É nítido o quanto o nosso sistema sensorial é crucial para a nossa capacidade de nos mover, sentir e processar as informações. Com a integração sensorial (IS), todas as partes do nosso sistema nervoso trabalham juntas para que possamos passar por experiências e interagir de maneira eficiente com o ambiente em que vivemos. O que geralmente não fica claro são as mudanças sutis de comportamento e de habilidade que podem ocorrer quando uma parte do sistema não esta funcionando corretamente. Uma disfunção do sistema sensorial pode se manifestar por diversas formas: pode se apresentar como um distúrbio motor, de aprendizagem, social/emocional, de fala/linguagem ou de atenção. É claro que, quanto maior a disfunção, mais óbvios serão os problemas subsequentes.
Um bebê com distúrbio de integração sensorial pode não conseguir rolar ou ficar na posição sentado e sair dela. Esse bebê pode ser incapaz de levantar peso ou de transferir peso para ir em direção a um objeto ou agarrá-lo quando estiver levemente fora do alcance. Crianças com distúrbios de integração sensorial podem ser desorganizadas e incapazes de realizar prontamente uma nova tarefa. Também podem ter dificuldade no futuro em se relacionar e aprender na escola. Uma criança assim pode ser aquela que corre para baixo da carteira durante a aula de música, ficando longe de outras crianças. Talvez seja a "desajeitada" da aula de dança. Na aula de artes, ela pode não querer tocar nas tintas "nojentas e repugnantes". Ou pode se relacionar bem e ir bem na escola, mas é necessário muito esforço para que ela permaneça concentrada e no controle de uma dada situação.
Este esforço intenso pode resultar em uma desestruturação emocional com pouca ou nenhuma provocação. Uma criança assim pode resistir às mudanças em sua rotina ou não participar de novas atividades sem o apoio de um professor (ou pai) por perto. Ela conta com a estrutura, ou rotina, do seu dia-a-dia para se sentir sob controle. Embora as crianças geralmente adaptáveis, uma criança com um distúrbio de integração sensorial pode não conseguir se adaptar a situações estressantes.
Nas situações sociais, as crianças com distúrbio de integração sensorial podem esquivar-se e não participar. Essas crianças podem, entretanto, parecer hiperativas por estarem constantemente se mexendo e esbarrando nas coisas. Os pais delas geralmente têm desculpas para isso e criam um ambiente previsível que imaginam ser seguro e feliz para seus filhos naquele momento. Por exemplo, brincar com os amiguinhos sempre tem de ser em casa. Ou, em uma festa de aniversário (com uma abundância de estimulação), os pais costumas ficar no canto, para garantir que os filhos não reajam a uma situação com ira ou lágrimas. Em geral, os pais não têm consciência de que estão compensando as desabilidades dos filhos dessa forma. Eles podem inventar desculpas para os filhos ("ele está muito cansado", "ela não comeu direito", "ele está ficando doente").
Geralmente parece que essas crianças têm problemas de comportamento - e os distúrbios de integração sensorial podem levar a questões de comportamento -, mas os pais e os educadores precisam compreender que as causas da teimosia, da passividade ou da irritabilidade de uma criança podem ser psicológicas e/ou neurológicas. Infelizmente, crianças com distúrbio de IS costumas ser diagnosticadas erroneamente e rotuladas ofensivamente. É difícil diagnosticar um distúrbio inicialmente porque uma só pessoa não consegue captar todos os comportamentos sintomáticos da criança - muito menos agrupá-los de maneira compreensiva ou conclusiva. A criança que não consegue amarrar o tênis poderá também não coseguir andar de bicicleta ou ter dificuldade na escrita na sala de aula. Separadamente, esses sintomas não acrescentariam muito, mas juntos a história torna-se diferente. Além disso, embora os pediatras estejam começando a indicar um número crescente de bebê e crianças com distúrbio de integração sensorial para terapeuta especializados, geralmente não vemos essas crianças até que esses distúrbios sejam percebidos na pré-escola. Lá, as professoras podem perceber um problema, como pouca concentração, atraso de linguagem, ou incapacidade de acompanhar os colegas em um dado momento.
Os pais podem ficar muito frustrados ao tentar decifrar o comportamento de seu filho e ajudá-lo a modificá-lo. Ainda assim, a exasperação de um pai não é nada comparada a como essas crianças se sentem comprometidas. Por essa razão, é importante que avaliemos todas as fraquezas, gostos e desgostos que nossos filhos possam ter. Com certeza, todos nós temos nossas aversões e limitações, mas, quando essas aversões superam em muito o que gostamos de fazer e o que somos capazes - , então um problema sensorial pode ser a causa. Se uma criança exibe continuamente problemas sintomáticos, alguma forma de intervenção profissional pode ser necessária.
Se você suspeita que seu filho sofre de um distúrbio de integração sensorial, algumas avaliações podem ser feitas -e, subsequentemente, terapias introduzidas - por um terapeuta ocupacional especializado em integração sensorial. Pais, médicos e educadores devem ter em mente que, quanto mais cedo a intervenção for aplicada, mas positivamente a criança responderá à terapia. Quanto mais nova for a criança, mais maleável será o sistema nervoso dela.
Fonte: Coordenação Motora (Liddle)