16 de jan. de 2012

Conversando com pais de filhos pequenos

Sou mãe de dois rapazes e meu filho caçula é autista. Foi diagnosticado aos 18 meses, como um caso clássico de autismo. Atualmente ele está com 19 anos, um adolescente, com tudo o que isso pode significar, para o melhor e para o pior.Minhas preocupações em relação a ele são, portanto, muito relacionadas às necessidades da vida de rapazes jovens: baladas, happy hour, inclusão no mercado de trabalho e, por que não, garotas!


Cada faixa etária tem seus próprios desafios e, a meu ver, a fase de maior desgaste e ansiedade é, de longe, aquela que vai do diagnóstico até os 5 ou 6 anos.


Para início de conversa temos que passar pelo choque da realidade de um filho especial. Esse processo é difícil, é mais ou menos longo, e sempre doloroso.


O próximo passo é partir para a ação. E aí começa uma corrida desesperada contra o tempo. É consenso que deve-se aproveitar essa janela de oportunidade, que vai até os 7 anos, aproximadamente. Para a maioria dos pais é um “agora ou nunca”. O que isso significa em termos de preocupação, de busca por intervenções, de avaliações sobre avaliações, de comparações com outras crianças, é espantoso.


É sobre isso que gostaria de falar. Assim como não podemos acelerar o desabrochar de uma flor, não podemos alterar o ritmo do desenvolvimento e amadurecimento de nossos filhos. Não quero dizer que não devemos investir em estimulação, em terapias, em intervenções variadas. Não é isso. Essas ações sempre devem ser efetuadas, independente da idade de nossos filhos. Estou me referindo ao sentimento de urgência, à pressa em tudo o que fazemos. A idéia é que, se não fizermos agora, não se fará mais tarde... ou, em outras palavras, as habilidades que não forem adquiridas agora não serão, jamais, adquiridas.


Bem, esse raciocínio não é correto. Tudo o que fizermos em prol do desenvolvimento de nossos filhos terá um resultado, maior ou menor, mas não será em vão. Habilidades podem ser desenvolvidas em qualquer idade, com a intervenção correta. Pode ser que o tempo seja maior para os resultados aparecerem. E daí? Isso não é uma corrida, estamos pensando em qualidadede vida. Algumas expectativas jamais se realizarão, é uma possibilidade, sem dúvida. Mas isso acontece tanto com filhos especiais, quanto com filhos neurotípicos. Faz parte das regras desse jogo que chamamos vida.


O que me parece, em certo sentido, cruel, é a dinâmica que costuma se estabelecer, de atividades numerosas, de cobranças infindáveis, de uma vida de obrigações e de metas a serem atingidas. Tudo em nome de uma suposta janela de oportunidade. Não podemos esquecer de que estamos lidando com crianças, especiais, que sejam, mas crianças. Não é saudável viver em função de metas que serão, ou não, atingidas futuramente. Perdemos o agora, o hoje, perdemos a oportunidade de vermos nossos filhos só como crianças, e brincar e curtir, pelo simples prazer de brincar!


Não estou querendo dizer que preocupações com terapias, estimulação, intervenções variadas, sejam erradas. Não, de forma alguma. O que estou querendo dizer é que a vida é mais que isso. Nossos filhos merecem mais, nossos filhos precisam de mais do que isso. Não são só nesses primeiros anos de vida que conseguiremos progressos. Durante a vida toda há crescimento, em múltiplas frentes.


Todos temos limitações, inclusive nossos filhos. Quem sabe até onde um filho chegará na vida? Qualquer filho? Nossa função de pais, entre outras, é prover condições para o pleno desenvolvimento de suas competências. E, entre essas condições, inclui-se em primeiro plano, viver... simplesmente desfrutar da delícia que é viver.

Por Haydée Freire Jacques

Fonte: Revista Autismo

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