11 de dez. de 2011

Autismo: a importância da inclusão escolar

O que realmente se pode chamar de inclusão? Será que a inserção de crianças com necessidades especiais, como as que se encontram no espectro autista, em escolas regulares já é suficiente para intitularmos este processo como tal? Infelizmente, muitas escolas que “aceitam” receber essas crianças com autismo em ensino regular não realizam, de fato, a inclusão social e escolar.



São inúmeras as que ainda se recusam, afirmando que não há vagas ou que não têm o preparo necessário para acolhê-las e passam por cima da Lei da Inclusão. Quando essas crianças são matriculadas, na maioria das vezes não encontram na escola a estrutura suficiente, ou seja, um olhar que tenha como real prioridade permitir que elas explorem ao máximo suas potencialidades neste ambiente tão rico de experiência social.



É neste contexto e com este objetivo que entra em cena o mediador ou facilitador escolar. Seu papel é direcionado a possibilitar que o máximo de oportunidades sejam criadas e aproveitadas para que as crianças com necessidades especiais aprendam, não apenas o pedagógico, mas também o social. Assim, esse profissional tem como função mediar os conflitos e facilitar a comunicação entre a criança e seus colegas de sala e entre ela e os professores, ou seja, com o ambiente escolar como um todo. Seu papel não o é de tomar o lugar do professor, mas de permitir que seus ensinamentos sejam assimilados ao máximo pela criança, já que esta enfrenta barreiras que não fazem parte da vida de crianças sem o transtorno.



Quando colocamos em ênfase o espectro autístico, podemos avaliar a importância do aprendizado das regras sociais, estas que são dominadas por crianças fora do espectro com muita naturalidade, de modo quase automático. Estas regras fazem parte do dia-a-dia de todos e nos mostra como o nosso mundo funciona. Qual ambiente seria mais propício para o treinamento dessas habilidades do que o escolar? É na escola onde a criança passa a maior parte do seu dia e é lá onde estão as maiores oportunidades de crescimento.



Minha experiência com mediação escolar começou há seis anos, com L., diagnosticada aos 2 anos de idade com Síndrome de Asperger. Quando comecei a fazer este trabalho, ela tinha 6 anos e apresentava inúmeros problemas de comportamento, como episódios obsessivos-compulsivos, birras e muita resistência a seguir regras. Hoje, L. lê, escreve, brinca com as amigas no horário do recreio, faz canto lírico, além de muito dever de casa, provas como todas as crianças, mesmo que estas sejam adaptadas, pois sem adaptação curricular, não há inclusão verdadeira. Muito impulsiva, L. sempre teve dificuldades em esperar chegar a sua vez de participar em alguma atividade. Hoje, na maioria das vezes, L. levanta o dedo e espera... mesmo que às vezes tenha que apertar os lábios para não falar antes do tempo e interromper a professora ou algum amigo. Existem os dias em que a frustração é mais difícil de se agüentar. Apesar disso, a força de sua luta é inegável. Sem dúvida alguma, L. é uma semente com incrível potencial de crescimento. Com a ajuda de uma ponte, aquela água que é regada diariamente pode desabrochar numa linda rosa. Com a presença de uma mediadora escolar, muitas crianças do espectro autista podem, assim como L., aumentar imensamente suas possibilidades de sucesso na escola, que irá repercutir por toda sua vida.

* Psicóloga Infantil, mestranda em Saúde Mental Infantil pela Unifesp e colaboradora da ONG "Autismo e Realidade" (www.autismoerealidade.org) Fonte: Jornal do Brasil





Autonomia

Dar autonomia ao filho também faz parte da educação.Pais protegem os filhos por instinto.


Quando têm em casa uma criança especial, o risco de exagerar na dose é ainda maior. Por desconhecimento da deficiência ou por medo de rejeição, acabam impedindo o filho de realizar diversas atividades que ele seria perfeitamente capaz de executar sozinho.


Com a melhor das intenções – deixar a criança em segurança –, os pais acabam caindo em uma armadilha. O cuidado exacerbado atrasa e outras vezes até talha a possibilidade do desenvolvimento físico e emocional da criança. Ela pode até criar uma independência desnecessária, porque não vive a vida real.


Ter deficiência não significa ser incapaz. Cada um tem suas potencialidades. Cabe aos responsáveis reconhecê-las e trabalhá-las.


O melhor caminho para evitar a superproteção que isola a criança especial é a informação: saber das necessidades da criança e ajudar a superá-las, acreditando na sua capacidade.


Ser autônomo significa saber cuidar de si. Ou seja, capaz de se virar sozinho com suas potencialidades.


O importante é ter este objetivo desde que a criança é pequena, e ir preparando-a, dando-lhe os instrumentos para que se torne independente.


E o primeiro passo é acreditar que a autonomia é possível e necessária, principalmente para a auto-estima de seu filho. Não se esqueça! Educar é também dar condição de AUTONOMIA.


Fonte: Revista Crescer

Atenção Compartilhada e Identificação Precoce do Autismo



O bebê com desenvolvimento típico, ao se relacionar com sua mãe, estabelece muitas interações face a face. Nestes momentos, a criança emite vários sons e expressões faciais, sendo comum parecer que ela está realmente dialogando com sua mãe. Paulatinamente, essas interações vão amadurecendo, e aos poucos, passam a incluir eventos e objetos do interesse da criança. Quando a criança olha para a mãe e mostra um brinquedo enquanto vocaliza e a mãe olha para aquele objeto pegando-o para brincar com a criança, está havendo alternância entre o olhar da mãe, o da criança e o objeto em questão. Elas estão compartilhando a atenção.


Sabe-se que crianças com autismo apresentam dificuldades nesse compartilhamento do foco da atenção, no entanto, essa habilidade é imprescindível para um bom desenvolvimento da comunicação, sendo considerada como precursora do desenvolvimento da linguagem.


Abaixo, estão algumas dicas para estimular a atenção compartilhada:


  • Estimule o contato ocular, muitos estudiosos observaram, que esse é o primeiro passo para se compartilhar a atenção;



  • Interações face a face são muito produtivas, só assim seu filho poderá perceber para onde sua atenção está direcionada;




  • Sempre que sua criança balbuciar, vocalizar ou falar algo, contextualize dando significado aos sons que ela produzir;




  • Sempre que ela fixar a atenção em um objeto, demonstre seu interesse, comentando sobre aquele objeto ou utilizando o mesmo;




  • Chame a criança pelo nome, e aponte para objetos de seu interesse, fazendo com que ela os perceba;




  • Faça brincadeiras que alternem a vez entre o adulto e a criança, como mandar uma bola ou carrinho de um para o outro;




  • Estimule a criança a apontar para um objeto altamente preferido para ter acesso ao mesmo.

Por Patrícia Reis Ferreira

Como explicar a deficiência às crianças ?



De dois a seis anos


Com dois anos, a criança começa a perceber certas particularidades na criança com deficiência. Entretanto, até os seis anos, ela ficará satisfeita com uma explicação simples, limitada aos aspectos exteriores da deficiÊncia e às suas consequências imediatas. Assim, nas primeiras perguntas de uma criança: "O que ela tem ?, uma resposta simples é suficiente; "Michel não enxerga, ele não pode andar, ele não ouve ou ele aprende mais devagar que você." Mencionar o nome da criança é uma maneira de reconhecer uma identidade própria e de sugerir a outra criança a tratá-la como tal.


Em torno de quatro anos, época em que a criança começa a temer o contágio, será oportuno dizer: "não tenha medo, isto não pega". Esta pode ser também a ocasião de mencionar que seu filho tem os mesmos interesses que as outras crianças: "Michel também gosta de balançar", se vocês estão no parque, "Michel também gosta de bolo", se vocês estão em um restaurante, ou "Michel gosta de passear no seu carrinho, como você anda no seu triciclo". Assim, dizendo que seu filho tem os mesmo interesses que ele, você favorece a aproximação".


Após os seis anos


A criança de seis ou sete aos poderá perguntar porque seu filho é como ele é; ela procurará a causa desta situação. Uma explicação com ajuda de imagens lhe satisfará: "Faltou ar no seu nascimento, ele teve uma espécie de machucado no cérebro, teve um acidente". Ela compreenderá melhor do que se você tentasse dar uma explicação médica, porque ainda não conhece bem o funcionamento do corpo humano. É necessário empregar palavras simples e dar exemplos concretos.


A criança poderá compreender melhor a deficiência se lhe porpomos simulá-la. Se um priminho vem a sua casa, você poderá, dependendo da deficiência de seu filho, sugerir colocar uma faixa sobre os olhos para simular a cegueira, um tampão na orelha para simular a surdez ou amarrar um dos braços no seu corpo com um leço para simular um braço paralisado. A criança terá noção dos limites impostos pela deficiÊncia e compreenderá melhor seu priminho diferente.


Nesta idade, a criança quer conhecer o cotidiano de seu filho apoiando-se sobre sua própria experiência: ela fará diversas perguntas: "Você pode fazer isso ou aquilo?" Como a criança desta idade está apenas começando a ligar conceitos entre eles, poderá fazer perguntas surpreendentes a seu filho: "Você dorme em sua cadeira de rodas ?" "Como você pode encontrar sua comida no seu prato sem vê-la ?".


É, portanto, bastante fácil explicar a deficiência aos pequenos vizinhos, ou a outras crianças que venham a sua casa ou se encontram na rua. Acredite que cada criança que se familiarizar com a deficiência será, sem dúvida, na idade adulta, mais tolerante com a diferença.


Fonte: Além da deficiência física ou intelectual um filho a ser descoberto (Ferland)

5 de dez. de 2011

DICAS DE ENSINO PARA CRIANÇAS E ADULTOS COM AUTISMO - Temple Grandin

Bons professores me ajudaram a atingir o sucesso. Eu estava pronta para superar o autismo porque tive bons professores. Na idade de dois anos e meio, fui colocada num berçário estruturado com professores experientes. Desde a idade de muito cedo, fui ensinada a ter boas maneiras e a me comportar à mesa do jantar. Crianças com autismo precisam ter o dia estruturado e professores que saibam ser firmes, mas humanos.

1 - Muitas pessoas com autismo são pensadores visuais. Eu penso por imagens. Não penso por linguagem. Todos os meus pensamentos são como video-tapes correndo em minha imaginação. Imagens são minha primeira linguagem. Os substantivos foram as palavras mais fáceis de aprender, porque eu podia formar uma imagem em minha mente .
Para aprender palavras como "embaixo" e "em cima", o professor podia mostrá-las para a criança. Por exemplo: Pegava o avião de brinquedo e dizia: "em cima", enquanto fazia o avião levantar da cadeira.

2 - Deve-se evitar séries de instruções verbais longas. Pessoas com autismo têm problemas de lembrar seqüências. Se a criança sabe ler, escreva as instruções no papel. Sou inábil em lembrar seqüências. Se pergunto a localização de um posto de gasolina, posso lembrar apenas três passos. Localização com mais de três instruções têm que ser escritas. Ainda tenho dificuldade de lembrar números de telefones, porque não posso formar uma imagem em minha mente.

3 - Muitas crianças com autismo são bons desenhistas, artistas e programadores de computador. Estes tipos de talento poderiam ser encorajados. Acho que há necessidade de dar mais ênfase no desenvolvimento dos talentos das crianças.

4 - Muitas crianças autistas tem fixação em um assunto, como trens ou mapas. A melhor forma de trabalhar com essas fixações é usá-las como motivos de trabalhos escolares. Ex.: se uma criança gosta de trens, então use trens para ensiná-la a ler e fazer cálculos. Leia um livro sobre trens e faça problemas matemáticos com trens. Por exemplo: Calcule a distância que um trem percorre para ir de Nova York a Washington.

5 - Use métodos visuais concretos para ensinar números e conceitos. Meus pais me deram um brinquedo matemático que me ajudou a aprender números. Ele consistia em um jogo de blocos que tinha comprimentos diferentes e cores diferentes para os números de um a dez. Com isto, aprendi a adicionar e subtrair. Para aprender frações, meu professor tinha uma maçã de madeira cortada em quatro partes e uma pêra cortada ao meio. A partir dai, aprendi o conceito de quatro e metades.

6 - Eu tinha a pior letra da minha classe. Muitas crianças autistas têm problemas com controle motor de suas mãos. Letra bonita é algumas vezes muito difícil. Isto pode frustrar totalmente a criança. Para reduzir a frustração e ajudar a criança a adquirir escrita, deixe-a digitar no computador. Datilografar é, as vezes, muito mais fácil.


7 - Algumas crianças autistas aprenderão a ler mais facilmente por métodos fônicos, e outras aprenderão com a memorização das palavras. Aprendi pelo método fônico

8 - Quando era criança, sons altos como o da campainha da escola, feriam os meus ouvidos como uma broca de dentista fere um nervo. Crianças com autismo precisam ser protegidas de sons que lhes ferem os ouvidos. Os sons que me causaram os maiores problemas são: campainhas de escola, zumbidos no quadro de pontuação dos ginásios, som de cadeiras se arrastando pelo chão. Em muitos casos a criança estará pronta para tolerar o sino ou zumbido se ele for abafado simplesmente pelo recheio de um tecido, papel ou um tipo de cadarço ou cordão. O arrastar de cadeiras pode ser silenciado com colocação de borrachas de tênis ou carpetes. A criança pode temer uma determinada sala, porque tem medo que de repente possa ser submetida ao agudo do microfone vindo do sistema amplificador. O medo de um som horrível pode causar péssimo comportamento.

9 - Algumas pessoas autistas são importunadas por distrações visuais ou luzes fluorescentes. Elas podem ver a pulsação do ciclo 60 Hz de eletricidade. Para evitar este problema, coloque a carteira da criança perto da janela ou tente evitar usar luzes fluorescentes. Se as luzes não podem ser evitadas, use as lâmpadas mais novas que você puder conseguir. Lâmpadas mais novas tremem menos.

10 - Algumas crianças autistas hiperativas que atormentam todo o tempo, serão por vezes acalmadas se forem vestidas com um colete com enchimento. A pressão da roupa ajuda a acalmar o sistema nervoso. Eu fui grandemente acalmada por pressão. Para melhores resultados, a roupa poderia ser vestida por vinte minutos e então retirada por alguns minutos. Isto previne o sistema nervoso de se adaptar a ela.

11 - Algumas pessoas com autismo em particular, responderão melhor e terão melhorado o contato visual e a fala se o professor interagir com elas enquanto estiverem nadando ou rolando em uma esteira. A introdução sensória pelo balanço ou a pressão de esteira algumas vezes ajuda a melhorar a fala. O balanço pode ser feito como um jogo divertido. Ele NUNCA deve ser forçado.

12 - Algumas crianças e adultos podem cantar melhor que falar. Podem responder melhor se as palavras forem cantadas para eles. Algumas crianças com extrema sensibilidade sonora responderão melhor se o professor falar com elas em um leve sussurro.


13 - Algumas crianças e adultos não-verbais podem não processar estímulos visuais e auditivos ao mesmo tempo. Elas são monocanais, não podem ver ou ouvir ao mesmo tempo, e não podem ser chamadas a ver e ouvir ao mesmo tempo. A elas poderá ser dada ou uma tarefa auditiva ou uma tarefa visual. Seu sistema nervoso imaturo não está apto a processar simultaneamente estímulos visuais e auditivos.

14 - Em crianças não-verbais mais velhas e adultos, o tato é algumas vezes seu senso mais confiável. Às vezes é muito mais fácil para elas sentir. Letras podem ser ensinadas ao deixá-las tatear letras plásticas.

15 - Elas podem aprender seu itinerário (rotina) diário, sentindo objetos alguns minutos antes da atividade programada. Por exemplo: 15 minutos antes do almoço, dê a elas uma colher para segurar. Alguns minutos antes de sair de carro, deixe-a pegar um carrinho de brinquedo.

Fonte: Autora: Temple Grandin
http://www.autism.org/temple/tips.html
Encontrado por Tereza Cristina (APAE de Betim-MG) e traduzido por Kathia (Delegada Regional e funcionária da APAE (Betim-MG)

Comentários e Sugestões

Acredito, que o trabalho em conjunto nos faz crescer !!! Deixe aqui comentários e/ou sugestões para as próximas postagens no blog. Bjs

11 de nov. de 2011

DEFENSIVIDADE SENSORIAL e DORMÊNCIA SENSORIAL – UMA QUESTÃO DE MODULAÇÃO

Como recebemos constantemente informações sobre o mundo através dos sentidos, eles precisam desenvolver a capacidade de filtrar o que é mais importante para o momento e para as atividades que estão acontecendo. Assim, na escola existe uma infinidade de informação sensorial chegando concomitantemente. É preciso que o sistema nervoso central da criança tenha a habilidade de filtrar o que não é necessário para o momento e ignorar. Assim por exemplo, enquanto escrevo, meu vizinho se mexe, sinto o cheiro do shampoo que ele usou de manhã, escuto a voz da professora, sou tocada de leve por alguém que vai apontar o lápis . Ao mesmo tempo tenho de manter minha postura para conseguir escrever , preciso avaliar a força que devo fazer para segurar o lápis e preciso evitar derrubar tudo que está sobre a carteira.


Todas essas informações são secundárias ao momento mas estão presentes. Quando se tem um sistema sensorial bem integrado, ele é capaz de colocar em primeiro plano apenas as informações que preciso para aquela atividade fazendo com que o resto seja colocado em segundo plano ou seja executado automaticamente. Se houver um fator novo que afete uma dessas informações que são secundárias , minha atenção se volta para esse fator ; caso contrário, continuam em segundo plano. Isso é o que nos permite manter o estado de alerta necessário para aprender.


Para a criança que tem um distúrbio na modulação sensorial esses filtros são deficitários e muitos dos automatismos não se formam. Ela é levada a responder a toda informação sensorial que chega sem conseguir que se formem automatismos necessários por exemplo para manutenção da postura ou para saber intuitivamente quanta força usar para manusear objetos. Essa criança dificilmente está no estado de alerta ideal para aprender. Quando consegue atingir esse estado, isso exige um esforço muito grande e requer um auto-controle fora do comum. Muitas vezes ela passa a manhã na escola tentando manter esse estado de alerta; quando chega em casa, desmorona, briga com todo mundo, parece uma criança diferente.

Alguns sintomas de defensividade sensorial são:

• Responder a todos os sons ambientais, mesmo aqueles que ninguém mais parece perceber;
• Cobrir os ouvidos quando ouve sons que a desagradam;
• Assustar com frequência excessiva;
• Comentar ou ser incomodada por cheiros que ninguém mais parece perceber;
• Ser incomodada por luz ou claridade excessiva
• Ficar fascinada por perfumes ou cheiros que a agradam
• Evita tocar certas texturas ou se recusa a vestir certas roupas

Os sentidos estão muito ”acesos”, sempre presentes; parece não haver filtro e tudo chega com a mesma intensidade. Evidentemente é difícil para essa criança ficar quieta e trabalhar como os demais. Por exemplo, se o colega lá atrás derruba um lápis, ela precisa olhar. Se alguém trouxe um lanche com banana, ela precisa comentar. Tem necessidade de tocar a roupinha do colega para saber que textura tem. Acaba dando uma impressão de hiperatividade e tem terrível dificuldade em se concentrar.


Um outro aspecto que se encontra às vezes é uma dormência sensorial. A criança responde a menos à informação trazida pelos sentidos. É o exato oposto do caso anterior:


Características dessa criança são:

• Às vezes tem dificuldade em saber quando está saciada; tende a comer mais que o esperado para a idade;
• Gosta de todos os tipos de comida
• Ignora sons ambientais incomodativos
• Não reage quando se fala com ela, muitas vezes havendo suspeita de deficiência auditiva
• Não reage a cheiros desagradáveis, tais como as próprias fezes
• Toca tudo que encontra; anda passando a mão pela parede
• Aperta as outras crianças, animais, gosta de morder ou ser mordida
• Consciência de dor diminuida; por exemplo, desde pequena não chora ao cair ou ao tomar uma injeção
• Demora muito a conseguir um controle esfincteriano adequado

Tanto os sintomas descritos para dormência sensorial como para defensividade sensorial não são uma lista completa – são apenas exemplos. Ambos os problemas são uma questão de modulação. Integração sensorial não é uma questão de ter ou não ter. É um contínuo em que o ideal é estar na linha média – nem muito à direita nem muito à esquerda.

Dormência sensorial______Boa Integração Sensorial______ Defensividade sensorial

Esses problemas podem ser bastante diminuidos com a ajuda de uma terapia com uma abordagem de integração sensorial.

Fonte: www.toi.med.br

Modelo DIR/Floortime

O modelo D.I.R. (Modelo baseado no Desenvolvimento, nas Diferenças Individuais e na Relação) consiste num modelo de avaliação e intervenção que associa a abordagem Floortime com o envolvimento e participação da família, com diferentes especialidades terapêuticas (terapia ocupacional, fonoaudiologia) e a articulação e integração nas estruturas educacionais.

Apresenta um quadro conceituais para avaliações compreensivas e programas de intervenção dirigidos às características únicas de crianças com TEA e outros problemas de desenvolvimento, como incapacidades motoras, da linguagem, cognitivas, Síndrome de Down, Síndrome de X Frágil, Síndrome Alcoólico Fetal, entre outras.

As estratégias deste modelo visam avaliar e intervir sobre áreas relevantes de funcionalidade, nomeadamente: no desenvolvimento emocional funcional, isto é, capacidade de atenção e regulação, envolvimento, comunicação, resolução de problemas, uso criativo de ideias, pensamento abstrato e lógica; nas diferenças individuais de funcionamento do sistema nervoso central, ou seja, a forma como a criança reage e processa as experiências, e como planeja e organiza as respostas, inclui: modulação sensorial, planeamento motor, processamento auditivo e visuo-motor e nas relações emocionais com os cuidadores, competências para se envolver em interacções afectivas.

Existe um grande número de investigações e de observações clínicas que contribuem para a conceitualização de uma abordagem compreensiva do desenvolvimento de crianças com TEA e outras perturbações de desenvolvimento nas relações interpessoais e na comunicação.

O Modelo de D.I.R. determina como avaliar e intervir tendo em conta:

- Capacidades desenvolvimentais de funcionalidade: a partilha da atenção e a regulação; o envolvimento nas interacções; afeto recíproco e comunicação gestual; jogo pré-simbólico complexo, comunicação social e resolução de problemas, incluindo imitação e atenção conjunta; Uso simbólico e criativo de ideias, incluindo jogo simbólico e uso pragmático da linguagem; uso lógico e abstrato de ideias, incluindo capacidade para expressar sentimentos.

- Diferenças individuais: modulação sensorial (em que medida a criança é hiper ou hipo-responsiva às sensações), processamento Auditivo e Visuo-espacial; planeamento motor;

- Relacionamentos e padrões de interação: padrões de interação com o cuidador, pais e família; padrões educacionais; padrões de interacção com os colegas.

A avaliação constitui a fase inicial, mas também, como uma parte de todo o processo de observação e discussão.

A avaliação envolve:

1) Relatórios sobre o nível de desenvolvimento funcional da criança;

2) A análise detalhada da história desenvolvimental;

3) Observações diretas da criança a interagir com os pais e com o profissional de saúde, analisando os seis pontos do desenvolvimento funcional, as diferenças individuais de processamento (ex. planeamento motor, processamento auditivo e visuo-espacial, modulação sensorial), e os padrões de interação com os pais e outros membros da família.

A avaliação também deve incluir o funcionamento familiar, através da discussão com os pais sobre as relações familiares e as competências da família para apoiar a criança. O processo de avaliação deve criar relações de parceria entre os profissionais e os familiares – esta relação irá também facilitar a transição e a implementação do plano de intervenção. Esta relação de parceria emerge da necessidade de compreensão e de um consenso, pelos familiares e técnicos, acerca do perfil de desenvolvimento funcional da criança.

O plano de intervenção deverá trabalhar com: as capacidades de desenvolvimento funcionais, as diferenças individuais de processamento e as interacções criança-cuidador e funcionamento familiar.

Uma intervenção compreensiva corresponde a um conjunto de interações e práticas adequadas ao nível desenvolvimental e funcional e às diferenças individuais da criança em contexto familiar e educativo, seguindo os seguintes princípios:

- Seguir a criança e envolver-se em interações iniciadas pela criança que são baseadas nos seus interesses de natureza emocional (floortime). Isto permite ao cuidador conduzir a criança para os objetivos delineados e, por outro lado, a obstruir de forma agradável alguns comportamentos perseverantes e levá-la a envolver-se na interacção. O objetivo destas interações espontâneas é o de mobilizar e aumentar a atenção, envolvimento, interações com propósito, a resolução de problemas e o uso de ideias de forma criativa;

- Interacções semi-estruturadas para resolução de problemas, que tem objetivos específicos de linguagem, cognição e sociais – o adulto cria situações de aprendizagem, levando-a por exemplo a imitar sons ou gestos associando-os a consequências imediatas e levando-a a aplicá-las em situações de vida real para resolver problemas. Por outro lado estas interações podem orientar a criança para atividades de facilitação do planeamento motor, modulação sensorial e processamento visuo-espacial.






Floortime

A abordagem Floortime é um modo de intervenção interativa não dirigida, que tem como objetivo envolver a criança numa relação afetiva.

Os seus princípios básicos são:

- Seguir a atividade da criança;

- Entrar na sua atividade e apoiar as suas intenções, tendo sempre em conta as diferenças individuais e os estágios do desenvolvimento emocional da criança;

- Através da nossa própria expressão afetiva e das nossas ações, levar a criança a envolver-se e a interagir conosco;

- Abrir e fechar ciclos de comunicação (comunicação recíproca);

- Alargar a gama de experiências interativas da criança através do jogo;
- Alargar a gama de competências motoras e de processamento sensorial;

- Adaptar as intervenções às diferenças individuais de processamento auditivo e visuo--espacial, planeamento motor e modulação sensorial.

- Tentar mobilizar em simultâneo os seis níveis funcionais de desenvolvimento emocional(atenção, envolvimento, reciprocidade, comunicação, utilização de sequências de ideias e pensamento lógico emocional) (Greenspan, 1992b; Greenspan & Wieder, 1998).

Em conjunto com as interacções não directivas do Floortime, devem ainda ser usadas interações semi-estruturadas de resolução de problemas em que a criança é levada a cumprir objetivos específicos de aprendizagem através da criação de desafios dinâmicos que a criança quer resolver.

A abordagem Floortime e o Modelo DIR constituem, no estado atual do conhecimento, a resposta mais adaptada à prática clínica com bebés e crianças pequenas com perturbações da comunicação e da relação. Apesar das dificuldades inerentes à aplicação de um programa de intervenção intensiva com custos elevados para as famílias do ponto de vista material, de disponibilidade e organização, a experiência tem demonstrado, tanto pela clínica como pela adesão das famílias e dos técnicos, que este é um modelo útil e suficientemente eficaz para ser recomendada a sua aplicação e divulgação.

Bibliografia:Maia, M.S., slides cedidos nas aulas sobre Abordagem Floortime, adaptado de Greenspan & Chaiman, 2009Análise Psicológica (2003), 1 (XXI): 31-39Programa clínico para o tratamento das perturbações da relação e da comunicação, baseado no Modelo D.I.R

Entrevista com Temple Grandin

A Dra. Temple Grandin encontra-se em uma posição única para dar a pais e parentes um insight do autismo, porque ela mesma tem autismo. Foi diagnosticada na idade de 2 anos e sua vida tem sido cheia de situações novas e desafios. Ela dá palestras sobre autismo pelo mundo afora, aparecendo em vários programas de televisão dos EUA. Seu primeiro livro, "Uma Menina Estranha", já era considerado um clássico nesse campo e deve ser lido por todos aqueles envolvidos com crianças autistas. Seu segundo livro, "Thinking in Pictures", estava começando a receber muita atenção, e logo se tornará outro clássico. Stephen Edelson conheceu Temple Grandin no começo dos anos 1980, quando ambos eram estudantes de graduação na Univerisdade de Illinois, em Champaign-Urbana. Temos a honra de apresentar a entrevista com Temple Grandin (TG), realizada em 1° de fevereiro de 1996 pelo Dr. Stephen Edelson (SE).

SE: Qual sua lembrança mais antiga, e qual era sua idade?

TG: Estava em um programa de verão; tinha apenas cerca de três anos. Posso lembrar das brincadeiras em torno de uma piscininha de plástico. De quando tinha 3 anos e meio, também lembro alguma coisa. Posso lembrar da frustração de não conseguir falar. Eu sabia o que queria dizer, mas não conseguia botar as palavras para fora; assim, apenas gritava. Posso lembrar disso claramente.

Posso lembrar de uma vez em que estava em uma sessão de fonoterapia na creche. A professora usava uma varinha, um apontador de quadro-negro, para mandar os alunos fazerem alguma coisa e eu gritava cada vez que ela me apontava. Gritava porque tinham me ensinado, em casa, que nunca se deve apontar um objeto para uma pessoa porque ele pode furar seu olho. Eu não conseguia dizer à professora que tinha aprendido a não apontar coisas para as pessoas.

Também posso lembrar de alguém tocando piano, de marchas em torno do piano e lembro, o que acho que é minha memória mais antiga, de quando fui levada a um hospital para um teste de audição. Não lembro nada do teste, mas lembro que passei a noite no hospital. Eles me deixaram dormir em uma pequena cama com todo tipo de bichos de pelúcia e bonecas.

SE: Quando um pai lhe diz que seu filho foi recentemente diagnosticado com autismo, o que a senhora usualmente lhe diz?

TG: Bem, em primeiro lugar, quero saber a idade da criança.

SE: Vamos dizer que a criança tenha menos de 5 anos de idade.

TG: Acredito muito em intervenção precoce. Temos que fazer as crianças autistas relacionarem-se com o mundo. Não se pode permitir que se desliguem. Posso lembrar quando eu desligava; simplesmente, sentava e balançava e deixava a areia escorrer pelos meus dedos. Era capaz de deixar o mundo de fora. Se deixarmos a criança fazer isso, ela não vai se desenvolver. Cada método de intervenção precoce tem sua própria base teórica, mas tenho observado que os bons professores fazem as mesmas coisas, independentemente da teoria. Quando era criancinha, esperava-se de mim que me sentasse à mesa e mostrasse boas maneiras. Pesquisas começam a mostrar que uma criança deveria estar ocupada pelo menos 20 horas por semana. Não penso que importa tanto o programa que se escolhe, desde que mantenha a criança ligada com o terapeuta, professor ou com os pais por pelo menos 20 horas semanais.

Também acredito em um tratamento integrado para o autismo. Um dos meus problemas sensoriais era a sensibilidade auditiva: certos ruídos, como a campainha da escola, feriam meus ouvidos. Parecia uma broca de dentista atravessando meus ouvidos. Era extremamente sensível ao toque, a anágua parecia uma lixa raspando minha pele. Não há meio de uma criança participar de uma aula se sua roupa de baixo parece feita de lixa. Há outros sérios problemas sensoriais, como os problemas visuais que Donna Williams descreve. Quero enfatizar que os problemas sensoriais são diferentes de pessoa para pessoa. Há crianças que têm vários problemas auditivos. Outras têm problemas visuais. Outras terão uma mistura de ambos, enquanto há quem, como o tipo clássico de Rain Man, tenha apenas uma ligeira sensibilidade auditiva. Eu simplesmente não tenho como enfatizar o suficiente a variedade dos problemas.

Algumas crianças podem precisar de um enfoque comportamental, enquanto outras crianças podem necessitar um enfoque sensorial. Autismo é uma desordem extremamente variável, quero enfatizar este ponto. Um método de tratamento ou de ensino que funcionará para uma criança pode não servir para outra. O denominador comum para todas as crianças é que a intervenção precoce funciona, e isso parece melhorar o prognóstico.

SE: Que conselho a senhora daria para pais que acabaram de receber o diagnóstico de autismo para seu filho de idade entre 5 e 10 anos?

TG: Crianças entre os 5 e 10 anos são sempre mais variadas. Vão de um desempenho muito alto, capazes de fazer trabalhos de escola normais, até uma não-verbal com todos os tipos de problemas neurológicos. Para algumas crianças, pergunto se o diagnóstico principal mais apropriado seria autismo. Tenho visto, em encontros sobre autismo, crianças com dificuldade para andar com diagnóstico de autismo. Muitos, não todos, desses casos me parecem ter alguma coisa muito diferente de autismo. Precisa-se olhar para cada caso e fazer o que for apropriado.

SE: A senhora foi uma das primeiras pessoas na área a destacar a importância dos problemas sensoriais no autismo. O que pensa, atualmente, sobre esse assunto?

TG: Acredito na necessidade de conscientizar as pessoas para os problemas sensoriais do autismo, e esses são problemas variáveis. Podem ir de uma leve sensibilidade auditiva até casos em que as pessoas não conseguem ver e ouvir ao mesmo tempo. Os sentidos se misturam, deixando-as incapazes de perceber os limites do próprio corpo. Estes casos pedem uma abordagem diferente de crianças altamente verbais que conseguem fazer a lição de casa normalmente. De fato, essas pessoas precisam de uma aproximação muito gentil. Donna Williams escreveu sobre uma abordagem mono-canal, em que ela ouve, ou enxerga alguma coisa; não consegue fazer as duas coisas simultaneamente. Fui uma criança que era tirada do autismo se dissessem: “Agora, venha, presta atenção!” Mas não se pode fazer isso com crianças com problemas sensoriais mais severos. Nesses casos, deve-se questionar se há uma razão biológica para o comportamento, ou apenas uma causa comportamental. Se o som machuca os ouvidos da criança, não há como impedi-la de ter medo do sinal da escola.

SE: Muitas pessoas enviaram perguntas para a senhora. A mãe de uma criança de cinco anos e meio com TGD (transtorno global do desenvolvimento) pede conselhos. Seu filho freqüenta uma classe de maternal com outros 22 colegas e está começando a ficar agressivo. A mãe diz que ele escolhe uma criança em particular e a prende pelo pescoço.

TG: Não tenho informações suficientes para recomendar algo mais definido. Desde que TGD e autismo são diagnósticos estritamente comportamentais, não são diagnósticos absolutos como síndrome de Down. Há uma grande variação de crianças com o rótulo TGD. Das conversas com os pais, parece haver dois tipos de crianças que acabam por receber esse diagnóstico. Há os casos muito suaves, em que a criança é verbal e tem apenas alguns leves traços autistas. O outro tipo de criança com TGD tem uma desordem neurológica. É não-verbal e tem problemas sensoriais autistas. O rótulo TGD é usado porque é delicado e interessa às pessoas. Há dois tipos muito diferentes de rótulos TGD, que são como laranjas e maçãs.

Desde que a criança volta sua agressividade especificamente a uma criança em particular, precisamos compreender por que isso está acontecendo. Será que a outra criança a está importunando? De qualquer forma, é necessário intervir para acabar com esse comportamento.

SE: Poderia ser o tom de voz da outra criança?

TG: Pode ser possível. Algumas crianças autistas não suportam o som de certas vozes. Há professores que me contam de crianças que têm problemas com suas vozes ou de outras pessoas. Este problema costuma estar relacionado a vozes femininas muito agudas. Mas isto não é válido em todos os casos.

Acho que é preciso ser um detetive muito bom para determinar o que está causando a agressão. Talvez a criança apenas esteja sendo malvada. Infelizmente, há muitos comportamentalistas que ignoram os problemas sensoriais. Por exemplo, vamos dizer que a criança mostra medo de entrar na quadra de esportes. Sei de muitos casos assim. A criança tem medo porque a campainha do painel fere seus ouvidos; daí, fica de olho no relógio e se encolhe quando ele está prestes a tocar. Ninguém vai querer entrar numa sala onde um som dói como a broca de um dentista atravessando seu nervo. Luzes fluorescentes podem incomodar; alguns ventiladores podem produzir ruídos que a deixa maluca. Uma vez, precisei fazer uma operação e, no quarto, havia um ventilador. Eu absolutamente poderia ficar ali. O ventilador tinha um rolamento quebrado e guinchava. Eu usava o banheiro no escuro. Não podia suportar o barulho.

Há casos em que as crianças fazem coisas apenas por mau comportamento. Este problema precisa ser tratado comportamentalmente. Mas isto quando se tem um bom observador que compreende o que causa o comportamento, assim você pode usar a intervenção correta. Infelizmente, não posso dar a essa mãe um conselho específico porque não há informação suficiente.

SE: Outra questão: Uma professora trabalha há dois anos com uma garota de nove anos com TGD. A menina é supersensível ao toque, em especial quando está sendo redirecionada para atividades desafiadoras, como cortar, contar e ginástica. Ela reage, dizendo: “Não me toque, machuca!” Entretanto, pode ser redirecionada da mesma forma enquanto lê, e aí não há resposta negativa.

TG: Em outras palavras, sua sensibilidade ao toque muda conforme o que ela faz. Um problema é que há muitos ecos num ginásio de esportes. Quando era pequena, eu tinha problemas para comer numa cafeteria. As cadeiras balançavam, havia muito barulho. Uma vez que há ginásios muito barulhentos, os sons provavelmente deixam seu sistema nervoso excitado, seus sentidos ficam à flor da pele. Em contraste, o lugar onde ela lê e faz contas é um lugar silencioso que ajuda seus sistema nervoso a se acalmar. Seria uma boa idéia fazer alguns exercícios táteis para reduzir a sensibilidade. Um bom exercício é a pressão bem forte, como rolar em tapetes e deitar-se debaixo de um colchão. Atividades físicas também ajudam e escovação é muito efetivo para acalmar o sistema nervoso.

SE: O que parecia lhe ajudar mais quando estava crescendo?

TG: Havia uma variedade de coisas. As pessoas estão sempre procurando pela pílula mágica que vai mudar tudo de uma vez. Não há uma pílula mágica. Tive muita sorte por receber intervenção precoce com professores muito bons, desde os dois anos e meio. Não posso enfatizar o suficiente a importância de bons professores. Um bom professor vale seu peso em ouro. Alguns professores têm aptidão para lidar com crianças autistas. Outros, não. Se você achar um bom professor, segure-o bem firme. Minha mãe me ensinou a ler. Eu estava no caminho certo na terceira série, e fui muito bem por cerca de três anos.

A sétima e oitava séries (Junior High School) foram, para mim, uma grande confusão e, então, veio a puberdade. Meus ataques de ansiedade vieram durante a adolescência e todo o nervosismo começou. Esse período foi terrível. Tive um bom professor de Ciências que me interessou no assunto. Depois disso tive empregadores que ajudaram bastante. Houve muitas pessoas que me ajudaram.

Comecei a tomar anti-depressivos com treze anos. Não estaria aqui sem anti-depressivos. Sei de vários adultos autistas que se beneficiam com Prozac. Só quero fazer um alerta sobre os anti-depressivos, explicar como funcionam.

Isto se aplica tanto aos novos medicamentos, Prozac e seus clones, como aos velhos anti-depressivos tricíclicos. São drogas que agem em dois circuitos do cérebro. O primeiro circuito acalma a ansiedade e o nervosismo e o segundo é excitatório. Vou chamá-lo de “circuito anti-depressão”. Afinal, eles são chamados de anti-depressivos porque eliminam a depressão. Para pessoas que estão em depressão, uma dose grande vai tirá-la “para fora”. Uma vez que pessoas autistas não estão verdadeiramente deprimidas, uma dose muito grande de anti-depressivos pode causar irritabilidade, agitação e excitamento. Se a pessoa toma uma overdose do remédio, pode ainda ficar agressiva e ter insônia. Ocasionalmente, ouço falar de alguém que ficou maluco com Prozac. Isso, provavelmente, é causado por overdose. O macete é acalmar os nervos sem colocar o outro circuito em uma irritabilidade hipermaníaca. Um erro comum é dar mais remédios quando a insônia e irritabilidade começam. É o pior a fazer. Temos que baixar a dose. Tenho tomado a mesma dose de anti-depressivos há quinze anos e meu nervosismo ainda sobe e desce em ciclos; mas ele está ciclando em um nível inferior ao que fazia antes. Você tem de resistir à vontade de tomar mais remédio toda vez que há uma pequena recaída. Não se pode ter 100% sob controle, mas é possível ter algo como 90%, se as coisas estiverem funcionando de forma adequada. Também queria acrescentar outra coisa sobre drogas anti-depressivas: não são para todo mundo.

Uma vez que há muitas pessoas com o rótulo “autismo”, é importante mencionar que o que funciona muito bem para algumas pessoas pode não funcionar bem para outras. Quando falamos do assunto medicação, sempre se deve avaliar o risco versus o benefício. Quando uma pessoa toma um remédio, espera-se uma reação do tipo “UAU! Essa coisa funciona mesmo!” Isso compensa o risco de tomar um remédio. Se você começa a usar um remédio em uma pessoa autista, deve ter uma melhora evidente no comportamento em um curto período. Se essa melhora não é observada, provavelmente não é a droga correta. É simples assim.

SE: Infelizmente, algumas pessoas recebem uma prescrição e simplesmente tomam o remédio, ajude-a ou não.

TG: Quando você toma um remédio para pressão alta ou diabetes, tem um teste objetivo para medir a pressão ou o teor de açúcar no sangue. Com o autismo, você procura por alterações no comportamento. A única forma de avaliar se um remédio realmente funcionou é se professores e pais relatam mudanças. Quando a criança é levada ao consultório de um médico por 5 minutos, tanto poderá subir pelas paredes como se comportar como um perfeito anjo. O médico não pode ter um quadro detalhado do comportamento em cinco ou dez minutos. Só é possível ter uma compreensão acurada do comportamento a partir de pessoas que vêem o paciente – adulto ou criança – por muitas horas. Medicamentos dão melhoras dramaticamente óbvias. Se não há essa melhora, então a droga deveria ser abandonada. Se a pessoa toma a medicação por meses ou anos e você a quer descontinuar, ela deverá ser removida gradualmente, Remédios que vêm sendo tomados por poucos dias ou semanas podem ser suspensos abruptamente.

SE: Que retorno você tem recebido de pais e profissionais a respeito de sua máquina do abraço?

TG: Muitos pais me contam que os filhos buscam pressão, especialmente alguns adultos não-verbais. Entram embaixo das almofadas do sofá, enrolam-se em cobertores, mesmo quando está calor, e se deitam entre o colchão e a cama. A pressão acalma o Sistema Nervoso. Em crianças pequenas, há muitas formas baratas de providenciar pressão, como esteiras de ginástica e almofadões do tipo pufe. Para ajudar crianças hiperativas a ficar sentadas numa sala de aula, um colete pesado pode ajudar. É como um colete de fotógrafo, almofadado e pesado. De fato, apenas um pouquinho de pressão já ajuda a se acalmarem. Acho que a máquina do abraço é mais válida para adultos, mas gostei de saber os resultados de sua pesquisa com ela. Seus resultados fazem sentido para mim; apenas um tipo de criança tem grandes benefícios. São as crianças com um sistema simpático hiperativo.

A máquina do abraço não vai curar ninguém, mas ajuda a relaxar, e uma pessoa relaxada costuma ter melhor comportamento.

SE: Algumas pessoas não sabem que você tem doutorado em ciência animal. Rapidamente, qual foi o foco de sua tese e quais os resultados?

TG: Minha tese foi sobre os efeitos do ambiente no crescimento dendrítico do córtex somato-sensorial do porco. Havia muitas pesquisas sobre ratos nas quais um grupo de ratos vivia em uma pequena caixa plástica no laboratório e o outro grupo ficava em um verdadeiro “play ground tipo Disneylândia”, com todo tipo de brinquedos para escalar, que eram trocados diariamente. Os resultados claramente mostravam que os ratos da “Disneylândia” desenvolviam mais terminações nervosas no seu córtex visual. Assim, pensei: vamos tentar com porcos. Pus alguns porcos para viver em uma “Disneyporcolândia”, com brinquedos e camas de palha, e outros porcos vivendo em um cercadinho comercial. Adivinha o que aconteceu? Ficamos muito surpresos – os resultados deram para trás. Os porcos do cercadinho tinham mais terminações nervosas nos seus córtices. Então, perguntamos por que isso aconteceu.Olhamos as fitas registradas durante a noite, sem ninguém por perto. Descobrimos que aqueles porcos ficavam fuçando – fuçavam o chão e uns aos outros. Tinham comportamentos estereotipados quando ninguém estava por perto. Esta é uma das razões pelas quais acredito firmemente que não se deve deixar uma criança autista sentada num canto, desligada durante seis horas por dia. Elas podem formar “avenidas de dendritos” em lugares onde não deveriam existir.

Gostaria também de mencionar, ainda que seja apenas teoria, que há uma possibilidade de danos cerebrais secundários em crianças autistas. A criança nasce com desenvolvimento imaturo no sistema límbico e cerebelo. Mas se estas crianças se retraem, devido a problemas sensoriais ou de outro tipo, talvez outras partes de seus cérebros também não venham a se desenvolver de forma apropriada. Isso é só teoria; não posso provar, mas há experimentos que dão suporte a essa idéia. Por exemplo, se bebês animais não têm estimulação apropriada quando jovens, irão cometer erros permanentemente. Como você deve saber, alguns dos comportamentos estereotipados das crianças autistas também são vistos em animais de zoológicos, que cresceram num ambiente pobre. Por que um animal de zoológico teria um comportamento semelhante ao de uma criança autista? Bem , a criança autista não se desenvolve porque o mundo lhe é um lugar doloroso – sons, toques, a visão, tudo machuca – assim, ela se fecha. Animais de zoológico exibem esse comportamento por causa de seu ambiente limitado, onde não há nada para fazer. O leão do zoológico vive numa caixa de concreto. Felizmente, os zoológicos estão se esforçando para ter exposições mais bonitas mas, no passado, os leões de zoológico não tinham nada para fazer. Como resultado, seus cérebros não recebiam estímulos suficientes para se desenvolver e comportamentos estereotipados surgiam devido ao enfado.

Pesquisas mostram que um ambiente pobre é muito mais danoso a bebês animais que para animais adultos. Esses ambientes não prejudicam aos animais adultos como aos bebês. Este é um dos motivos porque acredito na intervenção precoce. Temos de trabalhar para manter essas crianças engajadas com o mundo. Há algumas que, aos três anos, você pode chamá-las, dizendo: “Preste atenção!” Há outras com quem tal estratégia não funciona. Com elas, se você forçar o contato ocular, vai causar nos seus sistemas nervosos uma sobrecarga sensorial. Elas vão “desligar” e nada vai entrar nelas. Elas são “mono-canal” e só conseguem usar um sentido de cada vez. Você precisa se aproximar suavemente, esgueirar-se, com essas crianças. Tente sussurrar em uma sala livre de distrações visuais. Pode tentar cantar com uma voz suave e baixa. Talvez assim consiga estabelecer contato. Há muita variação entre crianças autistas.

SE: Você sente que perdeu alguma coisa por ser autista?

TG: Nos últimos anos, quando trabalhava no meu livro, “Thinking in pictures”, percebi que eu perco alguma coisa que as demais pessoas têm – complexidade emocional – e eu a substituo por complexidade intelectual. Obtenho grande satisfação em usar meu intelecto. Gosto de visualizar coisas e resolver problemas. Isso realmente me deixa bem. Quando observo a complexidade emocional em outras pessoas, é o tipo de ritmo que rola entre namorados. Freqüentemente observo isso em aviões. Algumas vezes sento perto deles. É como observar seres de outro planeta. O relacionamento é o que os motiva mas, para mim, é visualizar como projetar algo, tal como visualizar melhores formas de tratar o autismo. Uso minha mente para resolver problemas e inventar coisas. Tenho uma tremenda satisfação em inventar coisas e fazer pesquisas inovadoras. Acabamos de concluir vários bons experimentos na Universidade. Tivemos resultados muito bons, e isso me satisfaz. Minha vida é, basicamente, meu trabalho. Se não tivesse meu trabalho, não teria qualquer vida. Isto leva à importância de manter as pessoas autistas na escola interessadas em algo que possam transformar em uma carreira. Eles precisam investir nos seus talentos, tais como trabalho artístico e programação de computadores.

5 de nov. de 2011

Insegurança Gravitacional – Medo exagerado?

Esta é uma pergunta feita muitas vezes pelos pais no consultório. Esse medo às vezes faz com que crianças não consigam participar de brincadeiras ou até apresentar um atraso na aquisição dos marcos de desenvolvimento.



Insegurança gravitacional define-se como um medo desproporcional ao tamanho do desafio. Todos nós temos medos, em diferente gráu de intensidade, de certos brinquedos, movimentos, etc. Quando esse medo interfere com a nossa habilidade funcional no dia a dia, poderíamos dizer que existe um problema de insegurança gravitacional. Assim, crianças que consistentemente escolhem brincadeiras sedentárias, que preferem não ir ao parquinho ou quando vão, escolhem o tanque de areia, permanecem à margem de brincadeiras de movimentos, começamos a suspeitar de um problema de insegurança gravitacional. Algumas vezes as crianças conseguem e gostam de atividades de movimento mas têm de se sentir completamente em controle antes de conseguir executá-las. Qualquer movimento inesperado ou intervenção de outra pessoa a assusta e faz desistir ou entrar em pânico.



Nossa habilidade de nos relacionar com a gravidade e relacionar nossos corpos ao espaço ao nosso redor é muito básica. Este sentido, que vem do sistema vestibular, é verdadeiramente o aspecto mais fundamental de desenvolver um senso de segurança.



Como bebês, começamos a desenvolver um sentimento de confiança conforme nos movemos pelo espaço e nosso sistema nervoso dá informações exatas sobre em que direção estamos indo, com que velocidade e de que modo estamos orientados no espaço. Somos capazes de perceber essas coisas quando nossa cabeça muda de posição, através de estimulação de uma parte do sistema vestibular que reage ao empuxo gravitacional da terra. Assim, desde que a mãe pega o bebê do berço e o embala ou dança com ele o sistema vestibular está sendo ativado e sendo preparado para tarefas mais complexas de movimento e para orientação espacial no futuro.



Crianças que não percebem gravidade da forma usual geralmente têm muito medo de movimento, altura e/ou mudança de posição da cabeça. Este tipo de problema é frequentemente chamado de “insegurança gravitacional”.



A maioria de nós pode imaginar se sentir ameaçado por estar à beira de um precipício ou se sentir desorientado ao ser movido no espaço tão rapidamente que não sabemos imediatamente o que é para baixo ou para cima. Para alguns indivíduos entretanto, a menor mudança na posição ou altura cria um sentimento extremo de desorientação, medo e ansiedade. É muito difícil para quem não tem essa reação imaginar o que deve ser experimentá-las. Se você não pode confiar em seu corpo para se mover pelo espaço, é difícil confiar em alguém ou alguma coisa. É interessante observar que existe um fator muito forte de se sentir em controle do movimento nestas sensações de insegurança gravitacional. É frequente ver tais crianças subindo em mesas ou se colocando em situações de perigo real; entretanto, o sistema nervoso delas naquele momento não registra alarme porque a criança está se sentindo em controle da situação. Basta porém que aconteça um movimento inesperado para que essa criança entre em pânico.



Como é tão difícil entender esse problema, frequentemente pode parecer que alguém que tem insegurança gravitacional tem um problema de comportamento ou psicológico. Embora seja certamente fácil imaginar como se poderia desenvolver problemas psicológicos ou comportamentais a partir de uma insegurança gravitacional, a base do distúrbio é obviamente neurológica.



A maioria das crianças passa por períodos em que reagem com um pouco de medo a alguns tipos de movimento ou altura. Há muitas diferenças indivíduais no modo pelo qual as pessoas reagem a altura ou movimento rápido. Entretanto, quando o medo começa a interferir na habilidade de participar em atividades, pode existir um problema. Alguns dos sinais que são considerados sugestivos de insegurança gravitacional incluem:



• Desconforto ou choro ao ser tirado do berço, movido de um lugar para o outro , no caso de bebê
• Ansiedade quando os pés saem do chão, por ex. ao sentar em um balanço ou rede
• Medo não natural de altura ou cair
• Intolerância a ficar de cabeça para baixo
• Medo ou insegurança em superfícies instáveis ou escadas
• Medo de ser virada de costas

Um outro problema relacionado é chamado de “intolerância a movimento”. A característica principal deste problema é uma reação extrema a movimento que geralmente é manifestada por sinais fisiológicos tais como náusea e enjoo. Indivíduos com esse problema tendem a enjoar em carro ou em barcos. Não se conhece tanto sobre esse problema quanto sobre insegurança gravitacional, mas o observamos em crianças que têm outros problemas de integração sensorial. A principal diferença é que as reações apresentadas são de caráter fisiológico , não apenas de medo.

O QUE VOCÊ PODE FAZER PARA AJUDAR



1. Reconheça que esse é um problema real para a criança e respeite suas reações a diversas situações. Tratar isso como uma fraqueza emocional ou problema de comportamento provavelmente tornará o problema pior.

2. Ajude a criança a se envolver gradativamente em atividades que são ameaçadoras. Por exemplo, se a criança se assusta estando em balanço, experimente primeiro um em que os pés toquem o chão, ou segure-a no colo em um balanço. Inicie com movimento lento e rítmico

3. Propriocepção extra, ou pressão nos músculos e articulações e no tronco às vezes ajudam a criança a se sentir mais segura. Por exemplo, se a criança tem medo enquando sobe escadas, tente segurá-la pelo quadril e aplicar pressão suave. Isso pode fazê-la se sentir mais confiante que quando segura as mãos.

4. Movimento suave, para a frente e para trás, é geralmente mais fácil de ser tolerado que movimento rotatório. Tente mover a criança da forma mais confortável primeiro.

5. Geralmente é muito ameaçador ser virada para trás. Não tente esse tipo de movimento até que a criança esteja pronta para tolerá-lo.

6. Envolver-se em brincadeira e faz de conta durante atividades assustadoras pode ajudar a distrair dos aspectos mais assustadores da situação.

7. Pratique alguns movimentos enquanto a criança fica com os olhos fechados. Isso pode ajudá-la a perceber melhor a posição de seu corpo no espaço .



8. Às vezes, colocar pesos ( por exemplo no pulso ou tornozelo ou uma mochila com pacotinhos de arroz ou feijão) ajuda a criança a se sentir mais segura. Usar uma roupa bem justa, tipo uma camiseta de “espandex” por baixo da roupa também ajuda a criança a se conscientizar mais dela no espaço e diminuir o medo assim como acalmar um pouco.

Converse com a terapeuta para verificar se essas atividades são apropriadas para sua criança e peça mais sugestões.


1 de nov. de 2011

Comentários e Sugestões

Acredito, que o trabalho em conjunto nos faz crescer !!! Deixe aqui comentários e/ou sugestões para as próximas postagens no blog. Bjs

25 de out. de 2011

Hipotonia resultante de Disfunção do Processamento Sensorial – como a Terapia Ocupacional pode ajudar


Há muitas origens e causas da hipotonia, algumas congênitas outras adquiridas. Nem sempre é fácil de diagnosticar, e principalmente quando a hipotonia leva a alterações muito além do aspecto motor.


Vale lembrar que nós amadurecemos numa relação contextual de vida. Estamos sempre em conexão com o meio externo e, interno, simultaneamente. Para isso temos um corpo que se estrutura ao longo da vida para poder fazer esta integração.


E quando o corpo amadurece em um tempo e de um jeito diferente da grande maioria? Ou ainda, quando o meio externo não favorece uma “chamada” para este amadurecimento?


Temos estruturas do sistema nervoso que são responsáveis pela regulação do tônus e que estão ligadas a outras estruturas centrais e periféricas do corpo criando mensagens para o ser humano se adaptar aos desafios da vida. O corpo age de “comum acordo biológico” para naturalmente tudo funcionar colaborando, sobretudo para a sobrevivência.


Mas nem sempre isso acontece com fluidez. Por vários motivos. Um deles pode ser pelo código genético com cromossomas que marcam um tipo de tônus. Outro jeito pode ser adquirido por fatores externos e internos afetando o funcionamento orgânico.


Dentre as causas da hipotonia encontramos a disfunção do processamento sensorial que tem origem nas estruturas do sistema nervoso central interferindo, no mínimo, nas etapas de maturação sensório-motora.


Como o desenvolvimento se dá pela cooperação quando algo não amadurece no tempo ou de forma harmônica há também uma interligação de fatores para se configurar o comportamento. Um processo engendra o outro.


Um tônus diminuído pode levar a criança explorar o espaço de forma “econômica” e isto pode levar a uma criação de repertório cognitivo em defasagem com o grupo. Um comando cerebral que regula o tônus muscular de forma inconsistente pode ser responsável também pela criança não ter inciativa em brincar de forma autônoma. Quando o estado de alerta estiver alterado pode resultar em dificuldade de sustentar a atenção numa brincadeira ou na interação social. Desta forma percebemos como o sensorial age sobre o motor e este sobre o cognitivo, e cada um sobre os demais.


Para saber a melhor forma de intervir seja no contexto clínico, nas brincadeiras em casa ou na escola é importante investigar qual a causa e o grau de hipotonia para conseguirmos influenciar na qualidade de desenvolvimento da criança.


Quando houver um ou mais dos seguintes sinais aliados a hipotonia é aconselhável passar por uma avaliação de terapia ocupacional com formação em Integração Sensorial:

- atraso de controle postural.
- alteração do estado de alerta e atenção
- dificuldade nas atividades diárias como alimentação, higiene, vestuário, inclusive a hora de dormir, acordar e sair de casa
- defasagens na coordenação motora ampla e fina
- defasagem no brincar
- alteração na interação social e estado humor
- defasagem escolar, em idade precoce ou tardia. Muitas atividades pedagógicas precisam de uma prontidão corporal para sustentar a atenção, planejamento, e coordenação motora global e fina.
- alteração em outros sentidos como do equilíbrio, tátil, auditivo e/ou visual.


Muitas vezes sintomas de “defensividade sensorial” como intolerância a alguns estímulos inclusive mudanças de posição e pouca habilidade de interação não são investigados prevalecendo a maior atenção somente ao impedimento motor.

COMO A TERAPIA DE INTEGRAÇÃO SENSORIAL PODE AJUDAR
Dentro da abordagem de Integração Sensorial sabemos que os sentidos vestibular, tátil e proprioceptivo tem grande influência no estado de alerta, na qualidade da atenção, no desempenho das aquisições motoras e nas demais modalidades sensoriais afetando, e sendo afetados pela regulação tônica. Se dá pelo funcionamento dos sistemas interligados: motor, sensorial, emocional e social.

Pode se chegar a uma melhor qualidade de tônus principalmente pelas combinações graduadas das informações sensoriais em um contexto de brincadeiras livres ou com um fim específico.


A terapia de Integração Sensorial é construída por meio de situações lúdicas para a criança conhecer e aprender a usar de forma integrada o seu corpo no tempo e espaço adequado para envolver-se nas atividades significativas a ela.


Sugestões para o dia-a-dia



Brincadeiras que favoreçam vivência proprioceptiva como pular, balançar, puxar, carregar.


Subir em árvores e brinquedos de parque.


Aprender a sustentar seu corpo nas diversas posturas, de bruços, de lado, sentado, em pé, sempre no contexto lúdico.


Brincadeiras com músicas que favoreçam ritmo. Estabelecer início, meio e fim.


Aprender a passar pelos momentos de transição, começar e parar.


Favorecer boas experiências táteis como massagens, toque corporal com pressão, poder se sujar, fazer comidas em grupo.


Brincar com massa de modelar, argila e demais materiais de artes plásticas.


Ter sempre por perto para as brincadeiras: almofadas, massageador, bichos e bolas com diferentes pesos, formas e texturas.


Quando for possível usar canudos, instrumentos de sopro e alimentos mastigáveis.


Sentar em superfície firme e com pés apoiados. Sempre ver se o tipo de material favorece um contato para firmeza e sustentação do próprio corpo.


Vale salientar que tudo deve estar ao alcance da criança a depender da fase em que se encontra, dos seus desejos e possibilidades. A prioridade é o sucesso da criança.


FONTE:http://terapiaocupacional-bethprado.blogspot.com/2011/08/hipotonia-resultante-de-disfuncao-do.html

22 de out. de 2011

Confecção de brinquedo adaptado: uma proposta de intervenção da terapia ocupacional com crianças de baixa visão

Para o desenvolvimento infantil, a interação com o ambiente é fundamental. A qualidade dessa interação vai depender da capacidade da criança para se inter-relacionar com ele. Essa capacidade pode ser prejudicada com, por exemplo, uma deficiência no sistema visual. A criança com deficiência visual tende a não captar os estímulos do meio ao seu redor, ou a não saber como reagir a eles, ficando privada de algumas oportunidades de desenvolvimento. Essa é a razão pela qual poderá precisar de ajuda até para brincar. Considerando esses aspectos, o presente trabalho tem como objetivo ressaltar a importância da adaptação de brinquedos para a promoção do desenvolvimento integral da criança com deficiência visual, em especial nos casos de visão subnormal. Para a consecução desse objetivo, a partir do estudo da problemática enfrentada pelas crianças nessa condição especial e da importância do trabalho da Terapia Ocupacional na adaptação, foram confeccionados dois brinquedos específicos para crianças de 2 a 4 anos com visão subnormal. Pode-se concluir que, embora não exista o que se chama de “brinquedo para crianças com deficiência”, às vezes é necessário adaptá-los às necessidades e ao nível de desempenho da criança.

Introdução

Não existe questionamento quanto à importância da visão no relacionamento do indivíduo com o mundo externo, uma vez que permite captar registros próximos ou distantes e de organizar, a nível cerebral, as informações trazidas pelos outros órgãos dos sentidos, correlacionando explorações e descobertas que fazem parte do seu próprio desenvolvimento, além de ser um estímulo motivador para a comunicação e realização das ações no ambiente (Bruno, 1993).

Se a criança tiver o seu sistema visual acometido por alguma doença ou má formação, isso poderá resultar em deficiência visual, que pode ser entendida como uma falha nesse sistema, não permitindo a adaptação ou utilização desse meio de comunicação no ambiente.

Dependendo do grau de comprometimento do sistema, poderá resultar em baixa resposta visual, denominada “visão subnormal” ou “ausência total da resposta visual”, que seriam os casos de cegueira. Em ambas as situações, as conseqüências à vida da criança poderão repercutir nos aspectos educacionais, emocionais e sociais, que perdurarão ao longo da vida, se não houver uma intervenção precoce (Veitzman, 2003).

Nos casos de visão subnormal, o processo educativo se desenvolverá por meios visuais, ainda que seja necessária a utilização de recursos específicos e/ou adaptados. Deve-se considerar que o nível de experiência, desempenho e eficiência visual é particular e, portanto, muda de indivíduo para indivíduo, independente da idade, patologia e acuidade visual (Bruno, 1997).

As limitações que a ausência da observação visual impõe são relativas ao controle do ambiente, à orientação e ao domínio do corpo no espaço, à locomoção independente, à imitação das ações e, também, às brincadeiras e habilidades de interação social. Essas limitações podem ser compensadas pela participação em brincadeiras, jogos corporais e, principalmente, formas adequadas de interação e comunicação com o ambiente. (Masini, Gasparetto 2007).

A partir da década de noventa, com o novo enfoque funcional, os profissionais oftalmologistas, terapeutas e educadores começaram a trabalhar no sentido de aproveitarem o potencial visual nas atividades educacionais, na vida cotidiana e no lazer, priorizando o desenvolvimento de técnicas voltadas para trabalhar o resíduo visual assim que a deficiência tenha sido constatada, comprovando uma melhora significativa da qualidade de vida, mesmo sem eliminar a deficiência.

Barraga apud Masini e Gasparetto (2007) referem que a criança com baixa visão, sozinha, “capta” pouco com o sentido da visão; mesmo assim precisa ser ensinada sobre o processo de discriminação de formas, contornos, figuras e símbolos, ou seja, sem um processo de aprendizagem, não poderá fazer uso de seu resíduo visual.

Portanto é preciso proporcionar à criança um ambiente que a estimule a usar a visão, de forma que esta a ajude a comparar, categorizar, compreender e comunicar Ortega (apud Martín e Bueno, 2003).

Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi o de ressaltar a importância do trabalho do terapeuta ocupacional junto a crianças com baixa visão, mediante a confecção de brinquedos adaptados às suas necessidades e que promovam o desenvolvimento integral.

Método

Para comprovar a eficiência da adaptação de materiais específicos para baixa visão, foram confeccionados dois jogos - um de encaixe e outro com figuras (dominó de animais) – destinados a crianças com idade na faixa de 2 a 4 anos, que, devido à baixa visão, apresentem dificuldade na visão para perto. O projeto de adaptação utilizou placas de EVA (material emborrachado), madeira, figuras adesivas, tinta, cola e cordões coloridos. Além da finalidade a que os jogos se propõem, pensou-se em adequar o tamanho das peças e o contraste das mesmas. Para análise dos jogos, tomou-se como base as referências quanto ao tipo de material utilizado, a finalidade e as variáveis de aplicabilidade, de modo a ressaltar os benefícios advindos com a aplicação dos mesmos para promoção das habilidades do indivíduo.

O brincar da criança com baixa visão

É sabido que as crianças se desenvolvem através de sua interação com o ambiente que as cerca, mas a profundidade dessa interação vai depender de sua capacidade para interagir com esse ambiente. A criança dotada de visão é motivada a agir, porque extrai do seu meio os estímulos provocadores de ação. Já a criança com baixa visão pode não captar esses estímulos ou não saber como reagir a eles, ficando, assim, privada das melhores oportunidades de desenvolvimento. Essa é a razão pela qual ela pode precisar de ajuda até para brincar (Cunha, 1998).

O brinquedo é um objeto facilitador do desenvolvimento das atividades lúdicas, que desperta a curiosidade, exercita a inteligência, permite a imaginação e a invenção. Estimula a representação e a expressão de imagens que evocam aspectos da realidade .

Algumas crianças com deficiência visual adquirem esquemas rítmicos de movimentos próprios e particulares como balançar o corpo e a cabeça, agitar os braços, movimentar as mãos frente aos olhos, esfregar as mãos, apertar os olhos, como forma de comunicação e expressão de seus sentimentos, emoções e tensões. Bruno (1993) enfatiza que podemos ajudar essas crianças com a adequada interação afetiva e comunicação pelo contato físico e verbal, com experiências sensório-motoras significativas, como o brincar, e com movimentos corporais prazerosos, que dão sentido à ação e aliviam tensões.

No entanto, nem sempre as pessoas com que essas crianças interagem estão preparadas para estimular esse brincar de maneira eficiente. A utilização de um brinquedo inadequado à etapa de desenvolvimento na qual a criança se encontra pode provocar mais frustração à criança com deficiência. Dessa maneira, em alguns casos são necessárias adaptações no brinquedo para que se torne viável. Embora não exista o que se chama “brinquedo para crianças com deficiência”, pois os brinquedos são exatamente os mesmos que qualquer criança usa, às vezes é necessário selecioná-los com mais cuidado, porque precisam ser coerentes com as necessidades e o nível de desempenho da criança. A atividade de brincar provoca um clima de descontração e afetividade dentro do qual a interação pode fluir mais naturalmente (Cunha, 1998).

A autora descreve, ainda, que brincar de encaixar, empilhar, construir, montar quebra-cabeças são atividades que proporcionam exercício e desenvolvem habilidades, mas só serão brinquedos se forem realizadas com prazer; caso contrário, serão apenas tarefas realizadas com brinquedos. Um aspecto importante destes brinquedos é que levam a criança a perceber a necessidade de planejar suas ações. Estes jogos tornam as crianças mais aptas a desempenhar tarefas que, talvez, não conseguissem realizar se não estivessem em situação lúdica, livres de cobrança e obrigatoriedade.

O brincar, então, é fundamental para a criança com baixa visão, por favorecer e despertar seu interesse em conhecer, uma vez que a criança que enxerga é motivada a explorar os objetos, porque os vêem. As crianças com deficiência visual não têm esse tipo de motivação, pois, não vendo os objetos, não são estimuladas a manuseá-los, mesmo quando um brinquedo é colocado em suas mãos. Os objetos precisam estar acessíveis aos olhos e às mãos, para a criança poder ver ou tocar e, dessa forma, ao ir em busca do brinquedo, começar a brincar espontaneamente.

Os jogos e brinquedos que desenvolvem as percepções tátil e auditiva ajudam-na a aprimorar os sentidos dos quais ela terá que se valer para compensar a deficiência visual. Felizmente, existem muitos jogos e brinquedos baseados em discriminação tátil e visual, oferecendo a oportunidade das crianças apalparem formas bem variadas de objetos e animais, oferecendo a chance delas reconhecerem e diferenciarem cores e objetos contrastantes e também de, através da vivência descontraída das atividades lúdicas, ir construindo o conhecimento sobre as coisas e as pessoas (Cunha, 1998).

No entanto, é importante observar que tipo de material a criança prefere: se plástico, tecido, borracha, espuma, metal, etc. Algumas preferem materiais duros e ásperos, outras preferem duros e macios. A exploração deve começar pelos materiais de que mais gosta e, gradativamente, os que ela rejeita devem ser apresentados. Deve-se, também, lembrar de que, ao se apresentar à criança com perda visual um objeto, tem-se que associar ao estímulo visual ou tátilcinestésico, a informação verbal e função do objeto, para, enfim, ela ir construindo seu sistema de significação e aprendendo a brincar (Bruno, 1993).

Segundo Reily apud Masini e Gasparetto (2007), em situações de adaptação de material, é necessário que se realize uma seleção criteriosa, principalmente quando se está trabalhando com imagens. Devem ser consideradas a qualidade da imagem e a possibilidade de compreensão da figura, transformando traços em relevo, ampliando a imagem ou ressaltando o contraste.

As atividades devem incidir num trabalho global de reorganização funcional procurando:

– associar impressões visuais com outros tipos de informação sensorial;
– relacionar novas experiências com experiências anteriores; e
– favorecer o desenvolvimento da memória visual – (remota e recente).

A confecção de jogos adaptados

O terapeuta ocupacional tem um papel fundamental na atuação junto à criança com visão subnormal, pois pode dispor de recursos terapêuticos advindos da aplicação da Tecnologia assistiva*. Neste trabalho, em especial, a confecção de jogos e brinquedos adaptados, que facilitam a participação social da criança com deficiência por poder auxiliá-la a estar nos diversos espaços, facilitando a inserção e participação nas atividades de seu cotidiano, inclusive o brincar. Porém, a introdução desses recursos precisa ter um sentido para ela, sentido esse que vai sendo construído a partir do uso que ela faz desse recurso, na relação terapêutica e no seu cotidiano.

É imprescindível que as adaptações de materiais sejam eficientes e atender algumas características peculiares:

– devem atingir um objetivo específico;
– não encorajar nem exigir movimentos ou posturas fora do comum;
– devem ser bem construídas e não apresentar riscos ou danos ao paciente;
– exigir intrinsecamente determinadas respostas em que o paciente não precisa se concentrar; e
– não humilhar o paciente: alguns pacientes não toleram adaptações muito artificiais que, portanto, não são benéficas (Trombly, 2005).

Refletindo sobre tais características, a autora ainda acrescenta que existem três razões para adaptar uma atividade para o tratamento de uma pessoa com deficiência. A primeira é modificar a atividade para torná-la terapêutica, quando, normalmente, ela não o seria. A segunda é graduar a dificuldade oferecida pela atividade ao longo de um contínuo terapêutico, para atingir os objetivos. Por fim, a terceira razão é permitir que uma pessoa com alguma deficiência realize uma atividade ou tarefa que seria incapaz de outro modo.

Portanto, é papel do terapeuta ocupacional, frente à criança com deficiência visual, promover, quando necessária, a adaptação de brinquedos e materiais, a fim de suprir algumas necessidades apresentadas pela criança como, por exemplo, a dificuldade em localizar, discriminar e reconhecer diferentes objetos.

Trombly (2005) comenta que o terapeuta ocupacional pode combinar as habilidades do paciente com as atividades que serão realizadas ou deseja realizar, selecionando, dessa forma, a atividade mais apropriada para a correção do problema, entre as disponíveis e as que interessam ao paciente.

No caso da criança com visão subnormal, a autora ressalta que as atividades devem incluir componentes que ofereçam a possibilidade de explorar diferentes tipos de texturas, noções de formas e tamanhos, obedecendo, para isso, a uma seqüência que parta do mais fácil para o mais difícil, ou seja, do mais comum e conhecido para o pequeno e menos comum. A textura deverá obedecer a uma graduação dos materiais ásperos e distintos para materiais lisos e similares. O paciente e o terapeuta também deverão estar envolvidos na experiência interativa de ensinoaprendizagem em que as características dos objetos são discutidas e identificadas.

Para Teixeira et al (2003), todas as adaptações deverão ser cuidadosamente planejadas para que sejam integradas à vida, pois a criança com deficiência visual não aprende de maneira incidental como a criança que enxerga. Necessita, portanto, de um ambiente de aprendizagem planejado e organizado para ampliar e enriquecer suas experiências de vida, obter informações e adquirir conhecimentos (Masini e Gasparetto, 2007. p. 89). Não há regras estabelecidas e rígidas, pois cada indivíduo possui sua própria história, patologia e capacidade interna de envolver-se no processo adaptativo. No entanto, ressalta-se que todo o processo e finalização da adaptação terão sucesso quando o indivíduo e a família puderem expressar satisfação quanto ao uso, desde que o equipamento esteja bem ajustado e a colocação e manuseio seja prático e fácil.

Uma das maneiras de acompanhar e favorecer o desenvolvimento da criança com visão subnormal é despertar seu interesse pela exploração segura do ambiente através da interação com as pessoas. Esta é uma tarefa gratificante, pois, no caminho das explorações, a atividade do brincar permite interagir de forma agradável com ela, apoiando o desenvolvimento de suas potencialidades, preparando-a para a vida adulta.

Para que os brinquedos realmente representem desafios para a criança, estes deverão estar adequados ao interesse, às necessidades e às capacidades dela, respeitando a etapa de desenvolvimento em que se encontra.

Proposta de jogos adaptados pela terapia ocupacional

Com base nos conceitos de adaptação, citados por Teixeira ET al (2003), como o somatório da capacidade criativa do terapeuta ocupacional com a praticidade e funcionalidade da adaptação proposta, com a finalidade de aceitação e utilização pelo paciente, foram confeccionados dois brinquedos específicos para crianças com visão subnormal, que contemplaram como aspectos:

– aumento de contraste;
– uso de cores fortes e;
– ampliação no tamanho de objetos para facilitar a percepção visual.

Além disso, foi considerado no projeto de adaptação a faixa etária estabelecida nesse estudo (2 a 4 anos) e os jogos mais conhecidos e disponíveis no mercado para essa idade.

Um dos jogos adaptados foi o de dominó com figuras de animais. O Dominó Animal, assim denominado, consta de 10 peças de madeira, medindo cada uma 10 x 5 centímetros, nas quais foram estampadas quatro figuras diferentes: peixe, pássaro, elefante e girafa. As peças de madeira foram pintadas na cor branca e as figuras estampadas, na cor preta – cores escolhidas devido ao alto padrão de contraste preto/ branco.

Este jogo favorece a aprendizagem de conceitos de direitaesquerda, percepção de figurafundo, noção de forma e tamanho, constância da forma, além de favorecer o desenvolvimento da coordenação motora fina e destreza, cruzamento da linha mediana, lateralidade, integração bilateral, controle motor e estimulação dos aspectos cognitivos (atenção, concentração, organização, memória, formação de conceitos, solução de problemas e raciocínio lógico).

Ainda com a finalidade de favorecer a discriminação de formas, pensou-se em um outro jogo chamado de Encaixando Formas, composto por uma base de madeira, com aproximadamente 40 centímetros de comprimento por 15 cm de largura, na qual são fixados 4 pinos fixos para favorecer o encaixe das formas e de peças emborrachadas
do tipo E.V.A. em quatro diferentes cores (vermelho, azul, amarelo e verde) e de diferentes formas: círculos, triângulos, quadrados e retângulos, com furos ao centro para serem encaixados na base de madeira. Os objetivos proporcionados por esse jogo visam à percepção da noção de forma, tamanho, cor e quantidade, sendo que cada forma terá mais de uma peça, além de favorecer o desenvolvimento da preensão, coordenação motora e noção de profundidade, através do alinhavo com o barbante da cor correspondente.

Além dos objetivos específicos de cada um, ambos permitem que a criança com visão subnormal desenvolva a atenção visual através da visão para perto, internalizando a percepção do objeto na sua bidimensão.

Em relação aos jogos propostos, observa-se que, mesmo sendo distintos no processo de adaptação, apresentam semelhantes objetivos, como o de favorecer a visão para perto. Porém, o terapeuta poderá dispor sua aplicação, desmembrando em várias etapas, como, por exemplo, as figuras do dominó, que poderão ser apresentadas separadamente em tamanho maior, de modo que a criança poderá desenhar o contorno da figura (passando o dedo sobre a figura) e pintar, associando a cor que corresponde à cor real do animal. Dessa maneira, ao jogar o dominó, terá integrado e reconhecida todas as imagens percebidas. Isto comprova o quanto o processo terapêutico ocupacional é dinâmico.

É imprescindível garantir o acesso da criança com visão subnormal a materiais e brinquedos que favoreçam a percepção multissensorial, ou seja, um brinquedo pode favorecer a percepção de vários sentidos (visão, tato, audição, etc) como uma forma efetiva de promover o desenvolvimento integral dessa criança.




Figura 1. Aplicação dos adesivos nas peças.





Figura 2. Jogo - Dominó animal finalizado.

Figura 3. Materiais utilizados na confecção do jogo.

Figura 4. Jogo encaixe das formas e alinhavo








Conclusão

A confecção dos jogos proposta para crianças com visão subnormal de 2 a 4anos, através da intervenção do terapeuta ocupacional, teve como propósito ressaltar a importância deste profissional ao favorecer o brincar da criança, de modo que esta possa utilizar da visão residual para explorar e reconhecer os objetos que a rodeiam, aprimorando sua visão para perto. Os modelos aqui apresentados, apesar de não terem sido planejados para um caso específico, servem como exemplos de brinquedos que podem ser adaptados para crianças com baixa visão. Por isso é fundamental que o terapeuta conheça a condição visual da criança a fim de buscar adequar a adaptação dos materiais, sem contudo esquecer, que a criança precisa sentir prazer em realizar a atividade (brincadeira) e estar motivada a “ver”, só assim poderá beneficiar-se das facilidades propostas.

Conclui-se então que, o terapeuta ocupacional, valendo-se da criatividade, ao procurar recursos em seu meio social para a construção e adaptação de materiais, poderá contribuir para o desenvolvimento da eficiência no uso da visão subnormal, de modo que a criança aprenderá a usar seus recursos pessoais, seu resíduo visual e os instrumentos de que poderá beneficiar-se para a eficiência dessa visão, numa situação de realização e vivência de atividades, de modo a tornar-se um agente em seu convívio social, em busca de sua realização pessoal.


*“Qualquer item, peça de equipamento ou sistema de produto, adquirido comercialmente sem modificação, modificado ou feito sob medida, utilizado para aumentar, manter ou melhorar a capacidade funcional do indivíduo com incapacidade.” (Lei pública americana de assistência relacionada com tecnologia para indivíduos com incapacidades, 1988. In: Lima SMPF; 2005).

Autoras: Margareth Pires da Motta, Lyhara Monteiro Marchiore e Joyce Horácio Pinto

REFERÊNCIAS
Bruno MMG. O desenvolvimento integral do portador de deficiência visual: da intervenção precoce a integração escolar. 2ª. ed. Campo Grande: Plus; 1993. 144p.
Bruno MMG. Deficiência visual: reflexão sobre a prática pedagógica. São Paulo: Laramara; 1997. 124p.
Cunha NHS. Brinquedo, desafio e descoberta: subsídios para utilização e confecção de brinquedos. Rio de Janeiro: FAE; 1998. 427p.
Lima SMPF. Terapia ocupacional em tecnologia assistiva. [mimeo]; 2005.
Martín MB, Bueno ST. Deficiência visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. São Paulo: Santos; 2003. 336p.
Masini EFS, Gasparetto MERF. Visão subnormal: um enfoque educacional. São Paulo: Vetor; 2007. 114p.
Ortega MPP. Linguagem e deficiência visual. In: Martín MB, Bueno ST. Deficiência visual: aspectos psicoevolutivos e educativos. São Paulo: Santos; 2003. 336p.
Teixeira E et al. Terapia ocupacional na reabilitação física. São Paulo: Roca; 2003. 571 p.
Trombly CA, Radomski MV. Terapia ocupacional para disfunções físicas. 5ª. ed. São Paulo: Santos; 2005. 1157p.
Veitzman S. criança com deficiência visual. In: Souza AMC. A criança especial: temas médicos, educativos e sociais. São Paulo: Roca; 2003. 378p.

O Mundo da Saúde São Paulo: 2008: abr/jun 32(2):139-145 139

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Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...