Partindo da premissa de que
a integração das informações sensoriais presentes no meio é vital para o
desempenho ocupacional no meio é vital para o desempenho ocupacional e
aprendizagem, os transtornos de processamento sensorial (TPS) exercem impacto
funcional importante.
As necessidades individuais de cada criança direcionam os
objetivos da intervenção e o processo terapêutico. Em linhas gerais, o
terapeuta deve oferecer oportunidades sensoriais e proporcionar segurança;
manter os níveis apropriados de atividade; favorecer o controle postural, a
organização do comportamento e as praxias; colaborar na escolha da atividade e
ajustar os níveis de desafio da cada atividade; assegurar que a criança obtenha
êxito e prazer na execução das atividades; apoiar a motivação intrínseca da
criança; e estabelecer uma aliança terapêutica.
Ayres define alguns princípios que organizam o processo
terapêutico de modo a torná-lo fiel à metodologia de IS. No entanto, na
presença de TEA associados, faz-se necessária a adaptação de alguns desses
princípios para melhor adequação das intervenções terapêuticas, a saber:
1. A terapia é um processo dinâmico que
envolve a participação efetiva da criança:
Segundo
Ayres, a motivação interna observada na criança justifica sua aproximação a
atividades que solicitam organização neurossensorial. Com ações motoras, fala
ou intenção comunicativa, ela indicará com o que deseja brincar, o que deseja
explorar ou experimentar.
Uma
das maiores dificuldades na aplicabilidade da terapia de integração senroail a
crianças dom TEA encontra explicação neste princípio, uma vez que a
identificação da motivação interna, nesses casos, pode ser complexa e, por
vezes, confundida por sua natureza.
Ayres
define que a participação da criança deve ser efetiva, que a motivação
intrínseca deve ser observada e utilizada durante o processo terapêutico, e que
a criança deve conduzir a terapia. No caso da criança TEA associado, o
terapeuta deve observar os comportamentos com cautela, na tentativa de
identificar aqueles que fornecem pistas sobre suas necessidades sensoriais.
Comportamentos de desorganização, desequilíbrio do nível de atividade e
descontrole do estado de alerta podem auxiliar na identificação de informações
sensoriais que não estão corretamente integradas. Comportamentos de regulação
de nível de atividade e manutenção do estado de alerta também podem ser
excelentes guias para o processo terapêutico com a participação efetiva da
criança.
O
terapeuta deve ser a escuta e a observação, mas não a fala ou a execução. O
respeito à motivação intrínseca da criança, à liberdade de exploração, à
motivação pelo compromisso com a atividade e à diminuição do direcionamento
verbal ou motor garante a fidelidade a esse princípio em crianças com TEA
associados aos transtornos de processamento sensorial.
2. Os
estímulos sensoriais são controlados para eliciar uma resposta adaptativa:
Segundo
Ayres, resposta adaptativa é uma ação apropriada a uma determinada demanda
ambiental. Na terapia, o terapeuta deverá manter o equilíbrio entre a
necessidade e a liberdade de escolha, podendo controlar as entradas sensoriais
e, assim, ajustá-las sem sobrecarregar nem frustrar a criança. Inicialmente,
controlar essas sensações pode ser trabalhoso, uma vez que algumas situações
dependerão de brincadeiras passivas ou de estimulação sensorial para motivar o
envolvimento e despertar a necessidade individual. O terapeuta pode
aproveitar-se da necessidade de nutrição sensorial do SNC para iniciar o
processo terapêutico e eliciar respostas mais simples, embora funcionais.
Em
indivíduos com TEA, o transtorno de integração sensorial deve favorecer
respostas adaptativas que, usualmente, incluem conseguir controlar as entradas
sensoriais e equilibrar o estado de alerta. Registrar adequadamente informações
sensoriais e atribuir significado a experiências sensoriais também podem ser as
primeiras respostas adaptativas eliciadas pela oferta de estímulos organizados
e controlados. Organizar o ritmo, a duração e o sequenciamento de movimentos,
ações, tarefas ou atividades são respostas adaptativas importantes.
Geralmente
é apropriado modificar uma atividade, em vez de substituí-la. Portanto, inserir
ou retirar estímulos orientando-os para a emissão do comportamento pode
facilitar o engajamento da criança. Na criança com TEA, a retirada de uma
informação sensorial prazerosa é comumente difícil, e se torna necessário
adequar o estado de alerta e o nível de atividade a cada intervenção do
terapeuta.
Cabe
ao terapeuta orquestrar o equilíbrio entre demanda sensorial e necessidade da
criança, ajustando o desafio na medida certa para promover desafios e
resoluções de problemas e organização do comportamento.
3. A
graduação de desafios promove consolidação e amadurecimento de comportamentos:
Para
que comportamentos complexos e mais amadurecidos aconteçam, condutas mais
primitivas devem ser consolidadas.
Os
desafios propostos na terapia devem respeitar o desenvolvimento, aumentando
gradativamente a demanda sensorial e a complexidade da tarefa. No processo
terapêutico, podem-se eleger níveis de atenção, de acordo com a complexidade de
demanda do comportamento.
A
preocupação inicial deve incluir a adequação do registro sensorial e o
equilíbrio do estado de alerta. Posteriormente, trabalha-se a habilidade para
sustentar o nível de alerta e a organização do tempo e ritmo das atividades. Em
um nível mais complexo, segue-se com o conhecimento, a ideação e a antecipação
de ações, e com a organização e planejamento motor.
Ressalta-se
que algumas atividades dependem de respostas mais simples, enquanto outras
requerem sequenciamento de etapas, coordenação temporal, intenção comunicativa,
habilidades motoras e inter-relação pessoal.
4. O ambiente terapêutico proporciona
suporte emocional e variabilidade de ofertas sensoriais:
O
ambiente terapêutico contempla uma sala com equipamentos suspensos e recursos
que possibilitam grande variabilidade de ofertas sensoriais (tátil, vestibular,
proprioceptiva, auditiva, visual, olfativa e gustativa) e a presença de um
terapeuta que deve promover suporte físico, emocional e motivacional.
O
terapeuta deve garantir que a criança não corra perigo de machucar-se ou
ferir-se, e deve ainda, estabelecer confiança para que a criança se permita assumir
desafios e arriscar-se com suporte e em segurança.
O
ambiente é o ponto de partida para a motivação da criança com TEA. Nesse
ambiente, as informações sensoriais serão oferecidas, controladas e
organizadas. O uso de imagens dos equipamentos e das atividades realizadas na
sala de IS auxilia na motivação, na organização e na compreensão da atividade.
5. As
atividades sensoriais têm componentes lúdicos e significativos:
No
processo terapêutico, o engajamento da criança é determinante. Atividades
lúdicas e sensoriais devem incentivar a participação da criança e a resolução
de problemas, aumentando ou diminuindo o nível de atividade e equilibrando o
estado de alerta. O terapeuta deve garantir que a criança vivencie experiências
de sucesso, gerando satisfação e prazer que impulsionem a busca de novos
desafios e intensifiquem a capacidade de planejamento.
Por meio de atividades lúdicas e com
a participação efetiva da criança, a terapia de integração sensorial propicia
oportunidades para que informações sensoriais contextualizadas sejam recebidas
de maneira organizada e intensificada, com vistas a minimizar problemas de
processamento e, portanto, a facilitar melhor desempenho e promover
aprendizagens.
A terapia de integração sensorial
tem como objetivos gerais: promover registro e modulação adequada; favorecer a
manutenção e a sustentação do nível de alerta; facilitar o planejamento de
respostas adaptativas; enriquecer o repertório de comportamentos adequados;
encorajar a organização de comportamentos funcionais; e intensificar o
desempenho ocupacional.
Quanto aos objetivos específicos,
são determinados individualmente, já que dependem das necessidades e
particularidades de cada criança. Para exemplificar, pode-se citar:
-
diminuição das respostas aversivas à informações táteis presentes nas tarefas
cotidianas para facilitação do desempenho em atividades de autocuidado;
-
diminuição da hiper-responsividade sensorial e facilitação da sustentação do
nível de alerta para eficiência em diversos contextos de desempenho
ocupacional;
-
otimização do domínio em jogos com significado e propósito;
-
diminuição da hiporresponsividade com incremento do repertório de respostas
para facilitar a atenção e a destreza na realização de atividades cotidianas;
-
melhora da tolerância ao contato físico e da participação em atividades em
grupo, com diminuição da hiper-responsividade sensorial;
-
melhora da capacidade de imitação e de antecipação de eventos, facilitando a
organização de rotinas;
-
otimização do planejamento motor e da resolução de problemas para aprimorar o
desempenho ocupacional.
Podem
ser necessárias adaptações no domicílio para a organização da rotina diária da
criança.
Um
programa de nutrição sensorial pode complementar o tratamento clínico,
enriquecendo o repertório de experiências sensoriais e garantindo que a criança
receba adequadamente, ao longo do dia, sensações agradáveis e incentivadoras
que reduzam comportamentos de agitação, irritabilidade e evitamento.
O
terapeuta ocupacional pode indicar estratégias sensoriais que facilitem mais
independência e autonomia nas atividades diárias. Esse profissional
especializado no método de integração sensorial, analisa as atividades e
levanta componentes sensoriais, funcionais e emocionais existentes nessas
atividades para intervenção adequada tanto nas atividades de vida diária quanto
nas de lazer e acadêmicas.
Fonte: Livro: Trantorno do Espectro do Autismo (parte do texto de: Aline Momo e Claudia Silvestre)