7 de mar. de 2010

Todas as crianças brincam ?


Embora o impulso natural da criança seja para brincar, algumas crianças não conseguem fazê-lo, pelo menos da forma mais habitual. Entre as crianças que apresentam essa dificuldade, as mais óbvias são as portadoras de autismo. Na verdade, essa é uma das características que ajudam na identificação do quadro. Entretanto, existem outras crianças que, embora sem apresentarem um diagnóstico, apresentam a mesma dificuldade no brincar, talvez com pequenas diferenças. Observamos que algumas se interessam por alguns momentos pelo brinquedo ou pelo objeto mas não permanecem muito tempo na atividade. Quase que imediatamente outro brinquedo chama sua atenção e vão atrás dele para abandoná-lo em seguida. Esse é um traço bastante comum nas crianças com dificuldade de integração sensorial, no grupo que apresenta dificuldade de planejamento motor ou dispraxia.
Para se entender porque isso acontece, precisamos pensar sobre as características do brincar. Pressupõe a habilidade de suspender a realidade, de ter uma motivação intrínsica e uma percepção de controle interno. (Bundy, A). Pressupõe um espírito lúdico, uma habilidade de planejar uma sequência de ações e de ser o criador. Não existe uma forma correta de brincar; interessa mais a ação que o produto final. Tanto as crianças com autismo quanto as crianças com dispraxia têm dificuldade em planejar o que fazer com um objeto que não tem um papel pré determinado, tal como uma caixa de papelão ou rolo de barbante. A praxia é o que garante a ideação, ou seja, a habilidade de imaginar o que fazer com um objeto sem papel definido ou não familiar.

A criança com dificuldade na ideação dá preferência a brinquedos que já têm um papel definido. Por exemplo, gostam muito de bonequinhos personagem, com os quais reproduzem cenas de filmes ou do cotidiano. Também gostam de brinquedos como Legos, que têm um modelo a ser seguido. Dificilmente montam uma brincadeira em que existe substituição de função para os objetos, tal como fazer com que uma latinha seja o telefone ou a boneca seja a mamãe.

Outras crianças são capazes de inventar um “script” para a brincadeira mas são rígidas em relação a execução, fazendo com que seja difícil a interação com os amigos, que podem querer mudar a forma que a estória foi idealizada, trazendo muitos conflitos e fazendo com que a criança tenha poucos amigos. Essas crianças podem preferir ser o “diretor de cena” a ser um participante real da brincadeira , porque vão ter dificuldade na execução do plano. Tendem a ficar muito bravas se alguém sugere uma modificação no enredo porque fica difícil dar continuidade.

Outras ainda, preferem ser coadjuvantes na brincadeira e são capazes de seguir o enredo sugerido por um amigo mas não sabem como iniciar a brincadeira independentemente ou como dar continuidade a uma idéia que alguém apresente.
Assim, embora tenham vontade de brincar, essas crianças são incapazes de fazê-lo por um tempo prolongado, de participar em brincadeiras com outros ou ainda de participar de uma variedade de atividades lúdicas.

Essas dificuldades vão se refletir nas atividades acadêmicas ou sociais, fazendo com que seja difícil por exemplo idealizar uma estória para escrever uma composição ou participar com amigos de situações em que seja necesssário ter uma certa flexibilidade. São incapazes de suspender a realidade ou de realmente se divertir em uma atividade lúdica.

Embora a motivação para brincar seja inerente à criança, a habilidade de fazê-lo pressupõe uma série de pré requisitos que nem sempre estão presentes no desenvolvimento da criança; O brincar pode parecer uma atividade fútil, porém é indispensável para o desenvolvimento de habilidades de aprendizagem e de interação social.
Texto: Heloiza Goodrich

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...