10 de fev. de 2017

Integração Sensorial e Autismo



Com o enorme número de casos de autismo diagnosticados a cada dia que se passa, cresce a preocupação em entender melhor esse quadro e encontrar novas formas de auxiliar as pessoas que estão no espectro do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Desde o início de suas pesquisas sobre integração sensorial foi evidente para a Dra. Jean Ayres que a integração sensorial poderia ser uma boa ferramenta no tratamento das crianças com autismo, já que a grande maioria deles apresenta distúrbios no processamento sensorial.

         Existem vários estudos que mencionam a presença de dificuldades sensoriais nas pessoas com TEA; as porcentagens encontradas variam de 30% em um estudo, até 100% em outros. Os terapeutas que trabalham com crianças do espectro autista sabem que a presença de dificuldades sensoriais é um fator importante no comportamento de muitas crianças com TEA. Esse reconhecimento aumentou o interesse em usar essa abordagem como parte do tratamento de crianças diagnosticadas com autismo. (Schaaf, R and Mailloux, Z, 2015).

         O foco da terapia com abordagem de integração sensorial no TEA é melhorar o processamento sensorial com objetivo de:

  • Aumentar a participação nas atividades diárias e, consequentemente, a participação social;
  • Ampliar o repertório de brincadeiras e diminuição de comportamentos repetitivos e /ou estereotipados.
  • Diminuir o desconforto da pessoa em situações em que o processamento sensorial atípico cause uma desregulação.

        Greenspan: " Por 60 anos os tratamentos para os transtornos do espectro autista focalizaram nos sintomas diagnósticos ao invés dos problemas subjacentes. Como resultado, os objetivos para cada criança frequentemente limitaram-se a mudanças em comportamento, tornando o prognóstico a longo prazo muito pessimista".  

Quando se usa uma abordagem de integração sensorial no tratamento de uma pessoa com autismo, tenta-se entender em profundidade como é o processamento sensorial dessa pessoa e de que forma ele afeta os comportamentos apresentados. Por muito tempo a terapia de integração sensorial no autismo focou na modulação sensorial, provavelmente porque são os sintomas mais evidentes e os que causam grande desregulação. Assim, sabe-se que uma pessoa que bate a cabeça no chão provavelmente está em uma sobrecarga sensorial e está tentando se regular. Ao cobrir os ouvidos em um ambiente barulhento está mostrando que sua audição, mais sensível, está sofrendo com estímulos que são maiores do que seu sistema nervoso pode tolerar.

 A modulação sensorial da pessoa com TEA se faz de uma forma diferente de pessoas que apresentam somente um distúrbio de integração sensorial, sem outras comorbidades. Os padrões de processamento tendem a ser mais extremos e fatores de hiper e hipo processamento coexistem. Existe uma tendência por exemplo, de uma hipersensibilidade auditiva, que coexiste com um visual muito forte. Ao mesmo tempo, pode haver um limiar muito alto para tato ou gustação. Não é incomum vermos crianças que comem cebola ou alho cru, ou que têm uma gustação tão aguçada que consegue diferenciar se foi a mãe ou a avó que temperou o feijão. Essa percepção gustativa pode fazer com que a criança se torne excessivamente seletiva em relação ao que come, procurando sempre a mesma marca, ficando muito rígida em relação a alimentação. Todos esses fatores são causas de um maior isolamento social e de dificuldades para a família.

Atualmente sabemos que, além dos problemas de modulação, que foram o maior foco até recentemente, a dificuldade nas praxias também impacta o desenvolvimento da pessoa com TEA. Muitas vezes a mesmice nas brincadeiras é causada por uma dificuldade de saber o que fazer com as coisas, o que chamamos de falta de ideação. A criança aprende que uma brincadeira funciona e repete sempre a mesma, não aceitando variações. Ou não consegue planejar como jogar uma bola ou como antecipar para pegá-la e se desinteressa da brincadeira. A dispraxia é um fator muito limitante ao aumento de repertório de brincadeiras. Muitas vezes a criança com dispraxia parece ter uma integração sensorial adequada porém, o mau processamento do sistema vestibular, tátil e proprioceptivo, fazem com que a praxia seja pobre.

A terapia de integração sensorial bem aplicada, por um profissional com treinamento específico nessa área, pode ser combinada com outras abordagens e contribuir muito para um desenvolvimento mais  amplo.

Texto de Heloiza Goodrich

Porque é que a Terapia Ocupacional é importante para as crianças com autismo?

Neste artigo a terapeuta ocupacional Corinna Laurie, que exerce funções em contexto escolar e é diretora da “ Evolve Children’s Therapy...