27 de jun. de 2013

PARTICULARIDADES DA TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL NOS TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO



Partindo da premissa de que a integração das informações sensoriais presentes no meio é vital para o desempenho ocupacional no meio é vital para o desempenho ocupacional e aprendizagem, os transtornos de processamento sensorial (TPS) exercem impacto funcional importante.

As necessidades individuais de cada criança direcionam os objetivos da intervenção e o processo terapêutico. Em linhas gerais, o terapeuta deve oferecer oportunidades sensoriais e proporcionar segurança; manter os níveis apropriados de atividade; favorecer o controle postural, a organização do comportamento e as praxias; colaborar na escolha da atividade e ajustar os níveis de desafio da cada atividade; assegurar que a criança obtenha êxito e prazer na execução das atividades; apoiar a motivação intrínseca da criança; e estabelecer uma aliança terapêutica.

 Ayres define alguns princípios que organizam o processo terapêutico de modo a torná-lo fiel à metodologia de IS. No entanto, na presença de TEA associados, faz-se necessária a adaptação de alguns desses princípios para melhor adequação das intervenções terapêuticas, a saber:

1. A terapia é um processo dinâmico que envolve a participação efetiva da criança:

Segundo Ayres, a motivação interna observada na criança justifica sua aproximação a atividades que solicitam organização neurossensorial. Com ações motoras, fala ou intenção comunicativa, ela indicará com o que deseja brincar, o que deseja explorar ou experimentar.
Uma das maiores dificuldades na aplicabilidade da terapia de integração senroail a crianças dom TEA encontra explicação neste princípio, uma vez que a identificação da motivação interna, nesses casos, pode ser complexa e, por vezes, confundida por sua natureza.
Ayres define que a participação da criança deve ser efetiva, que a motivação intrínseca deve ser observada e utilizada durante o processo terapêutico, e que a criança deve conduzir a terapia. No caso da criança TEA associado, o terapeuta deve observar os comportamentos com cautela, na tentativa de identificar aqueles que fornecem pistas sobre suas necessidades sensoriais. Comportamentos de desorganização, desequilíbrio do nível de atividade e descontrole do estado de alerta podem auxiliar na identificação de informações sensoriais que não estão corretamente integradas. Comportamentos de regulação de nível de atividade e manutenção do estado de alerta também podem ser excelentes guias para o processo terapêutico com a participação efetiva da criança.
O terapeuta deve ser a escuta e a observação, mas não a fala ou a execução. O respeito à motivação intrínseca da criança, à liberdade de exploração, à motivação pelo compromisso com a atividade e à diminuição do direcionamento verbal ou motor garante a fidelidade a esse princípio em crianças com TEA associados aos transtornos de processamento sensorial.

2.  Os estímulos sensoriais são controlados para eliciar uma resposta adaptativa:

Segundo Ayres, resposta adaptativa é uma ação apropriada a uma determinada demanda ambiental. Na terapia, o terapeuta deverá manter o equilíbrio entre a necessidade e a liberdade de escolha, podendo controlar as entradas sensoriais e, assim, ajustá-las sem sobrecarregar nem frustrar a criança. Inicialmente, controlar essas sensações pode ser trabalhoso, uma vez que algumas situações dependerão de brincadeiras passivas ou de estimulação sensorial para motivar o envolvimento e despertar a necessidade individual. O terapeuta pode aproveitar-se da necessidade de nutrição sensorial do SNC para iniciar o processo terapêutico e eliciar respostas mais simples, embora funcionais.
Em indivíduos com TEA, o transtorno de integração sensorial deve favorecer respostas adaptativas que, usualmente, incluem conseguir controlar as entradas sensoriais e equilibrar o estado de alerta. Registrar adequadamente informações sensoriais e atribuir significado a experiências sensoriais também podem ser as primeiras respostas adaptativas eliciadas pela oferta de estímulos organizados e controlados. Organizar o ritmo, a duração e o sequenciamento de movimentos, ações, tarefas ou atividades são respostas adaptativas importantes.
Geralmente é apropriado modificar uma atividade, em vez de substituí-la. Portanto, inserir ou retirar estímulos orientando-os para a emissão do comportamento pode facilitar o engajamento da criança. Na criança com TEA, a retirada de uma informação sensorial prazerosa é comumente difícil, e se torna necessário adequar o estado de alerta e o nível de atividade a cada intervenção do terapeuta.
Cabe ao terapeuta orquestrar o equilíbrio entre demanda sensorial e necessidade da criança, ajustando o desafio na medida certa para promover desafios e resoluções de problemas e organização do comportamento.

3. A graduação de desafios promove consolidação e amadurecimento de comportamentos:

Para que comportamentos complexos e mais amadurecidos aconteçam, condutas mais primitivas devem ser consolidadas.
Os desafios propostos na terapia devem respeitar o desenvolvimento, aumentando gradativamente a demanda sensorial e a complexidade da tarefa. No processo terapêutico, podem-se eleger níveis de atenção, de acordo com a complexidade de demanda do comportamento.
A preocupação inicial deve incluir a adequação do registro sensorial e o equilíbrio do estado de alerta. Posteriormente, trabalha-se a habilidade para sustentar o nível de alerta e a organização do tempo e ritmo das atividades. Em um nível mais complexo, segue-se com o conhecimento, a ideação e a antecipação de ações, e com a organização e planejamento motor.
Ressalta-se que algumas atividades dependem de respostas mais simples, enquanto outras requerem sequenciamento de etapas, coordenação temporal, intenção comunicativa, habilidades motoras e inter-relação pessoal.

4. O ambiente terapêutico proporciona suporte emocional e variabilidade de ofertas sensoriais:

O ambiente terapêutico contempla uma sala com equipamentos suspensos e recursos que possibilitam grande variabilidade de ofertas sensoriais (tátil, vestibular, proprioceptiva, auditiva, visual, olfativa e gustativa) e a presença de um terapeuta que deve promover suporte físico, emocional e motivacional.
O terapeuta deve garantir que a criança não corra perigo de machucar-se ou ferir-se, e deve ainda, estabelecer confiança para que a criança se permita assumir desafios e arriscar-se com suporte e em segurança.
O ambiente é o ponto de partida para a motivação da criança com TEA. Nesse ambiente, as informações sensoriais serão oferecidas, controladas e organizadas. O uso de imagens dos equipamentos e das atividades realizadas na sala de IS auxilia na motivação, na organização e na compreensão da atividade.

5.   As atividades sensoriais têm componentes lúdicos e significativos:

No processo terapêutico, o engajamento da criança é determinante. Atividades lúdicas e sensoriais devem incentivar a participação da criança e a resolução de problemas, aumentando ou diminuindo o nível de atividade e equilibrando o estado de alerta. O terapeuta deve garantir que a criança vivencie experiências de sucesso, gerando satisfação e prazer que impulsionem a busca de novos desafios e intensifiquem a capacidade de planejamento.
Por meio de atividades lúdicas e com a participação efetiva da criança, a terapia de integração sensorial propicia oportunidades para que informações sensoriais contextualizadas sejam recebidas de maneira organizada e intensificada, com vistas a minimizar problemas de processamento e, portanto, a facilitar melhor desempenho e promover aprendizagens.


            A terapia de integração sensorial tem como objetivos gerais: promover registro e modulação adequada; favorecer a manutenção e a sustentação do nível de alerta; facilitar o planejamento de respostas adaptativas; enriquecer o repertório de comportamentos adequados; encorajar a organização de comportamentos funcionais; e intensificar o desempenho ocupacional.

            Quanto aos objetivos específicos, são determinados individualmente, já que dependem das necessidades e particularidades de cada criança. Para exemplificar, pode-se citar:

- diminuição das respostas aversivas à informações táteis presentes nas tarefas cotidianas para facilitação do desempenho em atividades de autocuidado;
- diminuição da hiper-responsividade sensorial e facilitação da sustentação do nível de alerta para eficiência em diversos contextos de desempenho ocupacional;
- otimização do domínio em jogos com significado e propósito;
- diminuição da hiporresponsividade com incremento do repertório de respostas para facilitar a atenção e a destreza na realização de atividades cotidianas;
- melhora da tolerância ao contato físico e da participação em atividades em grupo, com diminuição da hiper-responsividade sensorial;
- melhora da capacidade de imitação e de antecipação de eventos, facilitando a organização de rotinas;
- otimização do planejamento motor e da resolução de problemas para aprimorar o desempenho ocupacional.

Podem ser necessárias adaptações no domicílio para a organização da rotina diária da criança.
Um programa de nutrição sensorial pode complementar o tratamento clínico, enriquecendo o repertório de experiências sensoriais e garantindo que a criança receba adequadamente, ao longo do dia, sensações agradáveis e incentivadoras que reduzam comportamentos de agitação, irritabilidade e evitamento.

O terapeuta ocupacional pode indicar estratégias sensoriais que facilitem mais independência e autonomia nas atividades diárias. Esse profissional especializado no método de integração sensorial, analisa as atividades e levanta componentes sensoriais, funcionais e emocionais existentes nessas atividades para intervenção adequada tanto nas atividades de vida diária quanto nas de lazer e acadêmicas.

Fonte: Livro: Trantorno do Espectro do Autismo (parte do texto de: Aline Momo e Claudia Silvestre)

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Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...