22 de mar. de 2011

Propriocepção – Sentidos e Significados

Como terapeuta ocupacional e atuando na área de Integração Sensorial a propriocepção é algo naturalmente incluso na minha prática. E, de fato, penso que é no nosso corpo. Na nossa vida.



Como seria formatado nosso comportamento sem este sentido? De onde vem quando sinto o meu corpo, aquela sensação que só eu tenho, própria, única, mas continuamente mutável? Uma fotografia interna que só eu tiro. E aquela que eu tiro a partir do que o outro me fornece elementos para eu montá-la? São instantâneos que colaboram entre si com elementos internos, do próprio corpo, e com elementos externos do ambiente que irão constituir a percepção da unidade corporal.


Em analogia à esta construção, imaginem se estivéssemos montando uma peça, de teatro ou musical. Existe uma intenção primária de criação. A partir daí vão se constituindo os elementos necessários para se chegar ao propósito inicial. É preciso regular a habilidade do criador com os elementos da partitura, a partitura com os instrumentos, os instrumentos na orquestra. A parte com o todo, as partes entre si, o todo dentro com o todo fora.


Tempo, forma, intensidade e direção são as qualidades desta regulação. Como seria a peça sem direção? Como seria no nosso corpo ou, de que elementos precisamos para saber: do quanto precisamos colocar de intensidade para nos movimentar ou falar? Como iremos dosar regular e afinar a nossa própria percepção?


A fineza da construção da nossa partitura corporal está nos ajustes que serão feitos destes elementos, da regulação da produção, que se faz da interação do corpo em si e dos corpos inseridos neste grande corpo, a biosfera.


Espero que já tenha dado para pensar e brincar sobre a importância do sentido proprioceptivo. Ele é que nos dá a possibilidade de regular nossos movimentos, dar qualidade às nossas sensações e percepções corporais. Igualmente aos demais sentidos, como o da visão, audição, entre outros, este começa de algum lugar, são os receptores da propriocepção que estão nas articulações, nos tendões e fusos musculares. Eles são a porta de entrada. Eu gosto de lembrar isso, pois vejo o real e imaginário como instâncias da vida do ser humano. Podemos transcender a várias coisas, mas elas têm início em algo muito palpável, muito real, o nosso corpo. Existe um campo que sustenta tudo isso. E não compactuo com práticas que tentam excluir o corpo para uma melhor “consciência” do homem.


Em outras palavras: a quem este corpo pertence? Ou melhor, quem é este corpo? Quais histórias vêm sendo construídas desde sempre?

Continuando a nossa viagem. Como os demais sentidos, a propriocepção funciona em sistema integrado aos demais sistemas, nada isolado. Ele dá informação ao sistema vestibular, tátil, que se unem aos demais sistemas, e que colaboram entre si revelando informações do corpo, no sentido múltiplo: em que espaço estamos e como ocupamos, numa linha histórica de tempo e vivências recheadas de significados. Estamos falando de corpo, tônus muscular, ajuste postural, equilíbrio, sentido profundo, a superfície que nos dá contorno, percepção, emoção, vínculo, identidade, relação, comportamento, conexão. Essa linguagem é comum no ambiente da terapia ocupacional, e especificamente, de conhecimento da teoria e prática de Integração Sensorial, onde estou há alguns anos.


Na minha prática clínica e nas vivências com educadores valorizo a propriocepção como um condutor vital. Ao mesmo tempo em que nos permite entrar em espaços delicados dos corpos é também um guia para se chegar a um trabalho integrativo e de potência.


Para o educador, ou terapeuta entender como se processa a informação sensorial é necessário, a meu ver, que ele passe por vivências que colocam em evidência essa dinâmica.


Nas sessões com as crianças, aprendi na prática o que li na teoria, do quanto precisam de brincadeiras que ajudem a dar referência do corpo para a organização nas suas ocupações diárias: crianças com déficit de atenção, imaturidade nos ajustes posturais e habilidades motoras, defasagem na escrita, alteração na expressão oral e escrita, entre outras.


Sabemos que corpo é e produz identidade. Mas o caminho para se constituir tem algumas flores e pedras. Mas com rios que fluem como mapas que podemos aprender a navegar.Há muitas pessoas que se beneficiam de práticas terapêuticas que valorizam o uso de toques corporais e de materiais que vivificam a propriocepção. A Integração Sensorial é uma destas práticas com bom retorno na área da saúde e educação.



Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...