linguagem podem ser altas, enquanto as habilidades motoras atrasadas.

5. A criança pode ter dificuldade para aprender habilidades motoras novas. Uma vez
aprendidas, certas habilidades motoras podem ser desempenhadas muito bem, enquanto outras podem continuar a ser desempenhadas de maneira pobre.
 
6. A criança pode ter mais dificuldade com atividades que requerem mudança constante na posição do corpo, ou adaptação a mudanças no ambiente (ex.: futebol, beisebol, tênis ou pular corda).

7. A criança pode achar difíceis as atividades que requerem o uso coordenado dos dois lados do corpo (ex.: recortar com tesoura, cortar alimento usando faca e garfo, fazer polichinelo, segurar um bastão com duas mãos para acertar na bola, ou manejar o bastão de hockey).

8. A criança pode apresentar equilíbrio pobre e/ou evitar atividades que requerem essa habilidade.

9. A criança pode ter dificuldade em escrever. Essa é uma atividade que envolve
interpretação contínua da resposta dos movimentos da mão, enquanto novos movimentos são planejados, o que é muito difícil para a maioria das crianças com TDC.

Características Emocionais/Comportamentais

1. A criança pode parecer desinteressada em certas atividades, ou as evita, especialmente aquelas que requerem resposta física. Para a criança com TDC, habilidades motoras são muito difíceis e requerem mais esforço. O fracasso repetido pode fazer com que ela evite participar de tarefas motoras.

2. A criança pode sofrer problemas emocionais secundários, como baixa tolerância à
frustração, auto-estima diminuída e falta de motivação, devido aos problemas para lidar com atividades corriqueiras, requeridas em todos os aspectos da vida.

3. A criança pode evitar socialização com os colegas, principalmente no parquinho.
Algumas crianças procuram crianças mais jovens para brincar, enquanto outras vão
brincar sozinhas. Isso pode ser devido à baixa autoconfiança ou tendência a evitar
atividades físicas.

4. A criança pode parecer insatisfeita com seu desempenho (ex.: apaga trabalho que
escreveu, queixa-se do desempenho em atividades motoras, mostra-se frustrada com o produto do trabalho).

5. A criança pode se mostrar resistente a mudanças na sua rotina ou no ambiente. Se ela tem que fazer muito esforço para planejar a tarefa, depois, mesmo uma pequena mudança na forma de desempenhá-la pode representar um grande problema.

Outras Características Comuns

1. A criança pode ter dificuldade em balancear a necessidade de velocidade com a de
exatidão. Por exemplo, a letra pode ser muito boa, mas a escrita é extremamente lenta.
 
2. A criança pode ter dificuldades acadêmicas em certas disciplinas como matemática, ditado ou redação, que requerem escrita correta e organizada na página.

3. A criança pode ter dificuldade com atividades de vida diária (ex.: vestir-se, usar faca e garfo, dobrar as roupas, amarrar sapatos, abotoar e manejar fechos de correr/zipper, etc.).

4. A criança pode ter dificuldade para completar o trabalho dentro de um espaço de
tempo normal. Uma vez que as tarefas requerem muito mais esforço, ela pode ficar mais inclinada à distração e tornar-se frustrada com uma tarefa rotineira.

5. A criança pode ter dificuldades, em geral, na organização de sua carteira/mesa,
armário, dever de casa ou mesmo do espaço na página.

Se a criança mostrar qualquer uma das características acima e se esses problemas estão interferindo em sua habilidade de participar com sucesso em casa, na escola ou no parquinho, é importante que ela faça uma consulta ao médico da família ou ao pediatra. O médico pode, então, encaminhá-la para um outro profissional de saúde, no centro de tratamento mais próximo. Visto que a criança, geralmente, tem dificuldade com atividades de autocuidado e tarefas escolares, esse profissional de saúde muitas vezes será um terapeuta ocupacional.

Não é incomum que os pais ou professores sejam informados de que a criança vai superar esse distúrbio (Fox & Lent, 1996; Polatajko, 1999). Entretanto, estudos têm mostrado, de maneira bem conclusiva, que a maioria das crianças não supera esses problemas. Embora estas crianças possam aprender a fazer bem certas tarefas, vão continuar a ter dificuldade com tarefas novas, apropriadas para a idade. Além disso, elas estão mais propensas a apresentar problemas acadêmicos, pouca competência social, baixa auto-estima e têm menos chances de manter boa forma física ou participar voluntariamente de atividades motoras (veja Missiuna, 1999 para uma revisão desses estudos).
 
Fonte: Cheryl Missiuna, Ph.D., O.T. Reg. (Ont.)

Tradução: Lívia C. Magalhães, Ph.D., TO (UFMG). Revisão: Jacinta Ribeiro

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