8 de nov. de 2010

Uma Nova Visão sobre o Autismo

Uma Nova Visão sobre o Autismo:
Uma Carta do Dr. Stanley Greenspan


Hoje parece que quase todo mundo conhece um amigo ou um parente que tem uma criança com algum transtorno do desenvolvimento. Não é surpresa, uma vez que as estatísticas atuais colocam uma criança a cada 116 no espectro autista. Essa estatística alarmante alavancou o lançamento recente de uma campanha de dez anos do governo federal para entender e tratar as crianças com transtorno do espectro autista (TEA). Mas se queremos mesmo mudar a perspectiva dessas crianças, precisamos começar a mudar as nossas concepções.


O que se sabia antes em relação ao potencial de crianças com esses transtornos era profundamente pessimista. A abordagem comportamental amplamente utilizada para o tratamento ensina habilidades de rotina com o principal objetivo de mudar comportamentos, e a percepção é de que as dificuldades dessas crianças nas áreas da leitura de estímulos emocionais, da empatia e do pensamento criativo representam limitações permanentes que não podem ser tratadas.


Mas elas podem. As crianças originalmente diagnosticadas com ASD podem aprender a se relacionar, amar outros profundamente e muitas podem aprender a se comunicar e pensar criativa e logicamente. Em contraste ao modelo mais antigo, a nova abordagem reconhece que cada criança possui um caminho único para o distúrbio, e, portanto, cada caminho da criança para a melhoria pode também ser único. Além de superar os sintomas, o objetivo do tratamento do novo modelo é ajudar a criança a dominar os marcos emocionais saudáveis que foram perdidos na sua fase de desenvolvimento inicial, e que nós agora sabemos que são críticos para o aprendizado. Construir essas bases ajuda as crianças a superar os seus sintomas de maneira mais eficiente, em vez de simplesmente tentar alterar os sintomas em si.


Tome o caso de "David". Aos 2 anos e meio, David não conseguia utilizar-se da linguagem de maneira significativa e fazia muito pouco contato visual com os outros. Ele iniciava um comportamento repetitivo, colocando carros em filas muitas e muitas vezes. O programa de tratamento de David com base no modelo antigo de tratar os sintomas o ajudou a memorizar mais palavras, mas ele não se tornava mais espontâneo ou interagia com os outros.


Era claro que David estava perdendo peças cruciais do seu desenvolvimento primário. O nosso objetivo era ajudá-lo a aprender a apreciar uma intimidade verdadeira com a sua família, responder a estímulos sociais e emocionais, e a usar uma linguagem compreensível. Para isso, nós tivemos de descobrir que ele era supersensível ao som - a voz humana normal era quase assustadora para ele - e ele ficava confuso com o que escutava e via, tornando difícil para ele apreciar a intimidade, se comunicar ou pensar. David também tinha dificuldade para descobrir como executar ações que exigissem mais de um passo, tal como correr atrás da bola e trazê-la de volta. Isso dificultava a sua interatividade social.


Ao trabalharmos com a família num programa compreensivo para lidar com as peças faltantes no desenvolvimento de David, nós fomos gradualmente capazes de criar experiências onde ele poderia sentir prazer numa relação mais próxima e calorosa com a sua família, e iniciar uma comunicação natural de troca com gestos e palavras.


No jardim de infância, David era capaz de se relacionar com outros com um afeto real. Ele tinha vários amigos e um senso de humor travesso. Ele estava numa sala de aula convencional e até apresentou habilidades precoces de leitura e de matemática. David agora com quinze anos é caloroso, criativo e popular com os colegas - como qualquer adolescente típico. Enquanto nem todas as crianças com dificuldades de desenvolvimento substanciais terão esse tipo de progresso, a maioria das crianças utilizando a abordagem moderna do desenvolvimento está dando passos largos e significativos nas áreas sociais e emocionais, bem como no crescimento intelectual.


O modelo moderno tem o potencial para revolucionar a identificação e a intervenção desde o início. Numa ampla pesquisa de saúde conduzida pelo Centro Nacional para as Estatísticas da Saúde, a adição de marcos emocionais descritas nesse novo modelo resultou na identificação de 30% mais crianças com risco de problemas de desenvolvimento. E numa análise de 200 casos utilizando esse novo modelo, observou-se um subgrupo de crianças com desenvolvimento de habilidades que anteriormente acreditava-se que crianças diagnosticadas com ASD não conseguiriam: intimidade com adultos e colegas, empatia, criatividade e pensamento lógico. Como David, essas crianças participam de programas de educação regulares e fizeram progressos acadêmicos excelentes.

Infelizmente, os novos conceitos ainda não são amplamente utilizados. Em nossa avaliação, mais de 90% das clínicas e centros médicos gastam menos de dez minutos observando as crianças interagindo espontaneamente com os seus cuidadores quando conduzem avaliações de desenvolvimento. Isso resultou em numerosos erros de diagnósticos, subestimação das habilidades das crianças, e recomendações de tratamento com ênfase insuficiente dos pontos fortes nos relacionamentos e família.


As famílias e os clínicos precisam ter acesso a essa abordagem moderna para a identificação e o tratamento que está trazendo melhores resultados para as crianças. Com esse novo modelo, nós podemos fazer um trabalho melhor ao identificar ainda mais cedo as crianças em risco, em vez de esperar pelo aparecimento dos sintomas. Nós podemos ajudar as crianças a se tornarem mais calorosas, relacionadas e engajadas. E podemos definir o potencial de cada criança não pelas limitações assumidas, mas pelo seu próprio crescimento.

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...