Os elementos necessários ao
desenvolvimento sadio não são complicados e não apresentam mistério algum.
Primeiro
Toda criança precisa de um ambiente seguro que inclua ao
menos uma relação estável, sem grandes surpresas, que lhe transmita proteção e
apoio, com um adulto, não necessariamente o pai ou a mãe biológicos, mas alguém
que assuma um compromisso pessoal de cuidar do bem estar diário da criança e
que disponha dos meios, do tempo e das qualidades pessoais necessárias para
levar a termo esse compromisso. Riqueza e alto nível de instrução não se
encontram entre essas qualidades; a nosso ver, maturidade, responsabilidade, responsividade, compreensão e dedicação
são as qualidades essenciais.
Segundo
Relações consistentes, que envolvam carinho e atenção,
proporcionadas pelos mesmos responsáveis, incluindo o responsável primário,
desde os primeiros dias de vida e por toda a infância, são condições básicas da
competência tanto emocional quanto intelectual, permitindo que a criança
estabeleça o elo profundo que se transformará numa sensação de humanidade
compartilhada e, por fim, de empatia e compaixão. As relações, sejam com os
pais ou com as pessoas que lidam diariamente com a criança, devem apresentar
essa estabilidade e consistência.
Terceiro
A necessidade de uma interação rica e contínua. Amor,
cuidado e atenção são essenciais, mas não suficientes. Durante os primeiros
cinco anos de vida, as crianças decodificam o mundo através de suas próprias
ações e das reações de seus pais ou responsáveis. Ela só consegue desenvolver
uma percepção de sua própria intencionalidade ou das fronteiras entre seus
mundos interior e exterior por intermédio de trocas com pessoas que conheçam
bem e em quem depositem a mais absoluta confiança. No decorrer de seu
desenvolvimento, suas interações devem também crescer em complexidade e
sutileza. Isso pressupõe a capacidade dos pais ou dos responsáveis de
interpretar os sinais individuais da criança, reagindo com flexibilidade e de
forma adequada. É claro que esse tipo de relacionamento é particularmente decisivo
na infância, quando as iniciativas das crianças são as mais rudimentares
possíveis.
Quarto
Cada criança, juntamente com sua família, necessita de um
ambiente que lhe permita avançar nos estágios de desenvolvimento segundo seu
próprio ritmo e estilo. Só assim ela pode desenvolver uma visão de si mesma,
tanto como indivíduo distinto quanto membro de grupos específicos. Programas
eficazes de intervenção devem permitir as diferenças individuais e delas se
beneficiar. No entanto, inúmeros deles enfatizam as características em comum de
muitas ou da maioria das famílias, em vez de realçar a singularidade que
distingue as pessoas. Como não falam a “linguagem” especial de uma dada
família, os profissionais envolvidos podem facilmente diagnosticar de forma
equivocada as capacidades das crianças, fantasiando profecias anunciadas de
dificuldades e fracasso. Posteriormente, o respeito pela individualidade dará
às crianças mais velhas e aos adolescentes a oportunidade de desenvolverem
identidades fortes, sejam elas exploratórias ou potenciais.
Quinto
As crianças devem ter a oportunidade de experimentar,
encontrar soluções, correr riscos e até mesmo fracassar em suas tentativas.
Quando elas tentam diferentes abordagens, buscam saídas e avaliam todas as
opções, vemos brotar a perseverança e autoconfiança necessárias ao êxito de
qualquer empreitada mais séria. O auto-respeito e a auto-estima positiva da
criança tem suas raízes nas relações que escoram suas iniciativas e sua
capacidade de resolver problemas. A experiência viva de se engajar com coisas e
pessoas e superar dificuldades faz com que ela acredite de verdade em seus
próprios poderes. Muitos programas que pregam esses valores na teoria adotam
procedimentos que, na prática, incentivam a passividade e a dependência, ao
retirar da criança a opção de tomar suas próprias decisões.
Sexto
As crianças precisam de uma estrutura e de claros
limites. Sua segurança advém de saberem o que esperar dos outros e o que os
outros esperam delas. Eles aprendem a construir pontes entre seus pensamentos
quando seu mundo é predizível e responsivo. Limites firmes e sensatos,
definidos numa atmosfera acolhedora e empática, constituem um elemento crucial
de qualquer relacionamento que genuinamente fomente o crescimento da criança,
permitindo-lhe desenvolver autodisciplina e responsabilidade.
Sétimo
Para atingir esses objetivos, as famílias precisam de
vizinhança e comunidades estáveis. A atenção adequada, consistente e
profundamente engajada de que a criança necessita para dominar os níveis de
desenvolvimento requer adultos maduros, empáticos e emocionalmente acessíveis.
Fonte: A evolução da mente
(Stanley Greenspan)