Ao trabalhar com crianças que exibem problemas nas áreas emocional e de comportamento, outros fatores precisam ser incluídos no desenvolvimento de um ambiente terapêutico. A seguir são apresentadas sugestões para a construção de um ambiente lúdico para crianças que exibem problemas emocionais e de comportamento no período da segunda infância (de 6 à 12 anos).
1. O ambiente lúdico deve ter vários parceiros. O terapeuta pode começar por uma situação individual, mas assim que possível, um parceiro deve ser incluído. Os parceiros e grupos são dominantes durante a segunda infância e é nessa arena que as crianças portadoras de problemas emocionais frequentemente sentem mais dificuldades. Além de dividir os materiais e equipamentos, elas também precisam compartilhar o espaço e a atenção dos outros, e é dentro de um grupo pequeno que isso pode ser aprendido e praticado.
2. Os programas devem ser conduzidos dentro de modelos naturais de atividade infantil, nos quais as artes e os jogos sejam enfatizados. O Terapeuta Ocupacional precisa examinar o processo na atividade e não ficar preso no produto do jogo ou da arte. As artes e os jogos devem ser vistos em três principais dimensões, para que sua dificuldade possa ser rapidamente intensificada ou reduzida, de acordo com o nível das crianças do grupo. As dimensões das complexidades cognitiva, motora e social de uma atividade precisam ser consideradas em separado com esta população. Complexidade Cognitiva significa uma mistura de processos de resolução de problemas que envolvem etapas de controle e domínio das capacidades necessárias dentro de cada etapa. As atividades devem ser examinadas a partir do número de etapas que exigem, sequencia e complexidade das etapas e do montante de paciência e persistência exigidas na solução do problema. Paciência e persistência são capacidades de controle que as crianças estão aprendendo a desenvolver. Elas costumam ser muito críticas quanto ao seu próprio trabalho e ficam frustradas quando ele não se parece como o modelo. As crianças, durante este período, estão começando a construir projetos e precisam ser encorajadas e persuadidas a seguir as etapas até o fim. Em termos de complexidade motora, uma atividade deve ser examinada em relação à intensidade do controle motor fino ou motor visual exigida e se a criança tem ou não capacidades suficientes nesta área. Além dos problemas nos campos social e emocional, as crianças podem apresentar déficits na integração motora visual, identificados na avaliação ao longo dos anos. Os distúrbios de aprendizagem são proeminentes em algumas disfunções psiquiátricas da infância (Lewis, 1991). Complexidade social significa as oportunidades que a situação oferece para a divisão e a cooperação no uso dos materiais, espaço e atenção e interação com os adversários e adultos. Em geral, é na complexidade social de uma situação que as crianças portadoras de problemas emocionais têm mais dificuldades. Por este motivo, os terapeutas podem simplificar os componentes motores e cognitivos, ou torná-los menos complexos, para que as características sociais da situação possam ser aprendidas e enfatizadas. Por exemplo, as crianças sempre cooperam e conversam umas com as outras com mais frequência quando estão engajadas em atividades repetitivas simples, como enfileirar contas de tamanho médio, porque controlam as demandas da tarefa com mais facilidade. É importante o terapeuta ocupacional conhecer os diferentes processos que uma atividade exige, afim de que os objetivos sociais que estejam almejando possam ser direcionados.
3. O tratamento deve ser embutido nas atividades infantis naturais deste estágio. Isso inclui a ênfase nos clubes, escotismo ou em pequenos grupos que tenham uma identidade distinta. As crianças desta idade procuram “pertencer”, ou fazer parte de algo, e os grupos organizados como o escotismo ou clubes organizados informalmente servem para esta necessidade.
4. As regras são o principal enfoque na segunda infância e devem ser estabelecidas para cada sessão de tratamento ou grupo. As regras de segurança e normais gerais de procedimento devem ser estabelecidas pelo terapeuta e as consequências da obediência ou violação precisam ser conhecidas pelas crianças. Estas regras têm a ver com as expectativas de comportamento do terapeuta sobre a forma que o grupo ou sessão deve proceder. Elas podem incluir coisas como sentar à mesa ao entrar na sala, ou não tocar os materiais até que sejam sugeridos, ou fazer revezamentos. As crianças também devem ter a oportunidade de construir regras e o terapeuta pode sugerir áreas como justiça, ouvir e falar gentilmente com os outros. “As mãos não podem ficar inquietas” e “os pés têm que ficar no chão” são exemplos de regras que as crianças construíram para lidar com o respeito ao espaço pessoal alheio. A obediência às regras podem ser promovida por frases verbais ou símbolos concretos para os esforços positivos, como premiação com adesivos. As crianças portadoras de problemas de comportamento e emocionais frequentemente têm dificuldades em identificar quando fizeram alguma coisa “certa” e uma recompensa concreta de um adesivo sempre serve para este objetivo. O terapeuta ocupacional precisa estabelecer um sistema de organização para o grupo. Isso deve incluir os comportamentos que constituem violação de regras e as consequências da violação.
5. Os materiais e o espaço precisam ser estabelecidos antes da reunião do grupo. Isto é particularmente essencial no trabalho com grupo de crianças que têm dificuldades em concentrar-se e desempenhar atividades. Esta sugestão é simples e direta. Se o terapeuta está despreparado e começa a coletar os acessórios necessários para a atividade depois das crianças terem chegado, uma das crianças ou um grupo pode perder a concentração e necessita-se mais tempo no restabelecimento da atenção dos membros do que na atividade planejada.
Estas sugestões formam alguns parâmetros para o estabelecimento de uma “estrutura” durante o trabalho com as crianças que exibem problemas no controle do comportamento. “Estrutura” é o termo usado no acervo da terapia para descrever os processos sociais que afetam os pacientes, do ponto de vista terapêutico. Ele refere-se à organização do tempo, espaço e atividade (Gibson e Richert, 1993). Este processo não é especificamente definido. Os terapeutas ocupacionais e os profissionais de outras disciplinas, que trabalhem com a psiquiatria, dão os créditos à estrutura do ambiente quando tudo vai bem e referem-se à suas falhas ou ausência quando os pacientes estão desatentos e descontrolados. No trabalho com as crianças, a estrutura tem a ver com a captura da atenção e do interesse, e do direcionamento da atividade para o nível de capacidade dos membros do grupo. Esta estruturação é desempenhada dentro de um ambiente que tenha limites temporais e espaciais definidos, no qual os códigos da conduta comportamental sejam explícitos.
Fonte: A recreação na terapia ocupacional pediátrica (Parhan)