Reflexão
para pais de crianças deficientes e autistas
Gostaria
de abordar um assunto, que causava muita ansiedade nas mães e pais de alunos
deficientes mentais que eu atendia – O que seus filhos seriam capazes de
aprender, se chegariam à alfabetização, e se poderiam exercer alguma atividade
profissional no futuro. O que observava era que os responsáveis, faziam um
enorme relato das limitações dos filhos, e esqueciam de ver suas
potencialidades.
Certo
dia, uma mãe se aproximou e começou seu relato, onde não restaria quase nada
que seu filho pudesse fazer. Ela estava angustiada e só enumerava as limitações
da criança deficiente. Deixei-a falar e depois olhando-a fixamente respondi –
Bem, eu já sei o que seu filho não pode fazer, agora quero saber o que ele sabe
fazer, que talento ele possui? Diante de seu silencio, pude perceber que ela
não estava atenta ou sequer imaginava que seu filho pudesse ter algum talento.
Depois
de muito pensar ela disse – “A única coisa que ele gosta de fazer e jogar
botão”. Perante a resposta da mãe respondi que íamos começar a estimular seu
cognitivo, a partir do que ele gostava de fazer, ou seja, através de uma
partida de botão, poderíamos desenvolver suas eficiências para
que estas suprissem suas deficiências.
Em
outra ocasião, uma mãe bastante preocupada, me disse que seu filho deficiente
mental ainda não havia se alfabetizado, e gostaria muito que ele fosse
engenheiro. Olhei-a e disse O que e mais importante para você, a felicidade de
seu filho ou ele conseguir ter uma profissão?`
Esses
relatos aconteceram há alguns anos atrás e o leitor, talvez pense que esta
situação hoje em dia seja diferente. Ledo engano. Em uma conversa com pessoas
próximas, pude perceber que infelizmente para alguns pais, o importante não e
ser feliz, e sim ter uma profissão formalmente reconhecida pela sociedade.
Existe
um casal, que tem uma filha que nasceu com um problema em uma área do cérebro,
e necessitava de uma cirurgia. Esta criança, que encontrei em uma festa de
aniversario (quando tinha feito a primeira inserção cirúrgica), apresentava
ensejos de socialização, tentando se aproximar das outras crianças, mas parecia
segundo minha observação informal, ter alguma dificuldade para se inserir ao
grupo. Passado algum tempo, foi submetida à segunda cirurgia bem delicada, que
consistia em inserir no cérebro uma válvula. A operação foi realizada com
sucesso. A partir daí, soube que os pais alem da escola regular, ainda
contrataram um professor particular para que ela conseguisse acompanhar a
turma. Esta situação causou um estresse tão grande na menina, que ela começou a
apresentar um quadro caracterizado por crises convulsivas e vômitos.
Volto a
questão primordial – O que os pais de filhos deficientes não devem preferir
filhos felizes aceitos em suas limitações e sendo estimulados em suas
deficiências, ou adultos frustrados tentando alcançar metas as vezes
impossíveis para eles? Espero sinceramente que escolham a segunda opção.
Fonte:
Muito Especial | Maria da Salete Ferreira Dias